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UM PROFISSIONAL COMPETENTE, PORÉM ... - Paulo A Abrahamsohn


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UM PROFISSIONAL COMPETENTE, PORÉM ...
Paulo A Abrahamsohn



Zé Rodrigo estava sentado, fumando um cigarrinho. Um copo de cerveja o ajudava a apreciar o calmo final de tarde de um dia de suave calor. Sentia-se confortável e estava pensando na vida. Vida simples, mas feliz. Tinha uma boa esposa, filhos, netos, o que mais queria? Todos se encontravam aos domingos e juntos passavam umas boas horas. Seus pensamentos se encaminharam para o trabalho. Adorava seu trabalho, era a melhor profissão do mundo.

No entanto, ao longo de suas divagações, uma inquietude foi tomando conta dele. Mas, não sabia porque isto o foi deixando perturbado. Tentando organizar suas ideias, sentiu que havia esquecido de fazer alguma coisa. Pensou, pensou, mas não conseguia se lembrar.

Acendeu mais um cigarrinho, pensou, pensou, e lentamente foi descobrindo a lacuna que havia em sua mente. Tinha que fazer uma cova. Era isso! Óbvio! Zé Rodrigo: profissão coveiro.

Levantou-se e rapidamente reuniu as ferramentas: pá, enxada, carrinho e mãos à obra. O lugar da cova já estava determinado. Começou a cavar. No início lentamente, medindo e marcando bem as bordas da cova, mas depois trabalhou com entusiasmo e velocidade crescentes. A cova avançou rapidamente. Ele se considerava o melhor coveiro da turma e todos seus colegas reconheciam isso. Concentrado no trabalho cavou uma cova perfeita, a melhor que já havia produzido.

Depois de terminar subiu ainda fez uma última arrumação na terra retirada e acumulada ao lado da cova. Formava um monte que parecia uma pirâmide do Egito. Acendeu mais um cigarrinho e se pôs ao lado da cova para admirar novamente sua obra. Seus colegas não estavam ali para mais uma vez confirmar a excelência do seu trabalho, mas mesmo assim se sentiu satisfeito; tinha cumprido sua obrigação.

Subitamente ouviu a voz de D. Lúcia

— Zé Rodrigo! Zé Rodrigo!

O coveiro ficou petrificado. Não entendeu nada. O que é que sua mulher estava fazendo no cemitério? E, repentinamente, percebeu o que fizera.

— Zé Rodrigo! Está distraído de novo! Pensa que está no cemitério! Olha o que você fez no nosso jardim. Estragou meu melhor canteiro. Cuidei tanto dele para a usar as flores na festa da Marília! E agora?

Moral da história: Não leve para casa seus problemas profissionais.


Um comentário:

  1. É muito bom e tem um final inesperado. Parabéns, Paulo!

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