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APRENDENDO COM LEONARDO. - (Colaboração de Mario Augusto Machado Pinto)





APRENDENDO COM LEONARDO.
(Colaboração de Mario Augusto Machado Pinto)

(Transcritos do livro LEONARDO DA VINCI de Walter Isaacson, Tradução de André Czarmobai, pag.55o e segs.)

Vale ler até o final e degustar lentamente como que bebendo um "limoncella". VALE!



O fato de LEONARDO não ser apenas um gênio, mas também extremamente humano – um indivíduo peculiar, obsessivo e divertido, que se distraía com facilidade – faz com que ele nos pareça mais acessível. Ele não foi brindado com o tipo de brilhantismo que é completamente incomensurável para nós. Pelo contrario, LEONARDO foi um autodidata, alguém que trabalhou para pavimentar o caminho junto à genialidade. Então, mesmo que jamais sejamos capazes de equiparar seus talentos, podemos aprender com ele e tentar ser um pouco como ele era. Sua vida nos oferece lições riquíssimas.



SEJA CURIOSO, INCOMENSURAVELMENTE, CURIOSO:

Einstein escreveu certa vez a um amigo: “Não tenho nenhum talento especial. Sou apenas apaixonadamente curioso”.
LEONARDO, na verdade, tinha talentos especiais. Sua característica mais distinta e inspiradora era a intensa curiosidade. Entre outras coisas ele queria saber por que razão as pessoas bocejam, como elas andavam no gelo nos Flandres, métodos para realizar a quadratura do círculo, o que faz a válvula aórtica se fechar, como a luz é processada pelo olho e como isso influencia a perspectiva em uma pintura. Ele se instruiu a aprender sobre a placenta do bezerro, a mandíbula do crocodilo, a língua do pica-pau, os músculos do rosto humano, a luz da Lua e os contornos das sombras.
SER INCANSÁVEL E, ALEATORIAMENTE, CURIOSO SOBRE TUDO QUE NOS CERCA É ALGO QUE PODEMOS NOS ESFORÇAR PARA FAZER A CADA SEGUNDO DA VIDA, exatamente como ele fez. 



BUSQUE O CONHECIMENTO PELO SIMPLES PRAZER DA BUSCA:

Nem todo conhecimento precisa ser útil; às vezes ele pode ser perseguido por puro prazer.
LEONARDO não precisava saber como as válvulas aórticas funcionavam para pintar a Mona Lisa, da mesma forma que não precisava descobrir como os fósseis foram parar no topo das montanhas para criar a Virgem dos rochedos.
AO SE PERMITIR SER LEVADO APENAS PELA CURIOSIDADE, ELE PODE EXPLORAR MAIS HORIZONTES E IDENTIFICAR MAIS CONEXÕES DO QUE QUALQUER UM EM SUA ÉPOCA.



CONSERVE A CAPACIDADE DAS CRIANÇAS DE SE MARAVILHAR:

Em um determinado ponto da vida, a maioria de nós para de se importar com os fenômenos cotidianos. Podemos até aprecias a beleza de um céu azul, mas não nos damos mais o trabalho de descobrir por que ele é justamente dessa cor. Como Einstein, que escreve para um amigo: “Você e eu jamais deixaremos de agir como crianças curiosas perante o grande mistério no qual nascemos”.

PRECISAMOS TOMAR O CUIDADO DE NUNCA DEIXAR NOSSA CRIANÇA INTERIOR CRESCER OU PERMITIR QUE ISSO ACONTEÇA COM NOSSOS FILHOS.



OBSERVE:

O maior talento de LEONARDO era a habilidade aguçada para observar o mundo.
Era esse dom que alimentava sua curiosidade – e vice-versa. Não era uma espécie de dom sobrenatural, mas um produto de seus esforços.

Quando foi inspecionar os fossos que cercavam o Castelo Sforzesco, ele viu as libélulas e percebeu que elas tinham quatro asas e que os pares se alternavam durante o movimento. Quando andava pela cidade, ele notava como as expressões faciais das pessoas se relacionavam com suas emoções e descobriu como a luz é refletida em diferentes tipos de superfície. LEONARDO observou quais pássaros moviam as asas mais depressa para cima do que para baixo e quais faziam o contrário. Isso nós também podemos fazer. E quanto a água caindo em um recipiente? Fique observando, exatamente como ele, os redemoinhos se formando. Depois se pergunte: por que?



