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Linha cruzada - Adriana S. Froson

 


Linha cruzada

Adriana S. Frosoni

 

Era uma noite chuvosa quando Ana, mulher fútil e curiosa por natureza, decidiu fazer uma ligação para sua amiga Clara para compartilharem as fofocas de sempre. Esse era o maior prazer e passatempo das duas. Ao pegar o telefone, ela percebeu um som estranho, como se houvesse outra pessoa na linha; franziu a testa, mas continuou a discagem, ignorando o ruído.

 

— Alô? — Disse Ana quando a ligação foi atendida. Mas ninguém respondeu do outro lado. Ela ouviu apenas ruídos e algumas vozes distantes e, atribuindo o problema ao mau tempo, desistiu da ligação.

 

Entretanto, mesmo após o tempo melhorar, o problema persistiu e a empresa de telefonia foi chamada para resolver. Nada de errado foi encontrado e decidida a provar o defeito, Ana pegou um velho gravador que tinha em casa e ligou para o número de Clara novamente. Desta vez, ela pressionou o botão de gravar e ficou em silêncio, ouvindo atentamente.

 

Para sua surpresa, ouviu vozes sussurrantes na linha, vozes que não reconhecia. Parecia haver uma conversa paralela, ignorando a presença dela. Mas as palavras eram tão distorcidas que impossibilitava o entendimento. Intrigada, ela continuou a gravar, e com o tempo, seus ouvidos se acostumaram e as vozes se tornaram mais claras e distintas. Até que ouviu quando disseram:

 

— Conseguimos... Ela está entendendo... continue falando...

 

Foi aí que Ana percebeu que não se tratava de pessoas comuns. Eram vozes do passado contando histórias de amor, tragédias e segredos que nunca foram revelados. A princípio seu interesse era apenas descobrir alguma coisa com a qual pudesse se divertir, fofocando ainda mais. Porém, os assuntos eram demasiadamente sérios para isso. Sempre muito cética, Ana não tinha interesse nem conhecimento sobre essas questões espirituais.

 

Assustada por não entender o que estava acontecendo, e ao mesmo tempo, fascinada com a descoberta, continuou a ouvir as vozes. Procurou ajuda e passou a estudar sobre o assunto. Descobriu que tinha um grande potencial para a mediunidade, e que esse foi o caminho escolhido pelas vozes para chegarem até ela, dado que outras formas não funcionaram. Ela não acreditava em nada, era distraída e desapegada em geral, então, decidiram usar aquela curiosidade e capacidade de fofocar para acessá-la.

 

Mesmo que Clara, sua confidente, não acreditasse em nada disso, Ana percebeu que tinha em mãos algo poderoso para ajudar as pessoas ou os espíritos que dela precisassem. Essa descoberta a colocava em posição de grande responsabilidade. Passou a sentir necessidade de compartilhar o que ouvia e começou se preparar para poder entregar as mensagens de forma adequada.

 

Ela se tornou uma excelente ouvinte, registrando as histórias do passado que ainda ecoavam pelo presente. Aprendeu a lidar com o poder de seu dom, e sua vida nunca mais foi a mesma. Agora era muito mais interessante.


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