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ESCREVIVER - AS GÊMEAS - 29 DE SETEMBRO DE 2023

 






A intriga na passagem de um personagem por uma história, é o que conta. Essa intriga (conflito), é o vai movimentar as ações e reações de cada um, no enredo. Se for um conflito descomplicado, ele não provocará ações e reações. Portanto, quanto mais difícil for o conflito, mais o enredo ficará interessante.

É claro que o conflito sozinho não faz com que o todo interesse para o leitor. Mas COMO o autor vai contar essa trama, é que valoriza a narrativa.

Uma boa história deve explorar a emoção, os sentimentos, que poderá ser capturado e mostrado, através de figuras de linguagem, e todas as ferramentas possíveis literárias, guardadas na caixa de ferramentas do autor: 

  • FORMATO
  • ESTILO
  • PONTO DE VISTA DO NARRADOR
  • PONTUAÇÃO
  • FLASH BACK
  • FLUXO DE CONSCIÊNCIA
  • PLOT 

etc.

Pois bem, vamos experimentar isso? 

Temos a seguinte trama para criar uma história sobre ela:





DESABAFO DE UM RIO - LEDICE PEREIRA

 

DESABAFO DE UM RIO

LEDICE PEREIRA


E lá vem ele com sua impetuosidade!

Fico tão irritado com esse jeito impetuoso dele! Quando o encontro, sinto que a minha tranquilidade vai por água abaixo. Eu que gosto de andar perigosamente em todo meu limite, nem por isso deixando de apreciar tudo a minha volta, numa temperatura agradável, tenho que conviver com a sua lentidão e sentir o toque gelado de suas águas.

Começa que não gosto nem do nome dele, Solimões, um nome, pra mim, nada sugestivo, muito pelo contrário.

Eu sim, chamo-me Negro, com muito orgulho. E não fico anunciando aos quatro ventos que nasci na Colômbia, embora me orgulhe disso.

Solimões vive se gabando de ter origem andina e de trazer sedimentos de origem vulcânica.

Grande coisa! Quem se interessa em saber disso?

Sei que ele gostaria de se juntar a mim porque, além de pegar carona na minha rapidez, reconhece que é sem cor, sem graça e sem charme, coitado!

Fazer o quê, vamos ao enfrentamento. Não posso fugir disso.

Ele que não venha com graça, tentando misturar as nossas águas pois farei questão de mostrar toda a minha independência e superioridade. Orgulho-me de ser muito mais rápido e de formar com as areias brancas, que, por sinal, babam com a imponência da minha escuridão, um cenário pra ninguém botar defeito.

O ápice, pra mim, é quando me desprendo do Solimões e encontro o Amazonas, soberano, que me dá o devido valor e me recebe de braços abertos. Aí sim, sinto que atinjo o meu máximo esplendor. 


MÃE - Antonia Marchesin Gonçalves

 


MÃE

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Minha vida é complicada, estou lembrando a minha infância, mãe. Lembro bem do carinho que você me deu quando aos sete anos era o dia de entrar na escola, eu muito com medo do que viria, da professora.... Já os colegas, éramos amigos de bairro, a gente jogava futebol, pega-pega, esconde-esconde na rua, era muito divertido.

                Ao me abraçar você me disse: agora você é um mocinho que vai aprender a ler, procure se comportar e prestar atenção, pois escola não é para brincar. Obedeci, querida mãezinha, sempre levei os estudos a sério, você sabe disso. Lembra quando fomos de férias para Portugal, graças ao seu trabalho ajudando o papai nos éramos ricos, acabamos ficando um ano, lá também fui comportado, fiz novos amigos, inclusive conheci meus primos portugueses e todos me chamavam de brasileirinho.

