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O vizinho pescador - Ises de Almeida Abrahamsohn




O vizinho pescador
Ises de Almeida Abrahamsohn



Nossa família morou durante muitos anos em Iguape. Meu pai tinha uma fazendola de bananas não longe da cidade. Nós morávamos em uma casa modesta de frente para o mar. Meus pais, eu e meu irmão Eduardo apenas dois anos mais velho. Não tínhamos TV, apenas rádio que minha mãe escutava o dia inteiro. Meu pai tinha uma razoável biblioteca de obras de ficção comprada quando ia a Santos. Todas as noites ouvíamos o noticiário nacional e internacional e depois meu pai ligava na rádio Gazeta que transmitia música clássica. Nós garotos fazíamos a lição, ou líamos ou jogávamos no quarto algum jogo de tabuleiro sem fazer barulho. Às nove e meia da noite já estávamos na cama para acordar às seis e meia. A escola pública ficava no centro da cidade a uns quinhentos metros de nossa casa. Era uma boa caminhada de manhã e de volta ao meio dia. A nossa diversão era jogar bola ou taco na praia com colegas e pescar. Naqueles anos da década de 1950 eram poucas as casas como a nossa de frente ao mar. A maioria era apenas de veraneio eram raros os moradores ao longo da praia. Não havia vizinhos da nossa idade. O nosso vizinho mais próximo era um homem já de idade, careca que morava sozinho e passava a maior parte do tempo pescando. Bem cedo de manhã ele palmilhava a praia escavando a areia para catar corruptos e tatuís para usar como isca. E o velho era um bom pescador. Nós garotos de longe víamos com inveja ele içar pampos, corvinas e até tainhas na época desses peixes.

        Um dia Eduardo armou-se de coragem e foi falar com o vizinho. Ele falava uma mistura de português com espanhol com forte sotaque de alguma outra língua. Nos explicou como conseguir as melhores iscas e a melhorar nossas carretilhas e varas de pesca. Creio que falamos com ele uma duas ou três vezes e depois apenas um aceno ou bom dia quando cruzávamos na praia.

Quando meu irmão completou o então chamado ginásio, meu pai o enviou para Santos para fazer o curso científico.  Ele ia morar com nossa tia que era professora de história na mesma escola. Eduardo vinha para casa nos feriados prolongados e nas férias de julho. Numa dessas ocasiões fomos pescar e, ao ver de longe o vizinho pescador, meu irmão com ares misteriosos disse talvez conhecer a identidade do homem. Nas aulas de história havia aprendido sobre o nazismo e como os criminosos haviam conseguido escapar e se refugiado no Paraguai, Argentina e mesmo no Brasil. Fiquei muito impressionado mas achei que Eduardo por  adorar histórias de mistério tinha inventado essa para me impressionar. À noite ao jantar contei ao meu pai que, surpreendentemente, deu crédito à hipótese de meu irmão. Apenas disse: Não se metam vocês com o homem ou a investigar.

Alguns meses depois lemos no jornal que um criminoso de guerra foi finalmente apanhado devido a uma denúncia anônima de um morador da cidade de Iguape. Meu pai nunca nos falou se foi ele o denunciante. Mas nós sempre acreditamos que foi a contribuição dele à justiça terrena.


CONCURSO LITERÁRIO DO CLUBE ALTO DOS PINHEIROS -










PRAZO LIMITE PARA ENVIO DO TEXTO: 31 de janeiro de 2020




Fiquem atentos à data limite para envio do material literário.



PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO DO
 CLUBE ALTO DOS PINHEIROS – 2019/2020







REGULAMENTO

Este é o primeiro concurso literário do Clube Alto dos Pinheiros. Gostaríamos de evidenciar o enorme prazer que temos em levar este projeto para os associados e seus dependentes. E ao encorajá-los à esta experimentação provocamos a união em torno de em uma atividade cultural, incentivando-os a escrever e ler assiduamente.


QUEM PODE PARTICIPAR:


Podem participar associados do Clube Alto dos Pinheiros e seus dependentes. Não há limite de idade para o participante.

Para cada número de associado, apenas um texto poderá concorrer.

Funcionários e prestadores de serviço ficam proibidos de participação.


