OS QUATRO AMIGOS
Antonia
Marchesin Gonçalves
Quem
via aqueles quatro amigos em torno da mesa do bar na Vila Madalena, não tinha
ideia da dimensão da amizade que havia entre eles.
João,
Antonio, Vera e Mauricio cresceram no mesmo bairro e na mesma rua. Pequenos, no
tempo em que brincar na rua era seguro e saudável, eram eles que mais
aproveitavam e divertiam-se. A afinidade entre eles era total.
Através
deles as mães se conheceram e se tornaram amigas. Comentavam entre elas que se
fossem irmãos, possivelmente, não seriam tão amigos.
Tinha
sempre uma delas que controlava o grupo para não se machucarem ou para apartar
as brigas, que também ocorriam.
Com o
passar dos anos, o bairro já não era o mesmo, e os moradores foram se mudando,
as ruas e habitações já não acolhiam as mesmas pessoas. No entanto, aquelas quatro famílias optaram por continuar
no mesmo bairro, nos mesmos lugares, e com isso os quatro continuaram a se
encontrar pelo menos uma vez por semana. Na adolescência foram os bailinhos que
frequentavam juntos, depois a primeiras paixões, as primeiras confidências,
afinal tinham sempre um ombro amigo de um para outro.
João
se tornou advogado, Antonio engenheiro, Vera psicóloga e Mauricio médico. Vera
como psicóloga mantinha o equilíbrio do grupo, sempre dizia: “Ser feliz é uma responsabilidade muito
grande. Pouca gente tem coragem” citando Clarice Lispector. Antonio
engenheiro era mais pragmático rebatia dizendo “Todos temos a guerra dentro de nós. Às vezes ela nos mantém vivos.
Outras vezes ela ameaça nos destruir”, frase do Insurgentes.
Na discussão, entre uma cerveja
e outra, iam filosofando, mostrando as diferenças de opiniões e todos queriam
demonstrar sabedoria, quando João disse “O
fato de o mar está calmo na superfície não significa que algo não esteja
acontecendo”, frase do livro O mundo de Sofia. Os amigos tinham o amor pela
leitura e nesses encontros faziam questão de fazer citações, com esses
encontros demonstravam que havia entre eles o mesmo amor desde a infância.
Maurício sempre foi o mais reservado, isso não o impedia de participar da
discussão e como médico dizia que assistia a muitas surpresas sobre o ser
humano e citou “As pessoas são capazes de
ir muito mais longe por causa daquilo que temem do que por causa daquilo que
desejam “do livro Código da Vinci.
E assim continuavam horas a fio, rindo, saboreando a amizade, e abraçados iam embora já marcando o encontro da próxima semana.