                Voltamos para o Brasil, vocês assumiram de volta a padaria, você no caixa enquanto o papai fazendo pães, doces e bolos com os empregados. É, estávamos muito bem de vida. Não precisavam da minha ajuda, nem dos meus irmãos, para a lida do dia a dia. A escola era prioridade. Depois podíamos brincar e nadar no rio que cortava a cidade. Lembro que você, mesmo grávida, lá estava logo cedo no caixa para receber os fregueses que vinham comprar o pão já na primeira fornada da manhã.

                Ah, mãezinha! O cheiro dos pães e doces da padaria e da sua comida ficou em minha memória para sempre. Aí, nos meus dez anos eu, feliz, nadando com os amigos no rio, recebi a pior noticia da minha vida: “Sua mãe morreu!” . Você tinha morrido no parto do sexto filho, e ele também morreu. Esse fato foi o que mudou toda a nossa vida, minha e dos meus irmãos. A sua substituta, a madrasta era bem diferente, e sofremos muito nas mãos dela, tudo que foi construído por vocês, ela deixou se esvair, mesmo os mais velhos como eu, tínhamos que trabalhar muito e foi difícil estudar.

                Mas vejo que foi isso que me fez um homem forte. Conquistei muito, me tornei um vencedor. Com todos os filhos formados e minha esposa, companheira, que me ajudou muito, era batalhadora como você mãe. Mas me deixou cedo.

                  Ainda tentei um segundo matrimônio. No entanto, a minha companheira também me deixou cedo demais.

                Agora eu estou aqui com vocês, juntos todos nós para a paz eterna.

               

               

Bem que eu tentei - Ledice Pereira

 



Bem que eu tentei

Ledice Pereira

 

Tantas lembranças passando em minha mente como se fossem recortes de filmes embaralhados...

— Lembra quando seus pais me levaram para viajar com vocês? Se não fossem eles eu nem conheceria Ubatuba. Naquela época, meus pais não tinham nenhuma condição financeira. Ainda me recordo da casa com aquelas janelas enormes que davam para o mar. É como seu eu ouvisse ainda o barulho das ondas rebentando ali perto. Eu tinha um medo de que as águas invadissem a casa. Sem meus pais, eu me sentia desprotegido, por mais que seus pais tentassem suprir a falta deles.

— E naquela manhã em que você resolveu se exibir entrando mar adentro! Eu te chamava aflito e você me provocava, nadando mais e mais, deixando que a correnteza o levasse para o fundo. Senti alívio quando vi seu pai indo ao seu encontro, trazendo você, que começava a roxear, para a beira da praia. Ele estava bravo, passou-lhe um baita de um pito.

Roguei a ele que não o pusesse de castigo. Você fingindo chorar, piscou pra mim numa espécie de agradecimento. Gostava de viver perigosamente.

Foram várias as vezes em que eu tive que apartar suas brigas, ou buscar você no meio do mato de onde não conseguia sair. Sempre aprontando.

Quando se é criança, quatro anos e meio faz uma enorme diferença. Como mais velho, eu me achava na obrigação de cuidar de você. Esperava que a idade o fizesse mudar, mas você continuava a viver no limite.

Até sua mãe desistiu de você, abandonando casa, marido e filho, até morrer numa clínica psiquiátrica.

Foi demais pro seu velho pai que, alguns anos depois, também se foi.

Continuei tentando protegê-lo de você mesmo, sem sucesso. Resolvi seguir a minha vida. Casei-me e afastei-me por julgar que você seria um péssimo exemplo para meus filhos.

Você percebeu e procurou evitar de participar da nossa vida.

Hoje, arrependo-me de ter meio que te abandonado. Afinal, eu era o seu único amigo de verdade. Talvez eu tivesse evitado que hoje você estivesse aí, nesse caixão, sem ninguém mais pra chorar a sua morte. Por você ter despencado do alto daquela montanha de onde, até hoje, ninguém conseguiu sair vivo.  

O PASSADO QUASE PRESENTE - TEMA DO ENCONTRO DE 19 DE SETEMBRO DE 2023

 







Há situações em que personagens literários se confundem com pessoas que conhecemos, ou será que a vida real está sempre retratada nos livros?