SOBRE A INSCRIÇÃO:

A inscrição poderá ser realizada a partir dia 30 de novembro de 2019 e ficará disponível para recebimento de material até o dia 31 de janeiro de 2020.
É gratuita e é feita automaticamente quando do envio do texto.



SOBRE O TEXTO:

Serão aceitos o gênero literário: CONTO – Tema: livre.

O texto deve ser escrito em português, no Word, fonte Arial –tamanho 12, e NÃO deverá passar de 33 linhas, incluindo título, incluindo os espaços, margens normais, espaçamento entre as linhas: 1,5.

Não é exigido ineditismo ou exclusividade, no entanto se o texto for inédito haverá maior consideração em caso de desempate;

Não deve conter ilustrações, gráficos ou quaisquer tipos de imagens, não deverá ter rodapés ou cabeçalhos.

No final da página deverá constar nome completo do autor, número do associado, telefone e e-mail de contato.


SOBRE O ENVIO:

Os textos deverão ser enviados anexados ao e-mail para: 

No lugar destinado para o assunto, digitar:
CONCURSO LITERÁRIO CLUBE AP + NOME DO PARTICIPANTE

Do corpo do e-mail devem constar os seguintes dados:
TÍTULO DO TRABALHO
NOME COMPLETO DO ASSOCIADO
NÚMERO DE SÓCIO
TELEFONE DE CONTATO (WhatsApp- se tiver)
E-MAIL 



DISPOSIÇÕES GERAIS:

A revisão do texto é de responsabilidade do próprio autor;
O Clube Alto dos Pinheiros tem direito de expor os textos em qualquer tempo, de divulgar o autor vencedor do concurso, poderá também publicar o texto no site, blog, revista, e onde for adequado para visualização.
O escritor partícipe do concurso não poderá editar ou remover seu texto depois de enviado.
O autor permanece detentor de todos os direitos autorais. No entanto, fica acordado que os autores isentam o Clube Alto dos Pinheiros do pagamento de Direitos Autorais.


JULGAMENTO – RESULTADO - PREMIAÇÃO

Os textos inscritos serão previamente analisados por comissão julgadora composta por moderadores ajustados pelo EscreViver do Departamento Cultural. A avaliação desta comissão é soberana e não poderá ser contestada.

O RESULTADO será divulgado em fevereiro.

A PREMIAÇÃO ACONTECERÁ no sábado -  7 de março de 2020, na BIBLIOTECA às 16 HORAS.

O texto VENCEDOR, receberá troféu exclusivo do Concurso, e um jantar para 2 pessoas no Restaurante do Clube (bebidas não inclusas).  
O segundo colocado receberá Troféu exclusivo + Vale Cultura do Departamento Cultural
Assuntos peculiares que não constem deste Regulamento serão avaliados pelo Departamento Cultural.
Quaisquer dúvidas sobre este regulamento ou sobre o concurso, podem ser esclarecidas diretamente no Departamento Cultural, ou através do e-mail oficinadetextosescreviver@gmail.com com Ana Maruggi.


Veja também esta  publicação  no site do Clube:

http://www.clubeap.com.br/cultural.php?id=1313

O segredo inexistente - Ises de Almeida Abrahamsohn





O segredo inexistente
(um conto para recordar ou conhecer como era a época da ditadura)

Ises de Almeida Abrahamsohn


Rodolfo não aguentava mais. Ao sentir os choques antes de desmaiar via lâmpadas do teto balançando e piscando. Acordou com a dor da pancada nos rins. Ouviu de novo ao longe a voz que já conhecia repetindo o mantra insistente.

A pergunta feita e refeita entre as pancadas e os choques era para ele dizer os nomes dos companheiros e onde se reuniam. Os algozes queriam saber quais colegas do CRUSP estavam na militância.

Não tinha adiantado Rodolfo dizer que não estava metido em política. Os PMs jogaram o aluno do terceiro ano de física da USP no camburão.  O destino era o DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) lá na praça Júlio Prestes perto da rodoviária. Rodolfo inicialmente foi interrogado por um delegado. Repetiu que não era da militância e que não estava envolvido na ação política. Respondeu que conhecia o Lélio e o Marcos apenas das aulas práticas na faculdade. De fato, faziam os experimentos juntos em grupo, mas era só, apenas isso. Não sabia nem onde moravam, nem o que faziam.

