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SINGRAR - ANTOLOGIA 2022 - LANÇAMENTO - FOTOS

 

 


Lançamento foi no sábado  
dia 19 de novembro 
às 16 horas
No clube Alto dos Pinheiros



Aos DEZ ANOS do ESCREVIVER os participantes comemoram com 33 interessantes contos na antologia SINGRAR.

Além da qualidade literária, devo ressaltar a perfeita sincronia de todos os autores para que essa antologia fosse publicada e para que o evento de lançamento fosse um sucesso.


Vejam que legal o SINGRAR já singrando pelas redes sociais. 



Singrando através de histórias

EscreViver - Oficina de criação de textos e criatividade literária

 

Chegamos a um momento da vida literária em que novos escritores, foram impulsionados ao desencorajamento, pois acreditam que um bom texto precisava de inspiração, de dom literário, de capacidade especial para ser elaborado, e passaram a aceitar de maneira quase natural, essa incompatibilidade existente entre eles e a escrita. 

Foi nesse nicho que surgiram as Oficinas Literárias.  Foi acreditando que um escritor poderia aprender a sê-lo, que surgiu a Oficina EscreViver do Clube Alto de Pinheiros.

A oficina EscreViver é um espaço de criação e criatividade. Um embarque para a aventura de descobrir a capacidade de inventar histórias.  Onde não desenvolvemos apenas a escrita, mas também a leitura, pois uma atividade não caminha sem a outra. Desenvolvemos a amizade através de boas conversas enquanto tomamos um café. Desenvolvemos a autoestima e aprendemos que o ato de escrever não requer idade, basta ter vontade e exercitar muito, como tudo nesta vida.

Na dinâmica dos encontros favorecemos a criatividade através de estímulos e ideias motivadoras oferecidas pela mediadora Ana Maruggi.  Diversos meios de aplicabilidade das inúmeras funções da gramática e da literatura são apresentados a cada dia.

Podemos dizer que nesta oficina praticamos o talento de escrever. Prova disso são as mais de cinco mil histórias geradas, os mais de 40 livros editados pelos participantes, e as cinco antologias que reuniram centenas de contos criados na oficina.

SINGRAR é a mais recente antologia deste grupo fantástico de associados, que abrange contos de variados temas de 11 autores. Onze nomes, todos maduros de idade e de imaginação. Todos repletos de bagagem, de valores, de histórias e fatos que, de alguma maneira, fazem parte dos enredos deste livro.

Nesta antologia, como o próprio nome já revela, esses escritores singram pela literatura, deixando para a eternidade, rastros de vidas figuradas.

Que a inspiração de cada um brote todos os dias em novas histórias.

Homenagem: Por aqui já passaram nomes que deixaram saudade e o reconhecimento de eterna amizade, como Oswaldo Romano, José Vicente Jardim de Camargo e Judith Cardoso, colegas que ficarão em nossa memória e que faremos o possível para manter acesos em nós.

HOMENAGEM PÓS-LANÇAMENTO – Façamos aqui uma especial homenagem a nossa querida amiga Maria Amélia Favale que nos deixou neste final de ano. O que fica é a alegria, a força e a coragem de viver.

 

Ana Maruggi

Coordenadora da Oficina de Escrita Criativa EscreViver


 

Sumário

 

Adriana Frosoni

A melhor balada do mundo ......................... 7

O casarão..................................................... 13

Sonho e realidade........................................ 19

 

Antonia Marchesin Gonçalves

A escultura .................................................. 23

A rua ........................................................... 29

As gerações de um casaco de inverno ........ 35

Beleza = Felicidade? ................................... 39

Fazenda dos sonhos.................................... 43

Joe o marujo................................................ 49

O jovem biólogo aventureiro ..................... 53

O karmann-ghia ......................................... 59

O parto prematuro...................................... 63

Um mergulhador obstinado........................ 69

 

Fernando Braga

A última história de Zé Osvaldo ................ 75

 

Gustavo Kosha

Marlene ...................................................... 87

 

Ises de Almeida Abrahamsohn

O pacto...................................................... 93


Luiz Guilherme Cruz

Brumas ....................................................103

 

Maria Luiza Malina

Calçadas de Curitiba ..............................105

Dois em um — o pecado da cobiça.........107

Uma loja de perfumes ...........................111

 

Maria Verônica Azevedo

O Cavaleiro Destemido ...........................119

 

Oswaldo U. Lopes

Memória desta vida se consente ............123

Bandeira Branca......................................129

Grândola, Vila Morena............................133

O gesto humano......................................141

 

Sérgio Dalla Vecchia

Difícil de explicar ..................................147

Coragem ................................................151

Escolhas.................................................157

O jogo da vida .......................................163

Sussurros intrigantes ............................167

 

Suzana da Cunha Lima

O bar do Juca .......................................171

Promessas.............................................175

O fundo do poço...................................179


O evento ocorreu na tarde de sábado com alguns

 autores e familiares.

