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MORRE ÚNICA HERDEIRA DA FORTUNA CASTANHEIRA - Maria Luiza Malina

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MORRE ÚNICA HERDEIRA DA FORTUNA CASTANHEIRA
Maria Luiza Malina

Ainda não foi localizado o corpo de Ana Lucia Castanheira, 24 anos, que se fazia parte de uma excursão em Honolulu. A última vez que foi vista estava em companhia de seu namorado Julio Carvalho nos seus 27, empresário carioca também desaparecido. Buscas no local afirmam que foram vistos pela última vez alugando caíques. A direção tomada não foi percebida devido a agitação das ondas.

Ana Lucia, única herdeira do empresário Mauro Castanheira, 58. Investigado por enriquecimento ilícito, desde o fato obscuro ocorrido há seis anos em São Paulo, que o envolveu na morte nada natural de sua esposa Ane-Marie Howard Castanheira, 42, herdeira da rede hoteleira Prince, cuja fortuna foi herdada por sua filha que já acumulava bens adquiridos por Castanheira. Ele na ocasião irritou-se com a imprensa, melhor dizendo com o jovem jornalista Mariano Silveira 22, ao perguntar se ele estava decepcionado que a fortuna da Sra. Ane-Marie não lhe fora repassada. Descontrolado tomou-lhe o microfone esbofeteando-o e, simultaneamente os seguranças impediram que a reportagem fosse ao ar destruindo as câmeras de filmagem. Os escândalos eram uma constante em sua vida. Suspeitava-se que Mariano estivesse interessado em Ana Lucia, pois a cada dia emitia uma nota a respeito da musa. Admirada pela simplicidade e ao mesmo tempo pela escolha adequada dos figurinos e marcas de produtos que exibia sem grandes estardalhaços.

A suspeita recai forte sobre o pai, após a empregada Juanita, 50, de origem jamaicana, mulher de confiança da então falecida esposa, ter declarado que, a jovem temia o pai que a perseguia através de seguranças, afastando os pretendentes e amigos a ponta pés. Sempre envolvida em escândalos, resolvera afastar-se avisando que, para preservar a fortuna pela qual ele tanto zelava, iria tentar uma nova vida com o namorado viajando pelo mundo e, que o avisaria do destino. A senhora Juanita não acredita no ocorrido. Informou que, após a morte da patroa, acompanhou Ana Lucia que preferiu se afastar do pai ao morar em um luxuoso apartamento no Rio de Janeiro “era como se tivessem rompido o relacionamento de pai e filha. As notícias chegavam através da imprensa sempre ao lado de uma nova esposa, neste momento ele estava na China e, ela não atendia às poucas chamadas telefônicas. Estava num momento muito feliz com o namorado às vésperas da viagem”.

Quando Mariano se inteirou dos detalhes da notícia, estava certo de que o pai tinha um álibi perfeito. Conhecia bem os detalhes de Ana Lúcia, pois não fosse o quase, teriam se casado. De caráter investigativo, não se deu por vencido. Viajou para Honolulu como turista em lua-de-mel com a bela Janete, estudante de jornalismo. Ao chegar deparou-se com possíveis capangas que rodeavam a delegacia. Fora a delegacia registrar o extravio de seu equipamento fotográfico, apresentando falsa documentação. No local corria a conversa dos caiaques localizados boiando no mar a uma distância razoável da costa e dos pertences encontrados em seu interior, sem denotação de violência. Tudo estava lacrado.
Voltou ao chalé em que se hospedaram. Janete seria a sua esposa dedicada enquanto se ausentava, banhando-se ao sol com ouvidos atentos. Faminto devorou as notícias sobre a milionária. O pai acusava o namorado pela tragédia alegando que estava interessado na fortuna da filha. Por outro lado outra reportagem acentuava as rusgas entre pai e filha e seus negócios ilícitos principalmente a pendência financeira junto aos chineses. A reportagem deixava clara a dificuldade pela qual o magnata passava,  por outro lado juntavam a tragédia da morte da mãe com o desaparecimento da filha, em que indiretamente o culpavam.

 Era hora de agir. Não se deixa passar a oportunidade. Juntos passeavam procurando alguma evidência. Ao passarem por um restaurante escutaram brasileiros comentando o caso. Entraram, sentaram-se de costas e pediram o cardápio em alto e bom idioma americano. Mariano levantou. Dirigiu-se ao balcão apresentando um gordo valor para uma informação. O rapaz de aparência ingênua, mas perspicaz de porte musculoso, entendeu de imediato levando-o atrás de uma cortina que separava o ambiente, embolsando o dinheiro. A pessoa acertada, de poucas palavras, sabia de tudo. Mariano mostrou-lhe a identidade de jornalista brasileiro. Em resposta entregou um bilhete com o nome e endereço de um policial, seu irmão que o ajudaria a entrar na delegacia durante a madrugada. Foi feito.

