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Autoindulgência - Adriana S. Frosoni

 


Autoindulgência

Adriana S. Frosoni

 

Tomás se recusava a compartilhar seus brinquedos com outras crianças e, quando a madrasta interferia, ele cedia, mas ao invés de entregar o brinquedo para o amigo, jogava-o longe. Já era temperamental desde então. À medida que crescia, foi ficando mais controlado, circunspecto e estudioso. 

Seu pai, Miguel, relevava todos os erros do menino que era bom demais em se justificar. 

— Esse menino poderia ser advogado, ele é bom de argumentação! — dizia o pai, orgulhoso.

Eleonora, a madrasta, ressentia-se e considerava esse um caminho perigoso. 

— Não gosto disso, Miguel, ele nem fica aborrecido quando erra! Não acho que a autoindulgência deva ser incentivada.

Mas apesar disso, ele tinha muitas qualidades: era inteligente, esforçado e estudou administração para ajudar o pai na empresa da família. Tornou-se um excelente profissional, sempre em busca de mais dinheiro e poder, sem se importar com as consequências de seus atos desde que pudesse obter mais lucro. Mentia, trapaceava e manipulava para conseguir o que queria e estava dando certo. 

Miguel chegava em casa e comentava com a esposa:

— Esse menino é ambicioso, Eleonora! Aprecio o modo como ele conduz os negócios. 

Ela perguntava sobre os fatos e tentava analisar cada atitude de Tomás:   

— Cuidado Miguel, às vezes, essas coisas que você conta, me parecem mais ganância do que ambição.

Num determinado dia, Tomás ouviu uma dessas conversas e ficou completamente decepcionado com a madrasta. Quem poderia imaginar Eleonora, que sempre o tratou como se fosse seu filho, tentando difamá-lo? Indignado com tamanha traição, ele demonstrou mais uma vez o quanto era temperamental. De súbito, ele foi até a garagem e furou o cilindro mestre do freio do carro de Eleonora com uma chave de fenda. A vontade era de enfiar a chave na garganta dela, mas isso foi suficiente para passar a raiva! 

No dia seguinte, Eleonora estava a caminho da casa de uma amiga quando perdeu o controle do carro. A morte dela não foi imediata, mas como o carro entrou embaixo de um caminhão quando o freio falhou, foi só uma questão de tempo.     

Obviamente haveria uma investigação, mas como a ferramenta e a luva usadas para a sabotagem eram do Miguel, ele foi condenado e preso.

Tomás ficou pesaroso pela perda da madrasta e mais ainda com a prisão do pai. Mas com um grande senso de responsabilidade, assumiu a presidência da companhia em substituição ao pai.

 

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