Vejam abaixo algumas imagens do lançamento:













































































Agradecemos muitíssimo todo empenho, todo carinho 

de cada um de vocês.


FELIZ ANO NOVO!!!



Uma História - Yara Mourão

 



Uma História

Yara Mourão

 

Buscando um enredo, saí à rua.

Era uma tarde mansa, dessas do fim da primavera, quando o sol morrendo lança silhuetas escuras na linha do horizonte. O céu, já meio adormecido, tinha tons de rosa e cinza e anunciava as horas quietas pelas quais se espera, todavia.

Eu admirava essa conjuntura tão serena quando meus olhos se encontraram com o formato solene, porém discreto, do Pico do Jaraguá. Ele também já se envolvia em brumas mas estava ali, presente há séculos no limite da cidade, como uma sentinela.

O pico é um lugar icônico, com trilhas e matas e no seu entorno o Jaraguá abriga uma comunidade indígena.

Considerei que os indígenas são quase uma relíquia, algo a ser muito preservado, pois são os guardiões do que chamo de ¨espanto primeiro¨. Porque sempre me fascinou o que teriam sido os primeiros encontros dos colonizadores com os indígenas aqui no Brasil.

Quando os portugueses chegaram eles se depararam com todo um universo oposto ao que conheciam como civilização, e isso criou esse espanto em ambos os lados.

O que é uma civilização? O que é uma cultura? O que é um reino ou algo que o valha? Uma aldeia?

Fiquei cismando sobre tudo isso e na impossibilidade de visitar essa pequena comunidade, pontuei, ao contrário dos primeiros colonizadores, as semelhanças, essas, sim fascinantes, entre nós e esses vizinhos.

Para começar, eles são sobreviventes, persistentes, e sabem que ¨a vida é luta renhida viver é lutar¨. Nós sabemos também, muito embora ainda não estejamos no limiar da sobrevivência. Eles cultuam seus próprios ídolos, dançam suas próprias músicas e falam sua linguagem suave e tão significativa. Nós também mantemos nossas crenças, nosso canto, e agradecemos todos os fonemas deles incorporados ao nosso linguajar, como os saborosos Anhanguera, Anhangabaú, Itamambuca, Itaquaquecetuba, Pindamonhangaba, e muitos mais...

Já era noite, resolvi voltar para casa. No caminho, um garotinho me estendeu a mão e me pediu um trocado. Para meu espanto o pequeno tinha um rosto moreno, cabelos muito lisos, os olhos um tanto amendoados. Me curvei para vê-lo bem de perto enquanto buscava moedas na bolsa. Ele sorriu, disse que estava com fome, que morava longe.

Era meu pequeno indiozinho, de certo, pensei. Não importa se não era. Um sobrevivente igual. Dei-lhe um dinheirinho e falei para ele ir até à padaria comprar comida. Me devolveu um rápido ¨obrigado, tia¨ e saiu correndo, virou a esquina. Era meu caminho também, fui atrás. E lá estava ele, com uma família inteira sentada na rua, envolta em panos, carinhas sujas, pés no chão.

Da janelinha do ônibus ele me acenou. Dei-lhe um adeus e então, no letreiro, pude ler o destino: Aldeia Tekóa Pyau, no Pico do Jaraguá.

Já então, mansamente, a noite abraçava a cidade.

Nellie Bly em 2022 - Yara Mourão

 



Uma mulher à frente de seu tempo

Nellie Bly em 2022

Yara Mourão

 

Aquele e-mail chegou fora de hora, já de madrugada, deixando Nellie bem irritada. Não fazia sentido, no final de 2022, uma presença masculina para justificar a participação feminina no que quer que fosse.

