OS PRIMEIROS CARNAVAIS A GENTE NUNCA ESQUECE - Ledice Pereira

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OS PRIMEIROS CARNAVAIS A GENTE NUNCA ESQUECE
Ledice Pereira

Enquanto as baterias das Escolas de Samba explodiam num batuque empolgante, Stella lembrava, nostálgica, dos bailes de Carnaval no prédio do Banco do Brasil, no centro de São Paulo.

Fechava os olhos e podia vislumbrar cada centímetro daquele lugar que, durante tantos anos, foi palco de sua atuação. A mãe caprichava na fantasia e ela se acabava no salão, ao som daquelas marchinhas que tão bem conhecia: Mamãe eu quero, A cabeleira do Zezé, Oh Jardineira, As águas vão rolar...

Quando acabava o carnaval continuava cantarolando, no ritmo do balanço do fundo do quintal. Os adultos diziam que não podia cantar mais. Era quaresma! Mas as músicas não lhe saíam da cabeça.

Como num filme, iam também desfilando em sua mente, os tantos bailes carnavalescos que fizeram parte de sua adolescência e juventude. Ali, naquele cenário, vivia seu dia de bailarina, de havaiana, de holandesa, de princesa à procura de seu príncipe encantado, embalada pelo som mágico da orquestra que, animada, tocava sem parar. Lembrava, como se fosse hoje, da tristeza que invadia aqueles foliões,  quando soavam os últimos acordes: param param param param pam param param pam.

Voltavam para casa suados e cansados, mas felizes. Prontos para o dia seguinte;
“Ai que saudade que eu sinto
dos bailes da minha infância
que os tempos não trazem mais.”

Embora a tela da TV registrasse a alegria do desfile de Carnaval, Stella, de olhos fechados e úmidos, tentava conter a emoção, aflorada pelo ritmo cadenciado, que se confundia com as batidas descompassadas do seu coração. 



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