É certo que a literatura copia a vida, e os sentimentos/emoções movem pessoas e personagens. Portanto as ações e reações das pessoas, e também dos personagens literários, são motivadas pelos sentimentos e emoções. OS CONFLITOS são os gatilhos que trazem à tona certas emoções, certos sentimentos: perigo, suspense, momentos em que a vida sai da rotina e requer mudança de atitude.

Uma boa história tem esses ingredientes, e podem estar no passado do personagem, no presente ou futuro.

No passado, os fatos (CONFLITOS) exigem que o personagem tome certas inciativas para consertar o passado que, de alguma forma, lhe impõe perturbações.

No presente, os fatos (CONFLITOS) estão acontecendo e provocando o personagem à tomada de reações que não são comuns no seu cotidiano.

No futuro, o que virá na vida do personagem, de alguma forma, vai provocar CONFLITOS, o que o faz reagir para mudar o destino, seja para o bem ou para o mal.

TAREFA: Trabalhar um CONTO narrado no presente, em primeira pessoa - pelo personagem protagonista. PORÉM, no desfecho a revelação. Tudo se tratava do passado do personagem que já está morto. Portanto é uma narrativa póstuma, mas isso é uma descoberta que o leitor fará nas últimas linhas de sua história.

OBS: Cuide para o conflito seja mesmo perturbador.

INVISIBILIDADE - Yara Mourão

 




INVISIBILIDADE

Yara Mourão

 

A aula de física no laboratório da escola geralmente era maçante e interminável. Mas naquele dia, junto com as projeções de ótica, algo pareceu muito interessante para Júlio. Havia uma ligação de fórmulas matemáticas a composições químicas, que iam num espectro da refração da luz até que uma lâmina de matéria se formasse. Essa lâmina tinha duas faces: uma positiva e outra negativa, e a capacidade de tornar invisível o que ela envolvesse na face positiva e tornasse a mostrar a realidade na sua face negativa.

Júlio projetou ao infinito o alcance dessa maravilha.

Tornar invisível algo material, sólido e depois reverter o resultado! Não era mágica, era ciência pura. Ele precisava se apoderar disso imediatamente, antes do baile de formatura.

Por algumas noites Júlio não parou nem para dormir. Leu todas as apostilas, os livros da biblioteca da escola, as anotações dos cadernos, as fórmulas e tudo o que encontrou sobre o assunto.

Tanto empenho teve sua recompensa.

Conseguiu, com suor e lágrimas, manufaturar uma película bipolar; lado A, tornava algo invisível e lado B devolvia algo á realidade. Perfeito para o uso. Perfeito para suprimir a presença de Bruno, o tal do “gatão”, como as meninas falavam. Baile sem Bruno era noite de gala! Larissa, princesa, estaria próxima dele sem a sombra incômoda do Bruno.

Chegada a data do baile, Júlio se esmerou nos preparativos, cuidando muito da aparência, do penteado; disfarçou como pode as espinhas do rosto. Tudo ótimo.

No bolso da calça, dobrada em quatro, estava a película, obra genial dele próprio, criada para o bem, mesmo que por alguns instantes pudesse causar o mal. Mas isso não estava em questão no momento. O que era importante era sumir com Bruno e ficar com Larissa. Talvez, depois, ele pudesse ganhar o Nobel de física, de química, ou seja, lá do que for...

Chegando no baile, deu de frente com a princesa, linda, um sonho de garota. Foram conversando em direção ao salão, tranquilos, até que, saindo de trás de uma mesa, surgiu Bruno.

Foi um minuto de hesitação. Mas logo Júlio tirou do bolso a película e em gestos longos, precisos, envolveu o menino que em segundos sumiu! Ninguém viu!

Assim se fez a noite mais linda da vida de Júlio, o gênio da fantástica criação daquele ano na escola!

