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Traição - Mario Tibiriçá



Traição
Mario Tibiriçá


Ele chegou já à noite, e disse para a mulher:

— Dolores, são nove horas, estou muito cansado, vou dormir.

— Está bem. Vou ver a novela e depois vou me deitar.

Paulo José Fragoso, 48 anos, médico, não era muito expansivo, falava pouco e quase sempre estava mal humorado. Casado há quinze anos com Dolores, apenas tolerava a mulher. Esta por sua vez, suportava o casamento apenas pelo bem estar, já que Paulo ganhava bem e supria a casa pagando contas e o lazer.

Quando a esposa refastelou-se na cama, empurrando um pouco o marido, este resmungou dizendo que eram duas da madrugada.

O grande relógio da sala havia batido três badaladas, quando o telefone tocou estridente. Paulo José resmungou outra vez, apenas desligando-o.

Alguns minutos depois, tocou de novo.

— Porra, será possível que não me deixarão dormir esta noite! – exclamou irritado, batendo o fone em seguida. Mais um novo toque, e o médico finalmente atende esbravejando um já dizendo um irritado “alo”.

— Boa noite. É da casa do Dr. Paulo José Fragoso? – perguntou a voz do outro lado da linha.

— É sim. O que deseja a esta hora da madrugada? – perguntou sonolento o homem.

— Sou o Dr. Geraldo Moreira, Delegado chefe da Quarta Delegacia de Polícia. Fui chamado para averiguar um caso, e chegamos à sua pessoa...

— Mas que diabo eu tenho comisso – perguntou inquieto o medico.

— Veja Dr. Paulo, trata-se de assassinato...

— Como assim?! – interrompeu o homem.

— Sim, assassinato. E temos seu nome e telefone como referência...

— Mas, o que houve Delegado? – já curioso.

— Fomos informados que foi encontrado no Beco do Cajú, o corpo de uma jovem de aproximadamente vinte anos. Ela estava seminua e tinha a garganta cortada. Junto à cena encontramos no sutiã da moça, um bilhetinho que dizia: “Meu amor, meu telefone, minha vida, meu dinheiro, e eu somos teus...”. O telefone que estamos falando é o seu, pois não?

— Deus do céu! – exclamou Paulo José.

Já há um ano andara loucamente apaixonado pela morena Jurema, linda de cabelos negros, olhos verdes, boca delicada, fartos seios e lindas pernas.

— Dr. Moreira, trabalhei até bem tarde hoje no hospital, estou exausto, e sou acordado nomeio da noite com um assunto assim tão escabroso...

— Pois bem, Dr Paulo, face à sua exposição, não mais o incomodarei esta noite.
Aguardarei o senhor amanhã às nove horas na Delegacia para esclarecimentos.

Meus Deus! – pensou Paulo José ao desligar o telefone.

— Quem era, Paulo? – quis saber Dolores.

— Apenas um cliente... – respondeu.

Esta evidente que o medico não conseguir dormir depois de tudo isso. As imagens da briga com Jurema não lhe saiam da cabeça. Tudo aconteceu porque Jurema andava encantada por um jovem seu vizinho de apartamento.

Estava tudo tão tranquilo naquele motel! Paulo José apaixonado pela linda morena escrevia mensagens de amor nos guardanapos: “Na incerteza do amanhã, te darei hoje toda a felicidade, meu amor, minha vida, e meu dinheiro” – assinando com nome completo e telefone. Este, ela guardou no sutiã. Infelizmente Jurema voltou a falar no tal vizinho, que também lhe mandava versos. O ciúme, então alucinou completamente Paulo, que aos gritos partiu para agressão, a  raiva e os tapas. Iniciou-se ali um conflito.

O homem completamente enlouquecido tomou a faca serrilhada do pão, e de um só golpe, cortou a garganta da jovem, que desfaleceu ensanguentada.

Paulo José, não entrou em pânico. Prático, sabendo bem o que fazia, limpou o ferimento, colocou uma bandagem com a toalha de banho, arrumou o quarto, e carregando a desfalecida moça, ultrapassou a portaria brincando que ela bebera demais.

Depois jogou o corpo num beco qualquer.

Recomposto, foi para sua casa...

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