UM MERGULHADOR OBSTINADO - Antonia Marchesin Gonçalves

 


UM MERGULHADOR OBSTINADO

Antonia Marchesin Gonçalves

 

A possibilidade de descoberta de raríssimos tesouros levou meu amigo Rafael a se tornar mergulhador profissional, não um mergulhador comum, mas um especialista em antigas embarcações.  Para ele não foi complicado, ele sempre nadou com perfeição. Na praia não tinha medo do mar, aliás, o mar o encantava, mesmo com chuva, nada o impedia de surfar, esporte de sua adolescência.

Ao entrar na faculdade optou pela Engenharia Naval se formando com louvor. Foi trabalhar em um navio de grande porte sendo misto, passageiros turistas e carga.  

Numa dessas viagens, ao atracar na Grécia, viu uma embarcação singular que lhe chamou a atenção. Não, não era de pesca, era um navio de médio porte sendo carregado com diferentes objetos e equipamentos, que lhe indicava ser de exploração submarina.

Aquilo o atraiu deveras,  logo se aproximou fazendo perguntas. Era mesmo um navio explorador especializado em localizar embarcações naufragadas. Ali estavam cientistas, biólogos, fotógrafos subaquáticos, e mergulhadores profissionais. Não teve dúvidas, ofereceu-se para qualquer serviço, precisava ser no projeto,  tamanha empolgação que sentiu. Estava a equipe com falta de um mergulhador de grande profundidade, a sorte estava ao seu lado. Foi aceito na entrevista com o comandante. Teve tempo só de transferir sua bagagem e pedir demissão. Emocionado como uma criança, embarcou numa nova aventura.

Eram todos profissionais em caça de tesouros e naufrágios, tinham fama e dinheiro, sem compromisso com nenhuma bandeira. Eram autônomos, mas o empresário responsável pela expedição, era um explorador inglês, homem muito rico, o melhor nessa área.

Zarparam todos, sendo ele instalado em uma cabine com mais três companheiros. Ao chegarem ao alto mar, todos foram convocados ao convés para iniciarem os trabalhos, ele como novato não foi escalado para mergulhar e sim para ajudar os outros no manuseio dos equipamentos a bordo. Mas, Rafael era muito curioso, e após dois dias já tinha dominado o sistema de limpeza,  o sistema de segurança de oxigênio dos respiradores, e zelava pelo tempo máximo de permanência no fundo.

Impaciente foi falar com o comandante, a resposta foi um não, dizendo que ele não iria arriscar com um novato de primeira viagem, teria que ter paciência, sua vez chegaria. 

Mas, a equipe não estava com sorte, nada de localizar destroços ou qualquer indício de destroços. O custo era alto para essa atividade. Foi aí que Rafael não se conteve.  Ele acordou mais cedo no dia seguinte, em silêncio foi ao convés, preparou todo o equipamento, e decidiu que desceria sozinho, sabia do risco, mas assim mesmo foi. Pulou logo depois de ter lançado uma âncora com corda para se nortear. Foi descendo maravilhado com a paz da vida marinha que seguia seu rumo, vegetação bailando com o movimento da água provocando encanto no mergulhador.  Foi se afastando sem perceber a hora passar, notou que o oxigênio estava chegando ao limite, teria que voltar. Foi quando percebeu ter se afastado da corda, pois não a via mais. Arriscou ir para a sua direita e aos poucos foi enxergando o que a expedição procurava, a nave naufragada já coberta por algas servindo de refúgio para alguns peixes, parecia ainda em bom estado. Sabia que não teria condições nem de chegar perto, corria o risco de falta total de oxigênio.

Voltou para a sua esquerda, não posso entrar em pânico, parou, olhou em volta e decidiu seguir seu instinto. Tentando fazer o mínimo de esforço para poupar o oxigênio foi seguindo devagar, até perceber um cardume grande de pequenos peixes,  e mais adiante um grupo de golfinhos, resolveu segui-los, sabia que eram espertos e aproveitavam as embarcações para se alimentar dos dejetos que eram jogados pela tripulação. Foi a sua salvação! Logo avistou a corda e conseguiu emergir.

Quando na superfície, toda a tripulação estava no convés, ansiosos o ajudaram. O comandante o recebeu aos berros, desconsiderando-o com palavras grosseiras.

Rafael respirou fundo, tinha uma grande revelação a fazer,  e aí sim contou ter localizado uma embarcação naufragada.

Nem preciso dizer que o contrataram e ele passou a integrar definitivamente a tripulação, principal, inclusive como engenheiro naval, ganhando bons bônus a cada descoberta.


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