Mariano estava atento a qualquer deslize, sentia-se um James Bond. A palpitação superava o medo. O semblante era o mesmo do então garçom não havia dúvidas, podia confiar no estranho, seus olhos se sobressaiam no rosto moreno igual ao irmão. Acalmou-se. Precisava averiguar os “achados” principalmente de Ana, que tão bem a conhecia. O policial apontou os estranhos brasileiros que não mantinham conversa com os locais, revezavam-se noite e dia em frente da delegacia; Mariano vestido com roupas comuns aos locais passou despercebido. A fraca luz ajudou a entrada. O delegado não liberava informação e nem material àqueles homens estranhos e, Mariano passara uma credibilidade ao policial que sabendo ser um jornalista e grande conhecido da família da vítima, poderia ajudá-los a desvendar o mistério do caso já transformado em assassinato pela mídia, sem qualquer investigação.

O sigilo seria a postura do Delegado.

Mariano está frente a frente com os pertences de Ana Lucia. As luvas cobrem suas mãos. Sente uma frieza estranha ao tocar a embalagem. Fixa firmemente o olhar sobre as peças íntimas. O mesmo procedimento é feito na embalagem das roupas de Julio. O policial se surpreende com a reação de Mariano ao pedir a presença do Delegado. A espera tornou-se um calvário nos ajustes das impressões exatas de Mariano. O dia estava por amanhecer quando o Delegado chegou e estranhou a presença do estranho que pernoitara sem autorização. Após os esclarecimentos em que Mariano habilmente apresentou o verdadeiro dossiê de Castanheira, ele consentiu que as embalagens fossem violadas.

Mariano era muito sutil. Anotou os tamanhos das peças, características, marcas etc. Não conhecia Julio pessoalmente, mas seu perfil não passava de um tamanho médio, era rico e elegante. Algo estava em desacordo com as peças e as pessoas. As roupas não haviam sido molhadas. Pareciam ter saído da loja e embaladas. Ousou cheirar as peças íntimas de Ana Lucia, o soutien não tinha seu cheiro característico, usava o bom perfume Channel em qualquer ocasião, gosto herdado de sua mãe, a calcinha sem qualquer vestígio de uso... aquela etiqueta... algo brasileiro comprado na periferia carioca... ela não sairia para uma viagem internacional com peças daquele tipo. Era exigente quanto às roupas íntimas. Neste momento, confessou ao delegado que os dois estavam juntos há quase um ano, e que o pai descobrira o caso através dos capangas e havia sido avisado por um deles que, deveria se afastar da garota, pois o pai queria sua cabeça. Foi o que fez, sem nunca a perder de vista.

Mariano chegou ao impressionante desfecho: a morte de Ana Lucia foi forjada incriminando o namorado para o pai herdar a fortuna.

No relato evidências foram anexadas e confirmadas. Os corpos queimados encontrados na praia não correspondiam aos tamanhos do casal. Sigilo.

A investigação mudou o rumo. Os quatro capangas de prontidão em frente da delegacia eram contratados do pai que, entraram no país no mesmo vôo, mas em um grupo de seis pessoas, sendo uma delas uma mulher aparentando vinte e um anos e o rapaz em torno dos seus vinte e cinco. Estavam hospedados no mesmo hotel. A ausência prolongada dos dois foi justificada como sendo pesquisadores, não tendo sido dada baixa no hotel, onde as evidências foram comprovadas pelos pertences ali deixados. A etiqueta das roupas da jovem coincidia com as que foram encontradas dentro do caiaque, assim como a do rapaz. Desta forma foi desvendado o assassinato dos dois jovens que acompanhavam os quatro capangas naquele vôo. A Ilha pediu ajuda aos Estados Unidos que prontamente flagrou os assassinos com o envio de helicóptero.

O caso continuava em sigilo absoluto com a ajuda de Mariano.  Ele não era o tipo que desistia facilmente. Conhecia Ana Lucia e sua vontade de viver. Acreditava que ela estava viva e a encontraria. Ela por sua vez, acompanhava o caso à distância e em segurança. O nome de Mariano nunca foi registrado na investigação. Estava apreensiva pela insistência do pai em encontrá-la. Julio, muito cuidadoso, alugara uma casa em nome da mãe que, após o divórcio retornara ao uso do nome de solteira. Apenas quem os conhecia intimamente poderia seguir este rumo da investigação. Situados no lado mais deserto da Ilha, foi o escolhido, o que lhes fornecia maior privacidade. O celular tocava sem parar, chegou a desligá-lo. Ela confessa que atendeu o celular por ver que a chamada era de Mariano. Confiava nele. Temia ser localizada por atender as ligações.

Quatro semanas se passaram. Mariano lhe deu a grande notícia. O plano do pai fora descoberto pela polícia americana com a ajuda da polícia brasileira. A intimação para interrogatório lhe causou um grande constrangimento.

“Seu pai faleceu ao dar entrada na Polícia Federal”.


Mariano foi convidado pela polícia americana a fazer parte do quadro e seus agentes secretos.

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