Só que a película nunca mais se desfez...

E Júlio, coitado, identificado como assassino pseudocientífico, foi aprisionado e condenado a passar anos de sua vida num laboratório trabalhando num projeto denominado: Desconstruindo a Invisibilidade!

 

AKIRA - A robótica quase humana - Yara Mourão

 

 



AKIRA

A robótica quase humana

 

Yara Mourão

 

Era uma tarde mansa, dessas de fins de outono, quando o céu se avermelha ao ocaso e as nuvens formam, douradas, rabiscos pelo céu.

Através da janela da sala Noêmia viu chegar uma claridade difusa, indecisa. Ela estava cansada. Não tanto da lida do dia, mas do embate com as pequenas coisas que lhe causavam grandes aborrecimentos.

Ultimamente tudo se tornara um pouco estranho para ela, até o que estava habituada a fazer por anos. É que agora algo ficara muito diferente, mais complicado e sem explicação.

Felizmente Noêmia tinha dois filhos. Engenheiros, bem posicionados na vida, pais de seus quatro netos, todos menininhos. Era um entorno masculino onde ela ainda tinha seu lugar de rainha-mãe.

Os filhos já percebiam sua dificuldade de lidar com as coisas da modernidade. Como não podiam lhe oferecer uma presença constante, resolveram dar à mãe uma ajuda incontestável: arranjaram-lhe um robô doméstico! E dos bem programados, pois era “made in Japan” e atendia pelo comando de voz de seu nome: Akira!

Noêmia ficou fascinada!

— Que moderno! É só eu chamar seu nome e ele vem?

— Sim, mãe, é só chamar.

— E o que ele faz? Cozinha, lava e passa? Rega as plantas? Toca piano? Lê jornal?

— Pode até ser, mãe. Ele tem muitas habilidades: liga e desliga o que for; não esquece nada no fogo nem ferro ligado ou T.V. acesa, nem pia pingando, cachorro com fome, nada!

Era inacreditável!

Ela se divertiu um tempo dando ordens ao Akira. E ele cumpria tudo, até respondia o que ela perguntava. Na verdade, conversavam bastante.

Noêmia se habituou à presença de Akira, à sua voz rouca, ao seu silencioso caminhar pela casa, checando tudo: cada aposento, cada armário, cada eletrodoméstico. Até a temperatura do chuveiro ele acertava. Navegar no celular era com ele mesmo. Tudo sem mexer um dedo sequer!

O tempo foi passando...

Noêmia apagou velinhas nos últimos seis anos com Akira ao seu lado. Ela já se habituara a ser conduzida e acalentada por ele; já repartia com ele seu resto de lembranças, as memórias embaçadas. Já não ousava ser gente sem Akira ao seu lado.

Um dia Noêmia se esqueceu de ser quem era... saiu de casa, foi-se pela rua barulhenta, virou à esquerda, depois à direita, não importava. Foi-se no vácuo da vida que lhe foi mansamente roubada por Akira.

Talvez um robô quase humano seja, na verdade, um acelerador de Alzheimer para uma humanidade enferma, já quase terminal.

 

FÉRIAS DE VERÃO - Antonia Marchesin Gonçalves

 

                            


FÉRIAS DE VERÃO

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Quando meus filhos eram pré-adolescentes, tínhamos apartamento na praia da Enseada no Guarujá, naquele tempo as férias de verão eram de Janeiro a Fevereiro, as aulas começavam em Março. Após o natal e fim de ano após passarmos em São Paulo com a família, começo de Janeiro já íamos para a praia, foi uma época em que meus filhos aproveitaram muito, fizeram muitos amigos que continuam se encontrando até hoje.

                O meu apartamento era o centro de encontro e também na praia todos se concentravam no meu guarda sol, eu a única adulta ouvindo todas as conversas e historias das aventuras amorosas. O engraçado é que eles não tinham nenhum constrangimento em contar detalhes como, fiquei com fulana foi duro aguentar o bafo, ou o cara não sabia beijar, quase engolia minha língua... E, eram risadas, brincadeiras e piadas.