Ela respondeu de pronto. Sempre polida, disse que agradecia o zelo do editor, mas como já tinha tudo engatilhado, partiria em poucos dias.

O que Nellie mais aguardava era o encontro com o famoso escritor que criara um mundo fantástico para aventureiros e pesquisadores. Ansiava conhecê-lo pessoalmente, o seu acervo literário, seu entorno de relações e realizações.

Quando amanheceu, Nellie se pôs em frente ao computador e acessou tudo o que precisava para realizar a viagem de seus sonhos.

Logo no início, solicitou ao escritor um encontro para próximo fim de semana, se possível. Em seguida, buscou os sites de hotéis e empresas aéreas. Era preciso já reservar acomodação, comprar passagem. Nessa época de fim de ano é mais difícil encontrar o que nos é conveniente. Ainda mais em se tratando de Paris e, talvez, também dar umas voltas pelo resto do mundo!

Enquanto aguardava os resultados de sua busca na internet, Nellie se dedicou à tarefa de fazer a malas. Ficou muito em dúvida sobre o que levar, considerando que as atuais mudanças climáticas eram imprevisíveis. Mesmo assim, não queria surpresas, e preparou uma mochila com roupas de verão, protetor solar, óculos e chapéu, e ainda uma mala com guarda-chuva, capa, botas e casacões. Considerou que já poderia até fazer uma volta de mais de 80 dias pelo mundo!

Em seu lap top ela recebeu as respostas de que precisava, menos a da companhia de aviação. O site da Air France não abria! Tentando outra companhia, Nellie conseguiu acertar com a British Airways que tinha uma conexão Londres-Paris diariamente. Melhor assim, não perderia muito tempo.

Finalmente, após três dias, chegou o momento da viagem. O voo, às onze horas da noite, até Londres seriam 10 horas de pura expectativa. Depois, a conexão para Paris levaria uma hora e pouco de completa excitação.

E assim, tudo se encaixou com perfeição como costuma acontecer com o domínio das tecnologias.

Já no táxi, Nellie contava os minutos para chegar ao endereço, o que levou pouco mais de meia hora. Em frente à casa de pedras e florezinhas na janela, ela bateu à porta e, para sua surpresa, ele próprio apareceu! Sim, Júlio V. , seu querido autor! E ele, ajeitando o gorro na cabeça, com um sorriso amarelo, foi logo dizendo:

Nellie! Até que enfim você chegou!

Ela desculpou-se pela demora, mas intimamente considerou que esse prazo foi o possível nesses dias conturbados, e que afinal haviam se passado apenas seis dias desde o convite para o encontro até aquele exato momento.

Bem, assim era a vida nos anos 2022...

 

O QUADRO DA MENINA COM BALÃO DE CORAÇÃO - Sérgio Dalla Vecchia

 



O QUADRO DA MENINA COM BALÃO DE CORAÇÃO

(releitura da ocorrência com a pintura)

Sérgio Dalla Vecchia

 

Juju era uma menina no auge dos sete anos bem vividos, com amor e afeto dos pais.

Alegre, brincalhona e tudo fazia sob o comando do coração, leve e translúcido como água de fonte.

Esse bom estado de espírito era ratificado por uma deficiência física única. Seu coração de tão leve e puro, flutuava fora do corpo, como um balão vermelho na forma de coração, preso com um cordão em uma das mãos da menina. Eram inseparáveis, assim ligados levavam alegria e simpatia por onde passavam. Os amiguinhos estavam sempre pontos para uma brincadeira.

Certo dia Juju passeava pelo parque e deparou com um pintor trabalhando. Ele montava uma tela crua no tripé, quando ela curiosa se aproximou.

Ele percebendo, calmamente virou-se e logo disse:

— Olá menina do coração leve, eu já a havia visto neste lugar e a sua aura logo me despertou a atenção, por isso voltei aqui pronto para pintar o meu melhor quadro usando você como modelo, caso você me permita.

Juju desconhecia o advérbio não e como só conhecia o sim, concordou. Logo que terminou de pintar a tela, contemplou-a por algum tempo com muita admiração. Assinou seu nome fictício Banksy e sonhou sussurrando a frase. Esse quadro será muito famoso e conhecido no mundo todo.