Pediu para avisarem seu pai. Tinha confiança que era um engano e logo iria ser libertado.  Foi o que disse ao delegado.

Não foi. Foi levado para o porão e trancado numa cela escura sozinho depois que lhe tiraram os sapatos e o cinto. Estava muito assustado. Alguma luz filtrava das lâmpadas fracas do corredor. Chegando-se à grade podia enxergar algumas celas semelhantes ao lado e em frente. Depois era a escuridão, mas Rodolfo podia ouvir os gritos distantes e alguns gemidos. Da cela ao lado ouviu uma voz rouca de jovem. Perguntava-lhe quando e por que tinha sido preso. O estudante respondeu que tinha sido lá pelas seis da tarde e que os caras pensavam que ele era metido em política.

Mas é um engano, repetiu. Meu pai já foi avisado e virá me tirar daqui.

Ouviu a risada irônica do vizinho.

  Você acredita que vão avisar seu pai? Esqueça! E se te procurarem, eles vão negar que está aqui. E vão te bater até você falar ou até eles desistirem.

Rodolfo sentiu o medo piorar bem na boca do estômago. Fugiu para o fundo da cela. Sentado no chão e escorado na parede imunda e úmida repetia para si mesmo que não tinha nada a contar. Logo iriam tirá-lo dali.

Lá pelas onze vieram buscá-lo. Perguntou se tinham avisado o pai. O policial deu risada e debochou:

 Tu acha que a gente vai ficar ligando para a família dos comunas que despejam aqui? Você não sai antes de cantar tudo que sabe...

Enfiaram-lhe um saco na cabeça e o conduziram até um quarto fortemente iluminado por três lâmpadas nuas penduradas por fios no teto. Ao enxergar de novo viu dois sujeitos de jeans e camiseta fumando a um canto. No outro canto dois baldes que pareciam conter água. E, ao centro, a armação de que Rodolfo tinha ouvido falar, mas nunca visto. A barra de madeira roliça presa nos dois apoios de ferro. Tentou correr para a porta, mas os dois, chamados de Cavalo e Miúdo pelo policial o agarraram. O policial rindo saiu dizendo que o Cavalo e o tal Miúdo iriam fazer ele falar o que sabia. Enquanto tirava a camisa levou o primeiro soco no estômago.

É  para testar, riu Cavalo. Rodolfo vomitou. Jogaram-lhe água. O outro prendeu-lhe os pulsos com um nó de corda e arrancou as calças e cueca. Cavalo encurralou-o contra a parede. O mesmo Miúdo acionou um gravador apoiado num banquinho de plástico encardido.

E começou a pancadaria e sempre as mesmas perguntas. Quais eram os outros caras da militância ? Aonde se reuniam?

Rodolfo apanhou até desmaiar. Quando acordou estava pendurado. Sentiu o forte cheiro das próprias fezes e estava com o corpo molhado. E frio! Entendeu que lhe tinham jogado água.

Na terceira rodada de choques Rodolfo desmaiou. Acordou ao ser arrastado nu e torturado de volta para a cela. Ainda tonto, ouviu o tal Miúdo que era o chefe da tortura falar que, ou ele não sabia mesmo nada ou teria que ser encaminhado ao Dr. Tibiriçá.

Lá ele vai cantar mesmo, respondeu Cavalo rindo.

Rodolfo acordou no chão na manhã seguinte sentindo a bota do policial cutucando-lhe as costelas. Meio surdo dos socos recebidos ouviu que era  para se vestir. O sujeito jogou-lhe as roupas.

─ Alguém veio te buscar seu fdp. Tu deve conhecer gente importante pra sair tão logo daqui!

Na saída, Rodolfo encontrou o pai que o levou para casa. Soube que o pai tinha se comunicado com Dom Evaristo Arns e com o Rabino Sobel para descobrir seu paradeiro. Um mês depois, ainda se recuperando das costelas quebradas, o jovem viajou para os Estados Unidos onde se formou e mora até hoje. Nunca esqueceu os seus dois salvadores.

E o segredo ? Nunca existiu! Rodolfo não tinha nenhuma atividade política.

P: S: Dr. Tibiriçá era o apelido do Coronel Brilhante Ustra.