                À noite iam todos para a sorveteria Brunella e voltavam de madrugada, a pé, sozinhos, numa alegria só!

Mas, lógico que rolava a cervejinha escondido, eu sentia o cheiro quando chegavam e dava a bronca para saberem que eu estava de olho. Os pais desciam na sexta à noite e passavam o fim de semana, aí já não rolava muita conversa. Já na segunda voltavam todos para meu guarda sol. Com o tempo certas mães começaram a reclamar com ciúmes de seus filhos comigo, a ponto de uma delas que era do prédio vizinho chegar com as mãos na cintura e em voz alta falar: “porque todos ficam só aqui, eu não mordo sabiam? ”

Pegou na mão de filha e a levou para o seu lado, todos se olharam, e adolescentes não se controlam, começaram a rir.

Tinha na praia a moça dos sanduíches naturais e outra que fazia deliciosos pasteis e salgadinhos, eu não ligava que eles comessem na praia e fechava as contas nos fins de semana, quando com os maridos tomávamos as caipirinhas e cerveja. Certa época meu marido encontrou um pequeno barril de cinco litros de cerveja com a torneira, levava na praia e mais um motivo para a vizinhança adulta ficar por perto.

 

Foram alguns anos de férias divertidas, inclusive em Julho mais tranquilas por ser frio, meu filho não abria mão de surfar no mar, até hoje pratica. Justamente por surfar ele nos convenceu comprar o terreno na praia de Iporanga também no Guarujá. Levamos dois anos para construir a casa no pico do morro, com uma vista incrível e acabamos vendendo o apartamento. Na casa, diferente do apê, os amigos acabavam se hospedando, depois o filho com a esposa e as filhas com os respectivos maridos, e até o primeiro neto curtimos muito, todos juntos, fim de semana e férias.

                À medida que se envolviam, com o trabalho e a vida de casados passaram a frequentar menos e até que vinham nos fins de ano assistir os fogos de artifício, pular as sete ondas e continuar a festejar no terraço na piscina. Com o passar do tempo a casa pouco usada e com a manutenção altíssima, condomínio e gasto com caseiros sempre problemáticos resolvemos vender.

                Foi muito bom enquanto durou e tenho a certeza de que foram anos marcantes para meus filhos, com muitas boas recordações.

Meu tio Milton - Ledice Pereira




Meu tio Milton

Ledice Pereira

 

Eu achava meu tio Milton o máximo, divertido, alegre, cheio de ideias, sempre de bom humor. Nunca dizia para eu esperar um pouco, como meu pai sempre fazia.

Não, tio Milton era o cara que eu queria ser quando crescesse. Inventava brincadeiras, contava histórias, brincava como se fosse criança.

Quando ele se mudou para o Japão, fiquei muito triste. Sentia sua falta. Vivia perguntando pra minha mãe quando ele iria voltar. Ela comunicava-se com o irmão sempre que podia e ficava sabendo das novidades que despois nos contava. Ele estava desenvolvendo, junto com gente de todas as partes do mundo, ligadas à tecnologia de ponta, um tecido que permitia que as pessoas se tornassem invisíveis. Isso me deixava encafifado e curioso. Naquela época, eu não sabia muito bem o que ele fazia.

— Eu adoraria ficar invisível, às vezes – eu pensava – principalmente, quando meus pais insistiam para eu fazer alguma coisa que eu não queria, como arrumar minha cama, ou lavar o prato e o copo que eu tinha usado.

O tempo foi passando, eu e meu irmão já não sentíamos tanta falta de nosso tio. Tínhamos feito amizade com vários frequentadores do clube e participávamos dos campeonatos de vôlei e futebol.

Mamãe nos deu a notícia que ele estava voltando.