COMECE PELOS DETALHES:

Em um caderno, LEONARDO compartilhou um de seus truques para realizar uma observação cuidadosa: faça por etapas, começando pelos detalhes. 
Ele comparou à pagina de um livro que não pode ser absorvida em apenas um olhar; é preciso ler palavra por palavra.
“Se você quiser ter um conhecimento sólido sobre as formas de um objeto, comece pelos detalhes e não avance para o próximo se não tiver gravado bem o primeiro na memória. ”



VEJA O QUE ESTÁ INVISÍVEL:

O helicóptero de Leonardo


A principal atividade de LEONARDO durante grande parte dos anos de formação foi a produção de espetáculos, performances e peças teatrais. Nelas, ele misturava sua engenhosidade teatral com fantasia, o que lhe deu uma criatividade combinatória: ele era capaz de ver pássaros voando, mas também enxergava anjos; ou leões rugindo, mas também dragões.



MERGULHE NO DESCONHECIDO:

Códex Leicester


LEONARDO preencheu a página de abertura de um caderno com 169 tentativas de realizar a quadratura do círculo.
Em oito páginas do Códex Leicester, registrou 730 descobertas sobre o fluxo da água. Em outro caderno há 67 palavras descrevendo vários tipos de movimentos da água. Ele mediu cada segmento do corpo humano, calculou as relações de proporcionalidade e fez o mesmo com um cavalo.
Ele estudou todas essas coisas pelo simples prazer de aprender.



DISTRAIA-SE:

A matemática nos desenhos de Leonardo


A maior crítica que se faz a LEONARDO é o fato de esses interesses que ele perseguia de forma apaixonada terem feito com que saísse pela tangente, literalmente, no caso dos estudos de matemática. Kenneth Clark lamentou que eles “empobreceram seu legado”.  Contudo, a disposição de LEONARDO em se interessar por qualquer tópico que cruzava seu caminho deixou sua mente muito mais rica e com muito mais conexões.


RESPEITE OS FATOS:




LEONARDO foi um percursor da era dos experimentos observacionais e do pensamento crítico.
Quando tinha uma ideia, ele criava uma maneira de testá-la. E, quando a experiência mostrava que a teoria estava errada, (como a crença que fontes de água no interior da Terra eram alimentadas da mesma firma que os vasos sanguíneos nos seres humanos) ele abandonava a teoria e elaborava outra. Essa prática se tornaria comum um século depois, durante a era de Galileu e Bacon. Entretanto, ela era um pouco menos prevalente naquela época. Se quisermos ser um pouco mais parecidos com LEONARDO, não devemos ter medo de mudar de ideia conforme novas informações vão surgindo.



PROCRASTINE:




Quando trabalhava em A Última Ceia, LEONARDO às vezes ficava olhando para a pintura por uma hora, dava uma mísera pincelada e em seguida ia embora. Ele disse ao Duque Ludovico que a criatividade demandava tempo para que as ideias se apurassem e as intuições se firmassem. Explicou: “Homens de intelecto elevado às vezes obtêm seus maiores avanços quando trabalham menos, uma vez que suas mentes, então, ocupam-se com as ideias e com o aperfeiçoamento dos conceitos aos quais posteriormente darão firma. ”
A maioria de nós não precisa de nenhum incentivo para procrastinar; fazemos isso instintivamente. Mas procrastinar como LEONARDO dá muito trabalho: o processo envolve reunir todas as informações e ideias sobre um assunto e só então deixar que essa grande coleção fermente.



FAÇA COM QUE O PERFEITO SEJA INIMIGO DO BOM:

Rigor e obstinação

Quando não conseguiu fazer a perspectiva em A batalha de Anghiari ou a interação em A adoração dos magos funcionarem perfeitamente, LEONARDO abandonou essas obras em vez de produzir um trabalho que era apenas bom. Ele manteve consigo obras-primas como A Virgem e o Menino com santa Ana e a Mona Lisa até o fim sabendo que sempre poderia acrescentar uma nova pincelada.
STEVE JOBS também era tão perfeccionista que postergou a liberação do Macintosh original até que sua equipe conseguisse fazer com que as placas de circuito internas ficassem bonitas, muito embora ninguém fosse vê-las.
Tanto ele quanto LEONARDO sabiam que artistas de verdade se preocupam com a beleza até das partes ocultas.  Contudo, JOBS acabou adotando uma máxima que contradizia essa ideia “Artistas de verdade entregam”, significando que às vezes é preciso entregar um produto mesmo quando ainda há ajustes e melhorias a serem feitas. Essa é uma boa regra para a vida cotidiana, porém há momentos em que é melhor ser como LEONARDO e não desistir de algo até que esteja perfeito.



