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Ó PAI - Mario Augusto Machado Pinto



Ó PAI
Mario Augusto Machado Pinto

Após o telefonema fiquei aturdido você havia sido atropelado, teve o fêmur partido e o quadril quebrado. Fui direto ao hospital. Registrei e fomos para o quarto.

O médico, seu genro, disse que devido à sua idade não poderia operá-lo de imediato. Imobilizou seu quadril e a perna. Você ficou engessado.

Eu ia todos os dias ao hospital, conversávamos bastante e você me dizia que sentia saudades dos nossos abraços, minha turrice, das minhas perguntas. Eu segurava sua mão e você apertava meus dedos. Eu sorria. Aquele foi tempo bom...

Sim, pai eu também sentia saudades daqueles poucos abraços apertados, da sua mão passando pelo meu rosto, da sua fingida recusa aos meus beijos, homens não se beijam, mas você não era um homem pai, você era Meu Pai, e eu insistia. Você escondia o sorriso.

Ai um dia à tarde você mandou me chamar, queria conversar.

Quando, preocupado, entrei no seu quarto você disse:

Vem cá, ó menino meu. Vem cá.

Você me abraçou como nunca antes fez e me disse:

Dá cá um abraço e um beijo. Somos pai e filho. Podemos nos beijar.

Beijou-me e disse:

Chegou a hora, filhote. Até mais ver.

E você se foi.

Ai, ó Pai meu, até hoje espero a hora de poder encontrá-lo, abraçar, beijar e dizer:


Dá cá um beijo, ó pai, nós podemos!

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