Hoje sei que aqui ele trabalhava no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Que tinha sido escolhido, entre vários colegas, para participar desse estudo, por ser considerado acima da média, sendo dedicado ao trabalho e determinado em suas pesquisas. Isso aumentava minha admiração por ele. Fiquei excitado para reencontrá-lo. Saber o que aconteceu nesses cinco anos fora daqui. Devia ter muito que contar.

No dia marcado fomos ao aeroporto esperá-lo, portando faixas escritas em letras garrafais: Bem-Vindo, querido tio!

Nada dele aparecer. Estávamos um tanto decepcionados e cansados, quando algo chamou nossa atenção, uma mala que se deslocava sozinha, vindo em nossa direção. Um misto de medo e curiosidade tomou conta de nós. Eis que vimos a cabeça do tio. Não víamos o corpo dele. Ao nos aproximarmos, descobrimos que ele estava envolvido por um tecido que o encobria, segurando a mala, dando-nos a ideia de que ela vinha sozinha, permitindo que víssemos apenas o ambiente do aeroporto. Muito estranho!

Quando ele jogou ao chão o tal tecido, demos com ele inteiro, sorridente, tão alegre como nos lembrávamos, um pouco grisalho e mais gordinho, mas tão querido. Deu-nos aquele abraço que só ele sabia dar, cheio de carinho.

Não largamos mais dele. Teve que contar e recontar todas as histórias e descobertas que havia experimentado naqueles longos cinco anos de Japão. O dia foi pequeno para que ele respondesse a todas as nossas perguntas. Minha mãe teve que interferir para que o deixássemos descansar depois de tantas horas de viagem.

Na manhã seguinte, como ele não se levantava, arrisquei entrar no quarto e não vi ninguém. Eu ainda o procurei embaixo da cama e no banheiro. Nada!

Só depois descobri que ele havia se coberto com o tecido da invisibilidade. Esse era o meu tio. O cara que eu continuava admirando e querendo ser como ele.

  

ESCREVIVER - A CURIOSA INVISIBILIDADE 12/09/2023










Já pensaram na hipótese de se poder ficar invisível? Harry Potter ganhou a capa da invisibilidade.



O cinema produziu, no ano 2000, o filme O HOMEM INVISÍVEL.




E, atualmente, muito se fala em invisibilidade.








Clique aqui para ver o vídeo: A INVISIBILIDADE DOS CHINESES


Criação de personagem inquieto, ousado, oportunista, que de tudo faz para ser mais esperto que os outros. 

Como seria ele? 

Quais seriam os traços psicológicos deste protagonista?

Quem seria ele?

Em que época ele vive?

Após terem assistido ao vídeo onde um chinês mostra o manto da invisibilidade, material amplamente divulgado pela internet, vamos fazer com que este protagonista criado hoje, use, de alguma maneira, o manto da invisibilidade para se dar bem.

Faça com que o enredo tenha velocidade, dinâmica. 

Insira figuras de linguagem no texto.

Surpreenda-nos com o desfecho de seu conto. 

Será que o protagonista vai se dar bem mesmo?

Será que há mesmo a possibilidade de se tornar invisível?



Adolpho, o Robô - Ledice Pereira

 

Adolpho, o Robô

Ledice Pereira

 

Gil nascera curioso. Desde muito pequeno parecia observar tudo de forma detalhada. Isso chamava a atenção dos pais e dos avós.

Quando foi para a escolinha infantil, destacava-se das outras crianças por sua maneira atenta com tudo que acontecia ao seu redor.

A professora ficava encantada com o entendimento do menino apesar da pouca idade. Enquanto os demais faziam inúmeras perguntas sobre o assunto, Gil entendia na primeira explicação.

Foi crescendo e se desenvolvendo, ensinando o Guy, seu irmãozinho, tudo que sabia.

Os dois eram inseparáveis e à medida que cresciam, iam descobrindo o mundo de novidades que se descortinava à sua frente.

