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Canteiro de gardênias - Adriana Frosoni

 



Canteiro de gardênias 

Adriana Frosoni

  

Intrigante é a capacidade de afetação de um aroma sobre uma pessoa. E como um único inspirar pode despertar tantas sensações, com tamanha intensidade!  Mais de 25 anos se passaram e Hannah ainda sentia uma pontada no peito todas a vezes que passava perto de um canteiro de gardênias que estivesse exalando seu perfume adocicado.

Desacelerava o passo e o pensamento viajava, vinham à tona várias vivências, e ela era capaz de sentir como se tudo estivesse acontecendo de novo. Algumas vezes era como se sentisse a frescura do início da adolescência e a leveza da caminhada na volta da escola. Mas aquele perfume inesperado ainda a fisgava das mais variadas formas. Certa vez, a sensação foi tão intensa que ela não pôde conter um sorriso e um leve rubor quando a memória foi invadida por um certo par de olhos verdes que lhe causavam calafrios. Eles eram devastadores e fascinantes, e as trocas de olhares invariavelmente terminavam em beijos furtivos.

Definitivamente aquela fora uma fase feliz, tanto que uma vez ela até voltou ao mesmo local, à procura do conforto daquele perfume. Mas assim como todo o resto, o canteiro não estava mais lá: as doces gardênias tinham sido substituídas por insípidas strelitzias, lindas e coloridas, mas totalmente desprovidas do perfume que procurava. Depois disso decidiu não mais perscrutar o passado; não voltaria mais lá, estava decidido.

Tornou-se cada vez mais raro perceber aromas de flores ao acaso, talvez fosse o adensamento populacional da cidade ou a poluição que não permitisse mais que tais perfumes cumprissem o seu papel no imaginário das pessoas. De qualquer forma, com ou sem gardênias, a vida seguiu em frente.

Com o tempo, memórias e sensações antigas se arrefeceram e foram relegadas ao esquecimento. Um dia, durante sua corrida rotineira, o delicioso aroma tomou conta de sua alma novamente e ela percebeu, com um prazer secreto e indescritível, que um canteiro de gardênias acabava de ser plantado, pois também sentia cheiro de terra úmida. Mas quando foi à procura das pequenas flores brancas que estavam exalando o perfume, enorme foi susto de, desta vez, ser descoberta por olhos castanhos, atentos, que surgiram por detrás das plantas. Desconcertada por ter sido pega de surpresa, estacou e explicou que estava apenas procurando as flores. Justificou-se em vão, um sorriso convidativo já estava instalado no rosto daquele homem com as mãos sujas de terra. E ele aproveitou o silêncio envergonhado da exploradora para fazer um convite para que ela conhecesse o resto de seu jardim, cultivar plantas perfumadas era o hobby dele.

A julgar pelo número de canteiros e pela variedade das flores existentes no tal no jardim, associado à disposição que ele demonstrou em apresentar tudo detalhadamente, pôde-se concluir que o novo casal se deu muito bem. Novas memórias perfumadas foram criadas. 



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