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O ARADO-VOADOR - Suzana da Cunha Lima

 



O ARADO-VOADOR

Suzana da Cunha Lima

 

Moravam numa terra desolada, de campos estéreis, onde o vento corria livremente, levando tudo que estivesse à sua passagem. A mulher e filhos já tinham partido para a cidade mais próxima, totalmente descrentes de que algum resultado pudesse ser extraído daquele chão tão seco. Quantas vezes o vento implacável levara o telhado da casa e muito do que plantavam com tanto sacrifício?

Seu Pedro, no entanto, teimoso, persistia na vontade férrea de fazer algum dinheirinho naquele seu pequeno terreno.

Sabia que não podia nada contra aquela força da natureza, então pensou: vou fazer esse danado trabalhar para mim. Como o solo era muito árido, não havia enxada que durasse e ele não tinha mais força para mover o arado e o velho boi que tanto o ajudara já morrera de exaustão.

Arrumou uma lona enorme e transformou-a numa espécie de balão, não exatamente para voar.  Na verdade, transformou-o num arado voador, controlando a direção numa ponta da lona.  No início foi levado pelo vento, e sendo presenteado com muitos arranhões e esfolados nos braços e pernas. Teve que reconstruir seu artefato muitas vezes, mas de a cada vez ele melhorava a invenção e como dizem que a prática faz o mestre, ele finalmente conseguiu dominar seu balão.

Lamentou não poder dividir a alegria com a família, mas tinha que demonstrar a utilidade daquilo primeiro.  Delimitou uma área para o plantio e se posicionou numa ponta, com vento de popa.  Foi um sucesso! O arado ia fundo e dali surgiu uma terra muito boa.  O que levaria meses para ser feito, Seu Pedro fez numa tarde ventosa com seu balão.  Tão feliz ficou que resolveu patentear sua invenção.  Foi à cidade, fez demonstrações e logo arrumou um sujeito endinheirado que se interessou muito pelo seu arado voador.   Vendeu na mesma hora e foi buscar a mulher e os filhos.  Mas não voltaram mais. Mudaram-se para um lugar melhor onde os filhos pudessem estudar.

Mas a verdade verdadeira é que o arado-voador era muito bom para sulcar a terra, mas ele não sabia se o vento ia permitir que brotasse e crescesse alguma coisa dali. Vento é vento.

 

 

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