PENSE VISUALMENTE:




LEONARDO NÃO FORA ABENÇOADO COM A HABILIDADE DE FORMULAR EQUAÇÕES MATEMÁTICAS OU ABSTRAÇÕES COMPLEXAS. Por isso precisava visualiza-las, o que fez no estudo de proporções, nas regras de perspectiva, no método para calcular reflexos em espelhos côncavos e nas maneiras de alterar formas mantendo a área original. Com frequência, quando aprendemos uma formula ou uma regra – mesmo uma simples, como a multiplicação dos números ou a mistura de uma cor de tinta -, paramos de visualizar como ela funciona. Como resultado, perdemos a capacidade de apreciar a beleza fundamental por trás das leis da natureza.



EVITE FECHAR HORIZONTES:



No final de muitas de suas apresentações, JOBS mostrava um slide com uma placa do cruzamento entre as ruas “ Artes Liberais” e “Tecnologia”. Ele sabia que é nesse cruzamento que fica a criatividade. LEONARDO tinha uma mente aberta que perambulava alegremente por todas as disciplinas da arte, da ciência, da engenharia e das humanidades. Seu conhecimento sobre como a luz atinge a retina o ajudou a criar a perspectiva de A Última Ceia, e na página de desenhos anatômicos que mostra a dissecação dos lábios nele desenhou o sorriso que reapareceria na Mona Lisa. Ele sabia que a arte era uma ciência e a ciência era uma arte. Não importava se estava desenhando um feto no útero ou os turbilhões de um dilúvio: LEONARDO sempre borrava os limites entre as duas coisas.



FAÇA COM QUE SEU ALCANCE SEJA MAIOR DO QUE SUA COMPREENSÃO:



Imagine, da mesma forma que ele imaginou, como você construiria uma máquina voadora ou desviaria o curso de um rio. Aventure-se a projetar uma máquina de moto-contínuo ou resolver a quadratura de um circulo usando apenas régua e compasso.
EXISTEM CERTOS PROBLEMAS QUE JAMAIS RESOLVEREMOS. APRENDA POR QUÊ.



ALIMENTE SUA FANTASIA:



A besta gigante? Os tanques que pareciam tartarugas? As plantas para uma cidade ideal? Os mecanismos para bater as asas de uma máquina voadora controlada por um homem? Assim como borrava os limites entre ciência e arte, LEONARDO fazia o mesmo com o que separa a realidade da fantasia.
Ele pode não ter produzido máquinas voadoras, mas sua imaginação voou muito alto.



CRIE PARA VOCÊ, NÃO SÓ PARA OS PATRONOS:

Marquesa Isabella - tela apreendida na Suíça, falsamente atribuída a Da Vinci


Não importa o quando a rica e poderosa marquesa Isabella d´Este implorara. LEONARDO não pintou seu retrato. Mas ele começou a trabalhar em outro, o da mulher de um negociante de seda chamada Lisa.
Fez isso porque queria e seguiu aperfeiçoando essa obra pelo resto da vida, sem entregá-la ao cliente.



TRABALHE EM CONJUNTO:

Homem Vitruviano

A genialidade costuma ser vista como algo que pertence à esfera dos solitários, que se encerram em sótãos e são atingidos por lampejos de criatividade. Como a maioria dos mitos, o do gênio recluso contém certa verdade. Contudo, em geral há mais detalhes por trás da história. As Madonas e os estudos de planejamento produzidos no ateliê de Verrochio, assim como as versões de Virgem dos rochedos e da Madona do fuso e outras pinturas que saíram do ateliê de LEONARDO foram criadas em processos tão colaborativos que é difícil determinar quem os criou. O Homem Vitruviano (imagem acima) foi produzido após uma troca de ideias e esboços entre amigos. Os melhores estudos de anatomia de LEONARDO surgiram quando ele estava trabalhando em parceria com Marcantonio Della Torre. E seu trabalho mais divertido foi feito a partir das colaborações nas produções teatrais e entretenimentos noturnos produzidos na corte dos Sforza. A genialidade se origina de um brilhantismo individual, ela necessita de uma visão singular. No entanto, para executá-la, em geral é necessário trabalhar com outras pessoas: a inovação é um esporte coletivo; a criatividade, um esforço colaborativo.




FAÇA LISTAS:

Listas lembretes de Leonardo


E COLOQUE ITENS ESTRANHOS NELAS.
As listas de coisas a fazer de LEONARDO são provavelmente os maiores tributos à pura curiosidade que o mundo já viu.



FAÇA ANOTAÇÕES – NO PAPEL:

Anotações de Leonardo


Quinhentos anos depois, os cadernos de LEONARDO ainda estão por aí para nos surpreender e nos inspirar. Daqui a cinquenta anos, nossos próprios cadernos, se levarmos a sério a iniciativa de começar a preenchê-los, estarão por aí para surpreender e inspirar nossos netos ao contrário de nossos tuítes e posts no Facebook.



ESTEJA ABERTO AO MISTÉRIO.:

Nem tudo precisa de linhas bem definidas.







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