Os olhos ajudam a matar a fome - Maria Verônica Azevedo




Os olhos ajudam a matar a fome
Maria Verônica Azevedo


        Estávamos em Wocsom, recém-chegados de Berlim. Fora uma ideia repentina fazer aquela viagem maluca.

        Entramos num hotel pequeno, daqueles de porta na rua. Não tinha restaurante e nem café da manhã. Sem guia de viagem e nem qualquer indicação turística. Àquela hora avançada, com o cansaço batendo à nossa porta, não tínhamos outra coisa a fazer. Qualquer possibilidade de descanso servia.

        Já meio sem fôlego, jogamos o corpo exausto na cama. Nem pensamos em trocar de roupa. Foi difícil conciliar o sono. Não tínhamos ânimo nem mesmo para sair em busca do que comer.

        Também, no caminho, já tínhamos percebido que era impossível nos orientarmos por aquelas placas todas escritas num idioma estranho.

        Na manhã seguinte saímos em busca de comida. Ao virar a segunda esquina, demos de frente com uma feira livre. Espanto total! Era igualzinha a uma feira brasileira: barracas enfileiradas, grandes bandejas de madeira com frutas e verduras organizadas em filas, feirantes gritando naquele idioma esquisito com certeza anunciando ofertas, um vaivém de pessoas que examinavam as ofertas apalpando as mercadorias. Começamos logo a escolher o que nos parecia apetitoso só apontando com um dedo.


        O vendedor ia enumerando os produtos falando os nomes em voz alta:
        — Bíbulo, Renuído, ovençal, estau, etc. (beterraba cortada em rodelas, arroz doce, suco de maçã, pão de forma).
        Aí o velho, que ia colocando tudo em sacos de papel, parou para fazer as contas. Disse todo animado, mostrando o valor escrito em números compreensíveis para nós:

        — Esputação.

        Pagamos com o dinheiro que tínhamos trocado no posto de câmbio da estação do metrô, que, diga-se de passagem, era maravilhosa: amplos corredores, trens bem conservados, esculturas em bronze e pinturas modernas pelas paredes como uma verdadeira exposição de arte clássica.

        Com um sorriso franco, o vendedor da feira agradeceu com um sonoro:

        — Humifuso!

        Eu então respondi, imitando o rapaz que me agradeceu no posto de câmbio:

        — Otimates!

        Assim íamos, aos poucos, nos inteirando daquele estranho idioma.

        Nisso, meu marido se deu conta do absurdo do valor cobrado e de que eu tinha pagado sem protestar e me deu uma carraspana.

        Sem poder fazer nada, apenas disse:

        — Vamos procurar algo que se pareça com queijo!

        Depois de encontrar o que procurávamos, nos sentamos no gramado de um belo parque, na beira do grande rio para curtir a paisagem fazendo um piquenique.

APRENDENDO COM LEONARDO. - (Colaboração de Mario Augusto Machado Pinto)





APRENDENDO COM LEONARDO.
(Colaboração de Mario Augusto Machado Pinto)

(Transcritos do livro LEONARDO DA VINCI de Walter Isaacson, Tradução de André Czarmobai, pag.55o e segs.)

Vale ler até o final e degustar lentamente como que bebendo um "limoncella". VALE!



O fato de LEONARDO não ser apenas um gênio, mas também extremamente humano – um indivíduo peculiar, obsessivo e divertido, que se distraía com facilidade – faz com que ele nos pareça mais acessível. Ele não foi brindado com o tipo de brilhantismo que é completamente incomensurável para nós. Pelo contrario, LEONARDO foi um autodidata, alguém que trabalhou para pavimentar o caminho junto à genialidade. Então, mesmo que jamais sejamos capazes de equiparar seus talentos, podemos aprender com ele e tentar ser um pouco como ele era. Sua vida nos oferece lições riquíssimas.



