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ERA SETEMBRO - Oswaldo Romano


ERA SETEMBRO
Oswaldo Romano 
                                                                     
         O tempo urgia, mas os rostos aparentavam cansaço e desânimo. Muitos partiriam, desistindo do sonho dourado. As mãos calejadas pelo insistente ofício de escavar eram as mesmas que diriam adeus naquela primavera.

        Tudo começou quando larguei em São Paulo o emprego após cinco anos. Era considerado pelo excelente patrão e muito bem enturmado com os colegas. Na saída percebi que era mais querido do que imaginava.

        Intrigados com a minha decisão de ir para Serra Dourada a cata da riqueza, do ouro que ali aflorava, só puderam desejar sucesso, felicidade. Agitei e convenci toda família.

        Lá caí num desconhecido mundo, só via aventureiros, trapaceiros e muitas prostitutas.

        Levados por mirabolantes descobertas, ricos da noite pro dia, alguns nadavam em ouro, enchiam-se de colares, decoravam os dentes, mas não dispensava um trinta e oito na guaiaca.

        Eu corria o risco de nessa profusão de orgias, ver desviado algum ente querido da família.

        Nas profundezas daqueles barrancos cavava a terra, enchia sacos e sacos e carregando-os no lombo, iniciava a longa subida. Talvez levasse ai algumas pepitas. Só Deus sabia. Rezava baixinho, pedia ajuda. Outros, disfarçando mau agouro, cantavam,  achavam melhor do que gemerem.

        Alguns pequenos achados davam a esperança de continuar. Mas o perigo falava mais alto. Disfarçando o fracasso, reuni a família e abanando as mãos calejadas, demos adeuses à promessa que nunca veio. Nada restou de lembrança, só um sacrifício dourado.


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