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O COLECIONADOR DE SANTOS - Oswaldo Lopes

    

      O COLECIONADOR DE SANTOS
  Oswaldo Lopes

Começara muito cedo, fruto de uma visita a Ouro Preto, por conta de um passeio do Colégio. Gostara muito do que vira e ouvira. Sim porque havia o que ver (Igrejas, Museus, Capelas, Santuários) e ouvir (os famosos sinos de Minas). Aprendera sobre a grande variedade dos santos produzidos no Brasil durante os séculos XVIII e XIX. Variedades de destinação:

1-                                Para igrejas e capelas. De serem vistos no alto ou no nível dos olhos ou mesmo baixo da linha.
2-                                Para os domicílios de gente mais abastada, onde era possível encontrar grandes oratórios e mesmo capelas.
3-                                Para domicílios mais simples, onde ficavam em um aparador ou no criado-mudo a beira da cama.

Aprendeu também que eram feitos de diferentes materiais: de pedra,  de pedra-sabão, porque era um material leve e  fácil de trabalhar com o cinzel, embora sua durabilidade e resistência ao ar livre fossem diminuídas por essas mesmas características; de madeira em aqui ficava mais nítida a inventividade dos artistas que, no geral, esculpiam corpo, face anterior do rosto e braços. O rosto, mãos, olhos e mesmo algum detalhe como animais eram colocados depois e juntados com colas ainda primitivas, do tipo sapateiro; argila, no caso procuravam um barro especial do tipo daquele que usavam para fazer utensílios, tipo louça fina. Este material tinha de ser cozido para dar-lhe resistência, para tanto era bom que fizessem um oco por dentro para facilitar o cozimento.

        Aprendera tanta coisa, mas o curioso que tendo visto apenas meia dúzia delas se encantara com um tipo de santo que era característico do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo e por isso erma conhecidas como “paulistinhas”. Pequenas, ocas por dentro, feitas de uma argila clara, eram cozidas e depois pintadas. Havia quem advogasse a teoria de que eram feitas com moldes rudimentares e depois acabadas em separados. Isso explicaria certa similitude entre algumas delas. Reproduziam as mais variadas devoções sobressaindo-se: Nossa Senhora da Conceição, Santo Antonio, Santa Gertrudes, São Gonçalo ( com ou sem a viola), São José, São Francisco, São João etc.

Mas, ele era um colecionador, tinha conseguido ao longo do tempo essas paulistinhas e muitas outras imagens. Agora, como para todo bom colecionador, buscava as figurinhas difíceis, Nossa Senhora do O e uma Pietá. 

Embora a devoção por Nossa Senhora do O, ou do Bom Parto fosse muito presente sua miniatura era difícil de encontrar. Um pouco por modéstia outro pouco por pudor, não era comum se produzir Nossa Senhora Grávida. A dificuldade com a Pietá era a da dificuldade na composição que tinha Nossa Senhora tendo ao colo Jesus morto, tudo num bloco único que iria ao forno.

Ouvira falar e localizara uma Pietá com D. Arminda, uma velha professora aposentada e sem filhos que morava em Arujá. Com D. Arminda resolveu ir direto ao ponto, era colecionador e aquela era a peça que lhe faltava. D. Arminda gostava da peça, mas era solteira e sem filhos. Para que iria deixar aquela pequena imagem? Acertado o preço lá foi a Pietá para a coleção.

A do O foi mais complicada. D. Frausina era sacristã, para não dizer dona da velha capela em Taubaté, a sua Nossa Senhora habitava seu criado mudo num quarto de porta com a sacristia da Capela. Não ia sair por dinheiro nem é claro na força. Precisava uma boa  história, vamos lá chamemos pelo nome: uma boa cantada. E lá foi o colecionador com a sua história.

        Sua mulher estava grávida e o médico já o prevenira de que a criança estava atravessada e que o parto ia ser bem complicado com alto risco para mãe e criança. Queria a Nossa Senhora para ajudar no parto. Já tinha até escolhido os nomes: se fosse menina Lourdes e se fosse menino José.  Era emprestado sim, mas se desse tudo certo por interseção da Santa não queria devolver não, era milagre. Deixava uma quantia alta. Se desse errado devolvia a Santa e pegava o dinheiro. Se desse tudo certo, mandava um telegrama e o dinheiro ficava para a capela.

Contada assim, a história não parece ter muita força, mas lábia de colecionador é conhecida. D. Frausina concordou e...

Bem Nossa Senhora do O passou a integrar a coleção e pra mor de ter no futuro credibilidade nos arredores, na data aprazada enviou o famoso telegrama.


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