SEJA CURIOSO, INCOMENSURAVELMENTE, CURIOSO:

Einstein escreveu certa vez a um amigo: “Não tenho nenhum talento especial. Sou apenas apaixonadamente curioso”.
LEONARDO, na verdade, tinha talentos especiais. Sua característica mais distinta e inspiradora era a intensa curiosidade. Entre outras coisas ele queria saber por que razão as pessoas bocejam, como elas andavam no gelo nos Flandres, métodos para realizar a quadratura do círculo, o que faz a válvula aórtica se fechar, como a luz é processada pelo olho e como isso influencia a perspectiva em uma pintura. Ele se instruiu a aprender sobre a placenta do bezerro, a mandíbula do crocodilo, a língua do pica-pau, os músculos do rosto humano, a luz da Lua e os contornos das sombras.
SER INCANSÁVEL E, ALEATORIAMENTE, CURIOSO SOBRE TUDO QUE NOS CERCA É ALGO QUE PODEMOS NOS ESFORÇAR PARA FAZER A CADA SEGUNDO DA VIDA, exatamente como ele fez. 



BUSQUE O CONHECIMENTO PELO SIMPLES PRAZER DA BUSCA:

Nem todo conhecimento precisa ser útil; às vezes ele pode ser perseguido por puro prazer.
LEONARDO não precisava saber como as válvulas aórticas funcionavam para pintar a Mona Lisa, da mesma forma que não precisava descobrir como os fósseis foram parar no topo das montanhas para criar a Virgem dos rochedos.
AO SE PERMITIR SER LEVADO APENAS PELA CURIOSIDADE, ELE PODE EXPLORAR MAIS HORIZONTES E IDENTIFICAR MAIS CONEXÕES DO QUE QUALQUER UM EM SUA ÉPOCA.



CONSERVE A CAPACIDADE DAS CRIANÇAS DE SE MARAVILHAR:

Em um determinado ponto da vida, a maioria de nós para de se importar com os fenômenos cotidianos. Podemos até aprecias a beleza de um céu azul, mas não nos damos mais o trabalho de descobrir por que ele é justamente dessa cor. Como Einstein, que escreve para um amigo: “Você e eu jamais deixaremos de agir como crianças curiosas perante o grande mistério no qual nascemos”.

PRECISAMOS TOMAR O CUIDADO DE NUNCA DEIXAR NOSSA CRIANÇA INTERIOR CRESCER OU PERMITIR QUE ISSO ACONTEÇA COM NOSSOS FILHOS.



OBSERVE:

O maior talento de LEONARDO era a habilidade aguçada para observar o mundo.
Era esse dom que alimentava sua curiosidade – e vice-versa. Não era uma espécie de dom sobrenatural, mas um produto de seus esforços.

Quando foi inspecionar os fossos que cercavam o Castelo Sforzesco, ele viu as libélulas e percebeu que elas tinham quatro asas e que os pares se alternavam durante o movimento. Quando andava pela cidade, ele notava como as expressões faciais das pessoas se relacionavam com suas emoções e descobriu como a luz é refletida em diferentes tipos de superfície. LEONARDO observou quais pássaros moviam as asas mais depressa para cima do que para baixo e quais faziam o contrário. Isso nós também podemos fazer. E quanto a água caindo em um recipiente? Fique observando, exatamente como ele, os redemoinhos se formando. Depois se pergunte: por que?



COMECE PELOS DETALHES:

Em um caderno, LEONARDO compartilhou um de seus truques para realizar uma observação cuidadosa: faça por etapas, começando pelos detalhes. 
Ele comparou à pagina de um livro que não pode ser absorvida em apenas um olhar; é preciso ler palavra por palavra.
“Se você quiser ter um conhecimento sólido sobre as formas de um objeto, comece pelos detalhes e não avance para o próximo se não tiver gravado bem o primeiro na memória. ”



VEJA O QUE ESTÁ INVISÍVEL:

O helicóptero de Leonardo


A principal atividade de LEONARDO durante grande parte dos anos de formação foi a produção de espetáculos, performances e peças teatrais. Nelas, ele misturava sua engenhosidade teatral com fantasia, o que lhe deu uma criatividade combinatória: ele era capaz de ver pássaros voando, mas também enxergava anjos; ou leões rugindo, mas também dragões.



MERGULHE NO DESCONHECIDO:

Códex Leicester


LEONARDO preencheu a página de abertura de um caderno com 169 tentativas de realizar a quadratura do círculo.
Em oito páginas do Códex Leicester, registrou 730 descobertas sobre o fluxo da água. Em outro caderno há 67 palavras descrevendo vários tipos de movimentos da água. Ele mediu cada segmento do corpo humano, calculou as relações de proporcionalidade e fez o mesmo com um cavalo.
Ele estudou todas essas coisas pelo simples prazer de aprender.



