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Papo Nonsense - Vera Lambiasi







Papo Nonsense                                                                                             

Vera Lambiasi

Kazuo atendeu o telefone no meio da noite, e assustou-se com uma louca falando português do outro lado da linha. E do mundo.

Perguntava sobre um cachorro chamado Froid, com consulta marcada para a sexta seguinte, com um certo Dr Rudolph, na Cobasi.

Ele havia embarcado há dois dias de São Paulo, rumo à Sidney, onde começariam suas aulas de inglês. Chegara cansado, e ainda recuperava-se do fuso.

Ana, este era o nome da doida, dizia ter achado uma carteira na rua Augusta, uns dias antes.

Sim, Kazuo havia estado no teatro Procópio Ferreira, assistindo Tim Maia, com seus amigos. Mas, sua carteira, estava ali, no criado-mudo do hotel.

Lembrava-se, vagamente, de um amigo do Ceasa ter comprado um cachorrinho para o filho. Mas não conseguia se desvencilhar do enrosco do telefonema.

Pediu o email da brasileira, e um tempo para desvendar o mistério.

Ana não se conformava com a falta de interesse do japonês pela carteira.

Kazuo voltou a dormir, e, pela manhã, lembrou-se de Kanashiro pedindo seu celular, para fazer uma surpresa ao filho. O aviso da chegada do filhote de shih-tzu seria feito em seu número. O que nunca aconteceu, por ter Kazuo viajado para a Austrália.

Clareadas as ideias, com o nascer do sol, Kazuo concluiu que a carteira só podia ser de Kanashiro, que o acompanhava no teatro.

Assim, colocou Ana, a insistente, e Kanashiro, o cuca-fresca, em contato.

A carteira foi devolvida em um encontro marcado no veterinário. Seguido de jantar em restaurante japonês na Vila Leopoldina.

Sorte dos dois. E de Kazuo, em paz, do outro lado do mundo.


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