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O casamento de Maria Benedita de Toledo Randon - Ises de Almeida Abrahamsohn

 




O casamento de Maria Benedita de Toledo Randon

Ises de Almeida Abrahamsohn

 

adaptado do texto de Paulo Rezutti no Blog:
https://saopaulopassado.wordpress.com/2015/07/25/o-casamento-frustrado-da-filha-do-general-arouche/

 

 

Corria o ano de 1830. Maria Benedita era filha adotiva do general José Arouche de Toledo Rendon. O general a havia adotado ainda menina, fruto de um romance antes do seu casamento com a esposa Maria Tereza, que não se opôs à adoção. Maria Benedita fora muito bem-educada, falava francês e tocava piano e se dedicava ao estudo de botânica. E tinha um bom dote do rico pai adotivo. Porém, aos 42 anos, permanecia solteira. Não há relatos de que fosse muito feia ou desajeitada que justificassem a solteirice. Talvez fosse de temperamento voluntarioso ou inteligente demais para atrair os pretendentes da época.

Porém, eis que apareceu na chácara e solar do general o Dr. Prudêncio Giraldes Tavares da Veiga Cabral, brasileiro, formado em direito em Coimbra. Tinha sido nomeado recentemente, aos 29 anos, lente Catedrático do Curso Jurídico da Academia de Direito, que originaria a Faculdade de Direito no largo de São Francisco.

Era um sujeito alto, magro, de aspecto austero que, diferente dos seus conterrâneos da época, trazia o rosto completamente barbeado, ou escanhoado, como se dizia. Vestia-se sobriamente. Não era estimado pelos alunos de sua cátedra, uma vez que dava poucas explicações em aula e exigia muitas leituras para o aprendizado. Reforçava que se aprendia lendo e estudando e não repetindo o conteúdo das aulas. Gostava de ser tratado como Excelência ou “plecaro mestre”.
A sua peculiaridade era que se declarava sempre nas conversas e aos alunos como totalmente avesso ao casamento. E desfiava uma série de razões. Não que fosse assexuado, uma vez que tivera algumas amantes e dois filhos naturais.
Encontrou-se com Maria Benedita na primeira visita que fez ao solar do General Arouche Rendon.

 Algo o atraiu a Maria Benedita. O que teria sido?
Sua formação e capacidade de conversar sobre assuntos variados?  A gentileza?  As melodias que tocava ao piano? A virgindade será possivelmente mantida até os 42 anos? Ou mais prosaicamente, o desejo de estabelecer família com uma parceira de família tão rica e importante como a do General Arouche Rendon, proprietária de tantas terras valiosas centrais em São Paulo?
O casamento aconteceu em 22 de dezembro de 1830. E na noite de núpcias mesmo, um dos dois sumiu da residência onde passariam a lua de mel. Os relatos e fofocas da época divergem.

Alguns dizem que foi o noivo que caiu em si e começou a gritar: 

“Cabral, Cabral, que fizeste Cabral? Ficaste louco, Cabral? Cabral, tu te casaste?”

Saltou pela janela para não mais voltar, segundo algumas versões.

Outros dizem que a noiva, pensando que o marido havia enlouquecido, fugiu da casa e refugiou-se na casa do pai.

O casamento nunca chegou a ser consumado.

Onze meses depois, novembro de 1831, a pedido de Maria Benedita ao vaticano, o casamento foi declarado inválido, pois não foi consumado.

Segundo comentários da época, quando o general faleceu, o Dr. Prudêncio Cabral se apresentou como possível herdeiro dos bens, mas não teve sucesso. A ex-quase-mulher o rechaçou. O advogado argumentou que, na noite de núpcias, teria exercido plenamente o seu papel de varão. Queria que a moça se submetesse a um exame de virgindade. O que ela recusou. Dizem as más línguas, que afinal ela concordou em passar-lhe parte da herança. Maria Benedita morreu rica e solteira.

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