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DESABAFO DE UM RIO - LEDICE PEREIRA

 

DESABAFO DE UM RIO

LEDICE PEREIRA


E lá vem ele com sua impetuosidade!

Fico tão irritado com esse jeito impetuoso dele! Quando o encontro, sinto que a minha tranquilidade vai por água abaixo. Eu que gosto de andar perigosamente em todo meu limite, nem por isso deixando de apreciar tudo a minha volta, numa temperatura agradável, tenho que conviver com a sua lentidão e sentir o toque gelado de suas águas.

Começa que não gosto nem do nome dele, Solimões, um nome, pra mim, nada sugestivo, muito pelo contrário.

Eu sim, chamo-me Negro, com muito orgulho. E não fico anunciando aos quatro ventos que nasci na Colômbia, embora me orgulhe disso.

Solimões vive se gabando de ter origem andina e de trazer sedimentos de origem vulcânica.

Grande coisa! Quem se interessa em saber disso?

Sei que ele gostaria de se juntar a mim porque, além de pegar carona na minha rapidez, reconhece que é sem cor, sem graça e sem charme, coitado!

Fazer o quê, vamos ao enfrentamento. Não posso fugir disso.

Ele que não venha com graça, tentando misturar as nossas águas pois farei questão de mostrar toda a minha independência e superioridade. Orgulho-me de ser muito mais rápido e de formar com as areias brancas, que, por sinal, babam com a imponência da minha escuridão, um cenário pra ninguém botar defeito.

O ápice, pra mim, é quando me desprendo do Solimões e encontro o Amazonas, soberano, que me dá o devido valor e me recebe de braços abertos. Aí sim, sinto que atinjo o meu máximo esplendor. 


2 comentários:

  1. Legal esse texto, bem imaginativo e gostoso de ler. Adorei. Parabéns!

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    1. Obrigada, Yara. Ainda não cheguei aos seus pés. Beijo

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