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COMEMORAÇÃO A BORDO - Ledice Pereira





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COMEMORAÇÃO A BORDO
Ledice Pereira


Aquela não era uma viagem qualquer. Há muito tempo, vinham programando, elaborando, pensando em todos os detalhes. Afinal, o grupo comemorava a tão sonhada formatura.

Depois dos cinco longos anos de muita dedicação e afinco, chegava o grande dia em que partiriam para desfrutar dos prazeres de um Cruzeiro. Apenas alguns não aderiram. A maioria estava ali. A opção por viajar, ao invés de fazer uma festa de formatura, ganhou adesão de mais da metade da turma.

Partiriam de Santos, viajando em alto mar durante a noite e dia seguinte até atracar em Punta del Leste, com visita à cidade prevista para o período entre meio dia e 19:00h do terceiro dia. Dali, seguiriam para Buenos Aires, onde permaneceriam por dois dias  e, então rumo a Montevidéu, de onde retornariam ao Porto de Santos.

Os jovens, eufóricos, acenam para os que ficavam no Porto.

Ali, entre apreensivos e desejosos de que tudo corra bem, pais, namorados, avós, amigos hesitam em deixar o local.

A buzina anuncia a partida. Milhares de mãos se misturam no abano da despedida. Logo adiante, os fogos estalam daqui e dali numa conversa animada entre os que ficam e os que partem. Tudo é festa!

A vista da orla iluminada os hipnotiza. Avistam nos prédios inclinados, braços que acenam. No céu, a lua acompanha a partida, cercada de estrelas brilhantes que iluminam o caminho. Paisagem única.

Aos poucos, os grupos começam a se dispersar em direção às suas cabines, avisados de que lá encontrarão suas bagagens.

Juliane, entretanto, após vencer os andares que a separavam de seus aposentos, onde ficaria com Claudete e Rafaela, em vão, procurou sua malinha vermelha, que acabara de adquirir e que tinha enfeitado com tantas fitinhas do Senhor do Bonfim, quantas encontrou em sua gaveta.

A jovem sonhadora estava num entusiasmo só. Era a primeira vez que fazia um Cruzeiro e mal podia acreditar que estava vivendo essa emoção. O extravio da bagagem seria mais um episódio para contar aos pais e irmãos quando voltasse. 

Claudete e Rafaela começavam a desfazer as mochilas e malas enquanto Juliane, através do celular, tentava resolver aquele impasse.

Foi aconselhada a descer ao setor de bagagens. Foi o que fez. Chegando lá, encontrou sua vermelhinha tão só, tendo ao lado apenas uma samsonite verde. Ali também, Nilton, um belo rapaz, buscava sua mala extraviada. Apresentaram-se, riram da situação e cada um pegou a sua, dirigindo-se ao elevador. Outra coincidência, estavam no mesmo andar. Ele contou que estava acompanhado de dois amigos. Despediram-se, combinando de se encontrarem no jantar.

Juliane, que era muito romântica, começou a fazer conjecturas. Aquilo parecia ser um sinal. “Será que achei minha cara metade?”  Estava entusiasmada. Não conseguia esquecer o rapaz. Aquele olhar penetrante não lhe saía da cabeça.

Pelo visto, ele também ficara impressionado com aqueles olhos verdes expressivos, que pareciam sorrir.

Não por acaso, naquela noite os jovens jantaram juntos, formando um grupo animado ao qual se juntaram os outros colegas.

Aquela foi apenas a primeira de todas as noites em que dançaram, se divertiram, conversando até de madrugada. A jovem estava certa de que estava vivendo uma paixão. As amigas, que bem a conheciam, eram mais prudentes. Aconselhavam-na a ir devagar. Afinal, ela não conhecia o rapaz. Além do mais, a jovem já tinha quebrado a cara algumas vezes.

Como havia combinado, o grupo aproveitou o jantar de gala para comemorar efetivamente a formatura. Os rapazes estavam impecáveis nos trajes formais e as moças, uma mais bonita do que a outra.

Juliane, sorridente como sempre, estava deslumbrante no seu vestido verde, que lhe ressaltava os lindos olhos, duas lindas esmeraldas.

Nilton sentiu-se desprezado. A comemoração era limitada ao grupo ao qual ele não pertencia.

Exagerou na bebida e acabou passando dos limites. Os amigos tentaram, sem êxito, contê-lo. O jovem, com voz pastosa, falava alto o nome da moça, constrangendo-a e chamando a atenção de todos.

O Capitão foi obrigado a entrar em ação, convidando-o a retirar-se. No dia seguinte, dia de retorno para o porto de Santos, Nilton passou o dia com tremenda ressaca, obrigado a permanecer na cabine, talvez até por estar envergonhado.

Juliane, cercada e protegida pelos colegas, viu ruir o conto de fadas que começava a idealizar em sua cabecinha.

A viagem terminou, mas a vida está apenas começando.

E, se a vida os aproximará novamente, só o tempo dirá.





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