DISTRAIA-SE:

A matemática nos desenhos de Leonardo


A maior crítica que se faz a LEONARDO é o fato de esses interesses que ele perseguia de forma apaixonada terem feito com que saísse pela tangente, literalmente, no caso dos estudos de matemática. Kenneth Clark lamentou que eles “empobreceram seu legado”.  Contudo, a disposição de LEONARDO em se interessar por qualquer tópico que cruzava seu caminho deixou sua mente muito mais rica e com muito mais conexões.


RESPEITE OS FATOS:




LEONARDO foi um percursor da era dos experimentos observacionais e do pensamento crítico.
Quando tinha uma ideia, ele criava uma maneira de testá-la. E, quando a experiência mostrava que a teoria estava errada, (como a crença que fontes de água no interior da Terra eram alimentadas da mesma firma que os vasos sanguíneos nos seres humanos) ele abandonava a teoria e elaborava outra. Essa prática se tornaria comum um século depois, durante a era de Galileu e Bacon. Entretanto, ela era um pouco menos prevalente naquela época. Se quisermos ser um pouco mais parecidos com LEONARDO, não devemos ter medo de mudar de ideia conforme novas informações vão surgindo.



PROCRASTINE:




Quando trabalhava em A Última Ceia, LEONARDO às vezes ficava olhando para a pintura por uma hora, dava uma mísera pincelada e em seguida ia embora. Ele disse ao Duque Ludovico que a criatividade demandava tempo para que as ideias se apurassem e as intuições se firmassem. Explicou: “Homens de intelecto elevado às vezes obtêm seus maiores avanços quando trabalham menos, uma vez que suas mentes, então, ocupam-se com as ideias e com o aperfeiçoamento dos conceitos aos quais posteriormente darão firma. ”
A maioria de nós não precisa de nenhum incentivo para procrastinar; fazemos isso instintivamente. Mas procrastinar como LEONARDO dá muito trabalho: o processo envolve reunir todas as informações e ideias sobre um assunto e só então deixar que essa grande coleção fermente.



FAÇA COM QUE O PERFEITO SEJA INIMIGO DO BOM:

Rigor e obstinação

Quando não conseguiu fazer a perspectiva em A batalha de Anghiari ou a interação em A adoração dos magos funcionarem perfeitamente, LEONARDO abandonou essas obras em vez de produzir um trabalho que era apenas bom. Ele manteve consigo obras-primas como A Virgem e o Menino com santa Ana e a Mona Lisa até o fim sabendo que sempre poderia acrescentar uma nova pincelada.
STEVE JOBS também era tão perfeccionista que postergou a liberação do Macintosh original até que sua equipe conseguisse fazer com que as placas de circuito internas ficassem bonitas, muito embora ninguém fosse vê-las.
Tanto ele quanto LEONARDO sabiam que artistas de verdade se preocupam com a beleza até das partes ocultas.  Contudo, JOBS acabou adotando uma máxima que contradizia essa ideia “Artistas de verdade entregam”, significando que às vezes é preciso entregar um produto mesmo quando ainda há ajustes e melhorias a serem feitas. Essa é uma boa regra para a vida cotidiana, porém há momentos em que é melhor ser como LEONARDO e não desistir de algo até que esteja perfeito.



PENSE VISUALMENTE:




LEONARDO NÃO FORA ABENÇOADO COM A HABILIDADE DE FORMULAR EQUAÇÕES MATEMÁTICAS OU ABSTRAÇÕES COMPLEXAS. Por isso precisava visualiza-las, o que fez no estudo de proporções, nas regras de perspectiva, no método para calcular reflexos em espelhos côncavos e nas maneiras de alterar formas mantendo a área original. Com frequência, quando aprendemos uma formula ou uma regra – mesmo uma simples, como a multiplicação dos números ou a mistura de uma cor de tinta -, paramos de visualizar como ela funciona. Como resultado, perdemos a capacidade de apreciar a beleza fundamental por trás das leis da natureza.



