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O PREFEITO HONESTO - Antonia Marchesin Gonçalves





O PREFEITO HONESTO
Antonia Marchesin Gonçalves


                   Meu nome Luis e fui por pouco tempo prefeito da cidade de Cafelândia no interior de São Paulo, cidade pequena, mas nos últimos anos com problemas sérios de assaltos e roubos de moradias. Muitos cidadãos, que trabalharam na capital e lá se aposentaram, voltaram para a cidade reformando as casas da família ou construindo novas, todas muito bonitas e grandes. A campanha para prefeito foi exaustiva, sendo que éramos três candidatos. A minha campanha foi baseada na segurança da cidade que eu chamei de “tolerância zero”, e  quando soube que eu havia sido eleito, houve um misto de alegria, surpresa e medo, tinha consciência da bomba que tinha que ser desativada.

                   Antes de tomar posse fui fazer uma investigação na cidade de quantos assaltos aconteciam no ano, fui à periferia,  da parte mais pobre à mais nobre, e descobri que quase todas as casas, mesmo as mais simples tinham sido assaltadas, com bandidos armados.   E o mais agravante era a droga que dominava grande parte dos jovens. Ao fazer o levantamento do efetivo policial sofri a maior decepção, eram apenas dois carros em condições, outros dois quebrados e abandonados, seis policiais em rodízio de plantão, uma telefonista só de dia e uma secretária. Em que furada fui me meter, pensei.

                   Agora é trabalhar! Reuni todos fiz um relatório onde disse que esperava a colaboração para pôr em prática a limpeza da bandidagem da cidade. Interessante foi eu ouvir a piada de um policial que devíamos começar pela Câmara de Vereadores, pois era sabido que alguns tinham ligação com o tráfico de drogas e outros recebiam propinas para que fossem aprovados os projetos escusos, inclusive o antigo prefeito. A campanha foi feita para a segurança dos cidadãos, resolvi focar nisso, sendo que a maioria das casas levantaram altos muros, com arame farpado em volta e algumas até câmeras, quando anos atrás as portas nem precisam ser trancadas. 

                   Comecei mandando as prioridades para que  a Câmara aprovasse, principalmente salários que estavam defasados e equipamentos mais modernos de investigação. Não foi nada fácil, tive que esperar entrar em pauta, e com isso eu me via tolhido de tomar as devidas providencias. Chegando cedo na Prefeitura comecei a receber as reivindicações de muitos eleitores para seus interesses pessoais. Eu sabia que o outro prefeito ficou rico por receber propinas, mas não imaginei o quanto. A cidade era pequena, todos se conheciam, fica mais difícil ter que tomar decisões contra esse tipo de desonestidade. Sou honesto por educação familiar e jamais aceitaria propinas para facilitar a vida de uns e outros, não iria contra a minha convicção e minha proposta de campanha.

          À medida que os meses passavam via que não conseguia levar adiante minha proposta, tendo tantas barreiras para vencer. Senti que a confiança que eles depositaram em mim foi caindo e quase ao término do primeiro ano, não conseguira o meu intento e ainda criei muitas inimizades, tornando a situação bem complicada. Assim tomei a decisão de renunciar do cargo, pedindo desculpas aos meus eleitores, mas não enxergava outra solução, jamais sujaria a minha reputação em troca de benesses a corruptos. Prometi a mim mesmo que nunca mais concorreria à cargos públicos.   

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