Vários brinquedos eram desmontados para saber como eram feitos, principalmente, os brinquedos eletrônicos, cujo conteúdo e maquinário causavam curiosidade em Gil e consequentemente em Guy.

Gil cursou o ensino básico sem nenhum tipo de problema e, ao entrar no ensino fundamental, como matéria extracurricular, escolheu Robótica, assunto que o fascinava.

Guy, dois anos e meio mais novo, era um aluno dentro da média, tranquilo, gostava de matemática e ciências e era muito enturmado com os colegas, fazendo parte do time de futebol da classe.

O novo desafio de Gil era construir um robô. Isso o excitava a ponto de ter dificuldade para pegar no sono. Falava no assunto o tempo todo, reunindo-se com um grupo de colegas, como ele, muito eufóricos.

Durante semanas, reuniram-se na casa de um deles para idealizar a construção do tal robô. A ideia era fazê-lo com corpo e movimentos que imitassem o ser humano.

O professor, apesar de entusiasmado com o grupo, procurava mostrar a realidade, fazendo com que tivessem os pés no chão, não dando passos, maior que a perna.

Certa noite, já na cama, contava para Guy sobre o andamento das pesquisas e experiências que estavam tendo, procurando desenhar o protótipo de robô que haviam idealizado e que se chamaria Adolpho, o qual pretendiam construir com a ajuda de uma impressora 3D, existente no escritório do pai de Jorge, um dos integrantes do grupo.

Andava tão cansado por tantas noites mal dormidas, que adormeceu repentinamente, ainda quando falava com o irmão.

Logo, várias figuras povoaram sua mente, num turbilhão de imagens desconexas que o atropelavam desordenadamente, sem controle.

O garoto gemia e parecia querer se soltar sem que conseguisse. Queria gritar, mas a voz não saía, debatia-se em desespero, levando Guy a perceber que algo grave acontecia, indo chamar a mãe que prontamente o acompanhou até o quarto.

Ela tentou acalmar o filho que suava, preso às cobertas que o impediam de se movimentar.

Aquele abraço o acalmou. Abriu lentamente os olhos, buscando o aconchego do peito materno. Estava molhado, assustado, ofegante, cansado.

O pai, percebendo a movimentação, veio juntar-se ao grupo para ouvir o que o menino contava sobre o sonho que tivera com Adolpho, o robô, por eles construído, que havia adquirido vida própria e passado a comandar a vida de todos, determinando o que fazer e dominando o pensamento de cada um. No sonho, ele se revoltara, enfrentando Adolpho com quem tentara lutar, sem êxito, pois o robô parecia ter inúmeros braços que o imobilizavam sem que pudesse defender-se.

Um chá calmante quentinho, feito carinhosamente pela mãe, ajudou-o a voltar a dormir.

Dessa vez, felizmente, sem sonhar.    

 

 

  

 

 

A Lei de Gerson - Ledice Pereira

 




A Lei de Gerson

Ledice Pereira

 

Sydney julgava-se o sujeito mais esperto do pedaço.

Costumava gabar-se de suas façanhas.

A lei de Gerson regia sua vida e tentava passar isso para os filhos: tinham que levar vantagem em tudo. Na escola, nos esportes, com os amigos, enfim.

A mulher, mais cautelosa, procurava interferir no aprendizado dos filhos, ensinando-lhes a agir com ética e moralidade.

Felizmente, as crianças ficavam mais com a mãe, o que não evitava que fizessem questionamentos sobre o comportamento do pai.

Aos poucos a vizinhança, percebendo as atitudes de Sydney, começou a evitá-lo e consequentemente a toda a família, deixando de convidá-los para os eventos que ali aconteciam, fazendo com que se sentissem humilhados e alijados do grupo.

Sydney estava tão cego, em sua filosofia de vida, que nem dava importância à reclamação da mulher e dos filhos, infelizes e prisioneiros em sua própria casa.

