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O estranho apelido - Fernando Braga



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O estranho apelido.
Fernando Braga

       Seu nome era Erotides, mulher neurótica que tinha os seus repentes.

       Dizia-se calma, tranquila, mas às vezes, quando contrariada, não sabia o porquê, tinha um mecanismo interno que desencadeava seus cinco minutos.

       Na realidade, nestes minutos, gritava, se descabelava, ficava muito agitada, e se tornava inconsequente.  Era como se o demônio tomasse inteiramente conta dela.

       Assim, a maioria das pessoas que a conheciam passaram a chama-la de Erotides, “a Calma” apelido que pegou e que até gostou, pois dizia que no fundo, era uma mulher calma. 

       Seu marido, Marotinho, era o único que a compreendia e que na hora H, aproximava-se e apenas com um levantar do dedo indicador e um sonoro Psiu... conseguia contê-la e depois de uma leve carícia em seu rosto que trazia os músculos contraídos, acalma-la, mantê-la quieta.

       Os parentes, amigos próximos, colegas que bem a conheciam, já tinham presenciado algumas cenas e procuravam sempre nas conversas, em algumas ações, não contrariá-la.

       Ela até que era agradável, alegre, risonha, simpática, bonita, mas...sai de perto...

       Certa ocasião oferecia um jantar para suas amigas e estando todos sentados à mesa aguardavam os deliciosos pratos que preparava. Trouxe inicialmente salada com legumes, tomates, azeitonas, palmito e pediu que se servissem. Pediu à empregada que trouxesse o prato principal, “aquela lasanha verde”.

       Enquanto aguardavam, ouviram um estrondo vindo da cozinha, a quebra de louça. A empregada havia derrubado a enorme travessa no chão, espatifando e espalhando toda a comida pelo chão. Erotides ao ver aquele caos, subitamente teve os seus cinco minutos. Gritando forte, proferindo palavrões contra ela, empurrou-a contra a parede, pegou em sua goela e passou a sufocá-la. A empregada escorregou caindo ao chão. Largou-a um pouco e apressadamente foi em busca de uma faca que ficava na gaveta. A empregada tentou escapar, mas ela deu-lhe um chute nas pernas. Ninguém das presente ousou ir acudir, com medo de entrar na dança. Felizmente o marido, que estava no escritório ouviu a gritaria e veio correndo.

       Vendo sua mulher em estado de descontrole total, apenas gritou um psiu bem forte e aproximou-se. Conclusão, em menos de um minuto ela estava mais calma. Guardou a faca e até ajudou a coitada da empregada, a levantar-se.  A empregada sumiu!

       Em outra ocasião, vejam o que ocorreu.

       Era a segunda noite de carnaval e todos estavam, tios, primos, amigos, amigas, conhecidos e desconhecidos, na casa de um parente para beberem, comerem e se prepararem para a noite carnavalesca no clube da cidade.

       Marotinho havia exagerado um pouco na bebida e muito alegre estava. No meio da mulherada ele dançava, cantava, mostrava-se marotinho, mas de longe Erotides só observava. Conhecia seu marido de longos tempos, sabia que estava bem mal-intencionado!   

       Em dado momento, viu seu marido aproximar-se de uma bela e conhecida viúva alegre, que fumava, retirar o cigarro de sua boca, dar uma bela tragada e novamente colocá-lo em seus lábios, com batom vermelho.  

       Erotides, ficou possessa! Queria vingar-se. O que fez...

       Tomou meio copo de uísque de um gole só. Aproximou-se de um rapaz que não conhecia, que estava sentado no sofá com sua namorada, pegou seu rosto entre suas mãos e lascou- lhe um beijo na boca. Todos viram a cena, menos Marotinho. Logo chegou a seus ouvidos e os convidados preocupados começaram a se retirar, despedir. Não anteviam coisa boa.

       Quando o marido se aproximou para tomar satisfação ela disse: - Não me encha o saco. Quero ir imediatamente para casa. O seu carnaval acabou aqui.

       Em casa teve os cinco minutos que havia contido aos extremos. Pegou cadeiras e começou a atira-las longe e em direção aos lustres da casa. Quebrou muita coisa. Nestas alturas, nem ele quis se aproximar.  

       Ela saiu e foi acalmar-se no quintal, lá ficando, dormindo no chão do galinheiro. Marotinho nada disse e sabia que ela estava era com ciúmes. Mas ele não havia feito nada! (Por enquanto!).

       Este último acontecimento levou Erotides a seis meses de Psicanálise!

       Agora sim, o apelido passou a lhe caber apropriadamente!

       Consta que tempo após, Erotides e Marotinho se separaram. Seria ele o culpado pelas crises da mulher?

       Realmente ele era marotinho!      

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