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As Meninas da Casa Verde - Silvia Maria Villac Vicente de Carvalho

 



As Meninas da Casa Verde

Silvia Maria Villac Vicente de Carvalho

 

Caitana era a primogênita das sete irmãs e, de todas, a mais bonita, com cabelos loiros, olhos azuis e tez bem clara. Tinha puxado a avó paterna, todos diziam.

Havia tido dois pretendentes, mas preferiu não se casar porque se sentia responsável pela educação de suas irmãs, uma vez que a mãe faleceu logo após a caçulinha, Rudesinda, completar 6 meses de vida.

De fato, Caitana tinha ascendência sobre suas irmãs e, apesar de amorosa, era disciplinada e sistemática. Sempre era sua a palavra final. Só a pequena, raspa de tacho, é quem conseguia dobrá-la e arrancar-lhe certas regalias.

Todas se davam muito bem e, quando chegava o fim de semana, deixavam para trás a Casa Verde, como era conhecida a mansão onde moravam por ser predominantemente verde, e lá iam elas para a Chácara do irmão mais velho, Tenente General José Arouche de Toledo Rendon.

O ritual era sempre o mesmo: Caitana corria para ver se as carruagens já estavam prontas. Em seguida, dirigia-se à cozinha para se certificar de que havia comida suficiente no farnel, pois uma das meninas podia ter fome no caminho. Depois, subia as escadas correndo para ajudar as irmãs com suas vestimentas: auxiliava uma a apertar o espartilho, outra a colocar as meias, uma terceira a pôr o vestido e sempre tinha que lembrar Joaquina de não esquecer de pegar o chapéu.

A pequena Rudesinda era a que menos dava trabalho – na véspera ela já deixava toda sua roupa separada - e, em 5 minutos, a criança estava pronta.

A casa do tenente era lindíssima, projetada por um famoso arquiteto que havia estudado em Milão e tinha sido construída de frente para um lago convidativo, onde as irmãs se divertiam muito e nem notavam as horas passarem.

Caitana e a caçula da turma apreciavam mais a equitação e, de fato, pareciam duas amazonas natas, com um porte muito elegante, montadas naqueles cavalos de raça.

Elas gostavam muito de ir para a chácara e, de fato, houve uma época, inclusive, em que a mãe delas e Caitana passavam longa temporada com o “mano Zé”, como elas se referiam ao irmão quando ele não estava por perto. Numa dessas longas estadias na chácara, Rudesinda nasceu, e as outras ficaram na Casa Verde aos cuidados da tia Carlota, irmã da mãe.

Nesse ínterim, com o início da Revolução Industrial, o pai decidiu partir para o Rio de Janeiro porque queria modernizar sua fábrica. Assim ele dizia.   No entanto, nunca mais tiveram notícias sobre seu paradeiro. Corria solto que tinha constituído nova família.

Ao regressarem, todas notaram que a mãe já não era mais a mesma. Antes alegre e sempre cantarolando pela Casa Verde, agora vivia cabisbaixa e passava a maioria do tempo em seus aposentos. Acabou morrendo de depressão.

Um dia, o Dr. Raimundo, médico da família, foi chamado porque três das meninas estavam tossindo muito e tinham febre altíssima, e o diagnóstico foi tuberculose. Tiveram pouco tempo de vida.

Passados cinco anos, outras duas faleceram de febre-amarela. Restaram apenas a primogênita e a caçula.  

Já adulta, Rudesinda resolve abrir-se com Caitana e contar-lhe um segredo que vinha lhe atormentando já há algum tempo. Ela conheceu um rapaz na corte por quem se apaixonou e se entregou. Acreditava que estava grávida. Quando deu a notícia a ele, respondeu que era casado e que jamais assumiria o bebê.

 A notícia caiu como uma bomba para a mãe, que viu sua história se repetir com a própria filha. Que ironia! Ela respirou fundo, pediu para se sentarem no jardim e começou a narrar o que lhe acontecera 26 anos atrás, confortando e assegurando à Rudesinda que agiria da mesma forma que sua mãe.

Infelizmente, mãe e bebê faleceram no parto. Caitana restou como a única sobrevivente das 7 irmãs da Casa Verde.

 

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