Quando foi convidado a participar de uma pirâmide financeira em que ganharia muito dinheiro com uma alta porcentagem prometida, nunca experimentada por ele, sentiu-se um homem muito poderoso. Investiu todas suas economias. Mostraria aos vizinhos sua ascensão, que permitiria mudarem-se dali, sem que precisassem de nenhum deles.

Chamou a família, expondo que mudariam de vida. Poderiam morar onde quisessem e não seriam mais desprezados por ninguém.

A mulher, desconfiada, preferiu permanecer com os pés no chão, transmitindo esse sentimento aos pequenos com medo de que sofressem uma enorme desilusão.

Dito e feito.  Foram surpreendidos pela manchete do Jornal televisivo, que mostrava a prisão por estelionato do cabeça da tal pirâmide, um integrante de uma quadrilha internacional que vinha sendo investigada nos últimos seis meses.

A mulher teve papel importante para que a família não desmoronasse. Convenceu o marido a fazer um sério tratamento com um terapeuta muito bem indicado e, com o salário que recebia como professora secundária, segurou as pontas durante o longo tratamento.

 Esse procedimento o fez reconhecer que sua maneira de pensar e agir não levavam a lugar nenhum. E Sydney recomeçou do zero, sabendo que teria que merecer e que nada cai do céu.

 

 

O Homem manda e Deus desmanda - Ledice Pereira

 



O Homem manda e Deus desmanda

Ledice Pereira

 

Carlos acordou, naquela manhã, em estado de graça total. O canto do sabiá, que costumava irritá-lo, naquela madrugada pareceu-lhe uma suave sinfonia.

Tomou banho entoando “Majestade o sabiá”.

O café da manhã transcorreu em paz como há muito não acontecia.

A família entreolhava-se sem entender nada.

Carlos saiu ainda assobiando, após beijar mulher e filhos e saudar a diarista que o olhava incrédula.

Resolvera que nada viria estragar o dia ensolarado que se iniciava.

Ao ligar o carro, o rádio começou a tocar uma melodia que o deixou ainda mais leve, levando-o a cantarolar baixinho.

Atravessou os faróis com tranquilidade sem se importar com a frequência que se fechavam à sua frente.

Permaneceu em filas que se formavam sem ligar para a demora de cinco ou mais minutos, procurando entreter-se com o programa musical sintonizado.

Evitaria programas políticos que costumavam tirá-lo do sério.

Ao chegar ao escritório, foi avisado que o chefe estava a sua procura desde muito cedo, perguntando por ele a cada minuto.

Examinou a papelada em sua mesa, procurando não dar muita importância.

Dirigiu-se à sala do chefe, que considerava grande amigo, e com quem tinha uma relação sempre pacífica.

Encontrou-o de mau-humor, esbravejando, gritando ao telefone que desligou assim que o viu entrar.

Ia fazer uma brincadeira, mas, pela cara do chefe, viu que o assunto era sério.

Saiu da sala cabisbaixo. Entrou em sua sala, ligou para a secretária, solicitando uma caixa grande.

Havia sido despedido.

 

 

 

A ROBÓTICA QUASE HUMANA - 05 DE SETEMBRO DE 2023

 









ESCREVIVER

A ROBÓTICA QUASE HUMANA

05/09/23


A robótica, sinal da evolução dos tempos, ameaça a segurança dos humanos com a produção em massa de robôs que se assemelham aos humanos, e que, cada vez mais parecidos, agem e reagem como tal.

O que você pensa sobre isso?

Há vídeos que mostram o robô agindo como homem. Veja:


https://www.youtube.com/watch?v=mjfF3yGxagw


https://www.youtube.com/shorts/Nf7LqIqvk6w


https://www.youtube.com/watch?v=ltgo4PHwjKM


https://www.youtube.com/shorts/V3d42A3IQ4w


https://www.youtube.com/shorts/fL3iiqecbDg


E se o seu conto tivesse um robô como protagonista, como seria?