De fato, o sucesso aconteceu rapidamente, mas Banksy de triunfante pôr ser o autor de obra tão valiosa, passou a sentir-se incoerente com a proposta de retratar a pureza de uma menina com o balão no Parque, para depois ser adquirido por um colecionador que desconhece totalmente o sentimento do artista e sua proposta.

Assim convicto articulou um protesto usando o próprio quadro.

A tela ficou exposta em uma casa de leilão na cidade de Londres, com lance inicial de  mais de um milhão de libras, e logo foi arrematada por um colecionador internacional. Aconteceu que na cerimônia de entrega, sob aplausos e admiração de todos, a tela começou a mover-se para baixo ao mesmo tempo que ia sendo cortada em tiras por um triturador colocado desapercebido atras do quadro e acionado por controle remoto. O episódio foi noticiado pela mídia internacional, causando impacto em todo o mundo!

Desta forma o protesto de Bansky foi realizado com sucesso para o êxito da coerência entre proposta e realidade, enaltecendo as duas almas puras!

O SOLITÁRIO - Antonia Marchesin Gonçalves

 


O SOLITÁRIO

Antonia Marchesin Gonçalves

 

Sou observadora do ser humano desde pequena. Tímida, pouco falava, mas sempre absorvia as conversas dos adultos que mal me notavam, com raras exceções. Cresci e aprendi a analisar os meus observados, analisando o mau-gosto no meu ver no vestir, os que falavam alto, os que riam de tudo, os distraídos e os desinteressados, e atualmente os dependentes de celular. Nos últimos tempos uma figura em especial me chamou atenção. Ao frequentar de tempos em tempos meu restaurante favorito, nas ultimas três vezes em que fui, um mesmo personagem estava presente.

Um senhor dos seus setenta e poucos anos, gordinho, sempre a barba por fazer, a primeira vez que o vi achei parecido com o Jô Soares e comentei com o meu marido, só que não com o mesmo requinte no vestir, está sempre de camiseta clara. Senta sempre na mesma mesa, a segunda da frente. O engraçado e intrigante é que são duas mesas juntas, ou seja, para seis lugares, sentado sempre na ponta de frente para a porta de entrada, imagino que para ver todos que entram. Com a feição tranquila, em momento nenhum recorre ao celular como distração.

Servido com o coquetel de gim e tônica, bebe devagar saboreando, em geral dois drinks até chegar seu pedido, continuando com o mesmo semblante. A primeira vez achei que guardava a mesa para seus convidados, o que nunca aconteceu. Aí a curiosidade minha aumentou, comecei a matutar, perdeu a esposa e mantêm o lugar em respeito e saudade como se lá estivesse, mas ainda sobram quatro lugares, seriam os filhos ou os pais ou os dois. Tinha a possibilidade de ser um solteirão rico, morando no casarão e nas folgas dos empregados, lá ele tem o mesmo atendimento e sendo acostumado com mesa grande por isso os seis lugares, egoísta não se importando com o prejuízo do restaurante em não dispor das mesas para outros clientes.

Nunca tive coragem de perguntar aos garçons sobre esse cliente, a educação me autocensura, continuarei com a curiosidade.

Ah! Pode ser que ele seja escritor ou cronista, e tudo que observa sirva de inspiração e critica, como eu.


LUIZ GUILHERME - O POETA PREMIADO

 



Luiz Guilherme é o poeta da vez!

PARABÉNS!!

PRÊMIO NACIONAL DE LITERATURA DOS CLUBES
POESIA, CRÔNICA E CONTO | 7ª EDIÇÃO | 2022

2ª colocação no quesito POESIA.

Esse trabalho delicado e bem construído, poderá ser lido também na antologia  SINGRAR:

Segundo lugar | Luiz Guilherme Martins Sales da Cruz Alves Cyrillo | Brumas | Clube Alto dos Pinheiros (São Paulo – SP)


BRUMA 

Luiz Guilherme Cruz

  

A brisa morna ou quente

Tem tempo de lua vazia

Escuros surgem de repente

Junto as nuvens sombrias

 

Enxergo sem saber se vi

Os fantasmas logo ali

Que as nuvens não escondem

Com olhos de longe perdi

 

Que pesadelo seriam essas brumas

Torno-me incapaz de distinguir

Se são restos de espumas

Ou se são verdades que eu vi

 

Guardo a vista olhando o céu

Repriso toda vida que vivi

Andando sem destino ao léu

Porque será que morri?