O ESPELHO DO ESPELHO
Maria Luiza Malina
Sim, o espelho. Quantas vezes sorri, chorei, apenas me olhei, e
confesso, “já me mostrei a língua” — que feia! Feia? O que é isso…
É assim mesmo. Cuide-se apenas. Quem sabe o bom e antigo creme Nívea
disfarce a idade. Na verdade, a idade física não é a mesma da idade
mental em que me encontro, e talvez aqui tenha estacionado. Ops! Preciso pagar
o estacionamento, onde será que enfiei o ticket? Bem, voltando ao assunto, sou
jovem. Na verdade, sou jovem, jovem e jovem. Pronto. Chega de tabus. Até mesmo
falar ficou difícil. Algumas palavras censuradas que inclusive levaram pessoas
a um gasto financeiro inesperado por injúria, músicas ou poemas que as
continham proibidas, ou sei lá mais o quê, e depois estas mesmas palavras
retornam ao sentido puro, anterior contido no dicionário Aurélio, como se nada
tivesse acontecido.
Há nesta época de 2023 um espelho convexo disforme atingindo todos os
setores, diria eu, de vigilância desde o nascimento até a morte. O certo de
ontem não é mais certo hoje, o
hoje logo retorna ao ontem, com tamanha imbecilidade de não ter nada a se
fazer, tentando acompanhar um desenvolvimento mundial de experiências já
falidas, julgando isto ser o certo refletido no tal espelho.
Quero falar. Não posso me expressar sem colocar os pronomes no lugar
correto, ou no correto lugar. Cadê o espelho? Afinal existe este termo “o filho
é o espelho do pai”.
Consegui. Bom, num tempo em que a mentira se torna realidade,
pergunta-se ou, se pergunta: — O que é real – o “fake” palavra americanizada,
chique, a mais falada para expressar mentira, é a moda “quente” como se diria
nos anos sessenta, setenta… Ah, bons idos anos em que a gíria para feio era
“canhão” e o rapaz bem-apanhado “é uma brasa, mora”.
Sei que estou fora da atualidade com os “retratos” momentos de precisão
celular registrando tudo, fácil, fácil sem ter que mandar revelar um rolo de
filme de 12, 24 ou 36 fotos. Imagine só, 36 fotos, era o máximo — ter nas mãos
as fotos reveladas depois de uma semana… Mas, a felicidade estava arquivada
nos velhos álbuns, e hoje nas “nuvens”; tudo isto me confunde com o “ensacar o
vento”. Será que tudo isto é verdade?
Cadê o velho espelho, quero me ver desabrochar no velho espelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário