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QUE MEDO! - Ledice Pereira




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QUE MEDO!
Ledice Pereira


Viver agarrado à saia da mãe era um hábito na vidinha de Felipinho. O menino tinha medo de tudo, de inseto, gato, cachorro, até da própria sombra.

A mãe vivia recomendando “cuidado”.

Era cuidado pra não cair, cuidado pra não se queimar, cuidado pra não ficar resfriado, enfim...

O garoto não dormia na casa de amigos, nem participava de passeios da escola, principalmente se fossem para acampamentos.

Os colegas, percebendo, resolveram dar um susto no medroso, colocando uma aranha caranguejeira de mentira dentro de sua lancheira. Era uma réplica perfeita.

Na hora do recreio ficaram todos de tocaia, só observando.

O garoto sentou-se sozinho, como costumava e, ao abrir a lancheira deu de cara com aquele bicho cabeludo.

O  grito soou ardido e pode ser ouvido na sala do diretor,   que voou para o pátio.

Encontrou o menino aos prantos. O lanche esparramado, a lancheira jogada longe e o objeto causador ali próximo.

Os culpados fingiam não ter ideia do que estava acontecendo. Com cara de pastel, exibiam um risinho maroto, o que não passou despercebido pelo sábio diretor.

Um a um, todos foram chamados na diretoria, negando, veementemente, qualquer participação.

Felipinho, depois de se acalmar também foi chamado. Percebeu que havia sido vítima daquela armação, provocada por sua atitude ridícula. Afinal, já estava com dez para onze anos e tinha que acabar com aquela infantilidade.

A mãe, convocada para uma reunião, convenceu-se de que estava criando um covarde, impedindo-o de crescer, ser feliz, e vencer seus medos.

Felipinho passou a enfrentar os fantasmas, que antes lhe apavoravam, com coragem. Pediu à mãe para ter um cachorro. Entrou numa academia de Judô e se sentiu mais preparado para vencer seus medos.  Passou a frequentar as festinhas, a princípio timidamente, até sentir-se mais à vontade entre os colegas. Estes, por sua vez, de um lado, tentavam reparar a maldade feita, chamando o colega para participar de todas as atividades, de outro, percebiam que, bem ou mal,  tinham contribuído para a integração do garoto ao ambiente escolar.

Naquele caso, o bulliyng tinha tido um efeito positivo.

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