EVITE FECHAR HORIZONTES:



No final de muitas de suas apresentações, JOBS mostrava um slide com uma placa do cruzamento entre as ruas “ Artes Liberais” e “Tecnologia”. Ele sabia que é nesse cruzamento que fica a criatividade. LEONARDO tinha uma mente aberta que perambulava alegremente por todas as disciplinas da arte, da ciência, da engenharia e das humanidades. Seu conhecimento sobre como a luz atinge a retina o ajudou a criar a perspectiva de A Última Ceia, e na página de desenhos anatômicos que mostra a dissecação dos lábios nele desenhou o sorriso que reapareceria na Mona Lisa. Ele sabia que a arte era uma ciência e a ciência era uma arte. Não importava se estava desenhando um feto no útero ou os turbilhões de um dilúvio: LEONARDO sempre borrava os limites entre as duas coisas.



FAÇA COM QUE SEU ALCANCE SEJA MAIOR DO QUE SUA COMPREENSÃO:



Imagine, da mesma forma que ele imaginou, como você construiria uma máquina voadora ou desviaria o curso de um rio. Aventure-se a projetar uma máquina de moto-contínuo ou resolver a quadratura de um circulo usando apenas régua e compasso.
EXISTEM CERTOS PROBLEMAS QUE JAMAIS RESOLVEREMOS. APRENDA POR QUÊ.



ALIMENTE SUA FANTASIA:



A besta gigante? Os tanques que pareciam tartarugas? As plantas para uma cidade ideal? Os mecanismos para bater as asas de uma máquina voadora controlada por um homem? Assim como borrava os limites entre ciência e arte, LEONARDO fazia o mesmo com o que separa a realidade da fantasia.
Ele pode não ter produzido máquinas voadoras, mas sua imaginação voou muito alto.



CRIE PARA VOCÊ, NÃO SÓ PARA OS PATRONOS:

Marquesa Isabella - tela apreendida na Suíça, falsamente atribuída a Da Vinci


Não importa o quando a rica e poderosa marquesa Isabella d´Este implorara. LEONARDO não pintou seu retrato. Mas ele começou a trabalhar em outro, o da mulher de um negociante de seda chamada Lisa.
Fez isso porque queria e seguiu aperfeiçoando essa obra pelo resto da vida, sem entregá-la ao cliente.



TRABALHE EM CONJUNTO:

Homem Vitruviano

A genialidade costuma ser vista como algo que pertence à esfera dos solitários, que se encerram em sótãos e são atingidos por lampejos de criatividade. Como a maioria dos mitos, o do gênio recluso contém certa verdade. Contudo, em geral há mais detalhes por trás da história. As Madonas e os estudos de planejamento produzidos no ateliê de Verrochio, assim como as versões de Virgem dos rochedos e da Madona do fuso e outras pinturas que saíram do ateliê de LEONARDO foram criadas em processos tão colaborativos que é difícil determinar quem os criou. O Homem Vitruviano (imagem acima) foi produzido após uma troca de ideias e esboços entre amigos. Os melhores estudos de anatomia de LEONARDO surgiram quando ele estava trabalhando em parceria com Marcantonio Della Torre. E seu trabalho mais divertido foi feito a partir das colaborações nas produções teatrais e entretenimentos noturnos produzidos na corte dos Sforza. A genialidade se origina de um brilhantismo individual, ela necessita de uma visão singular. No entanto, para executá-la, em geral é necessário trabalhar com outras pessoas: a inovação é um esporte coletivo; a criatividade, um esforço colaborativo.




FAÇA LISTAS:

Listas lembretes de Leonardo


E COLOQUE ITENS ESTRANHOS NELAS.
As listas de coisas a fazer de LEONARDO são provavelmente os maiores tributos à pura curiosidade que o mundo já viu.



FAÇA ANOTAÇÕES – NO PAPEL:

Anotações de Leonardo


Quinhentos anos depois, os cadernos de LEONARDO ainda estão por aí para nos surpreender e nos inspirar. Daqui a cinquenta anos, nossos próprios cadernos, se levarmos a sério a iniciativa de começar a preenchê-los, estarão por aí para surpreender e inspirar nossos netos ao contrário de nossos tuítes e posts no Facebook.



ESTEJA ABERTO AO MISTÉRIO.:

Nem tudo precisa de linhas bem definidas.