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A carta enigmática - Fernando Braga


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A carta enigmática
Fernando Braga


       Ainda relativamente moço, costumava ele aos domingos, levar seus quatro filhos pequenos a um parque junto à Avenida Arruda Botelho, conhecido como “Parque do Quércia”. Este ex-governador morava em um bonito apto, que dava em frente,  daí a denominação popular.

       Certo domingo, em um fim de tarde, foi a este parque com os filhos, que corriam de lá para cá, enquanto sentado em um banco, os observava. Foi amarrar o tênis quando deparou com objeto caído junto a um dos pés do banco. Apanhou-o e viu que se tratava de uma carteira de couro, bem desgastada. Abriu-a e olhando seu conteúdo, na frente estava a fotografia de uma mulher exótica, atrás de um plástico transparente e em outro compartimento, retirou um papel duplo, de seda, dobrados em oito partes. Abriu-os, percebeu que estavam bastante gastos e notou que se tratava de uma carta, dirigida a uma tal de Maria H. No final, o nome Romano.    Olhando em volta, não percebeu ninguém que pudesse tê-la perdido. Ia ler a carta, mas seus filhos chegaram e foram para casa.

        Mais tarde, em seu escritório, cuidadosamente passou a ler o conteúdo das duas páginas. À medida que foi lendo, ficou interessado, logo surpreso e, mais no final...pasmo!

       Não pode ser!  Pensou. Será verdade?

        Chamou a esposa, pedindo que lesse a carta. Ao terminar, ela colocou a palma da mão no rosto, ficou parada e disse:

        — Barbaridade! Isto não pode ter acontecido! É um turbilhão de paixão! Um caldo quente derramado nos pés. Você precisa encontrar esta pessoa!

       —Também acho! – replicou

       Passou a ir todos os dias, incluindo fins de semana, ao parque. Sentava-se no mesmo banco, colocava a carteira bem exposta na mão, para que por coincidência, alguém a visse e reconhecesse.

        Frequentemente, parava pessoas e perguntava se conheciam um  tal de Romano ou Maria Helena, que para ele, seria a Maria H. Nada, nada mesmo. Um deles disse que o único Romano que conhecia, era o dono da grande loja de material de construção. Talvez ele morasse em um daqueles aptos, daquele fabuloso condomínio.

       Foi de prédio em prédio, conversando com os porteiros, zeladores e nada.  Nenhum Romano nos prédios, mas dois ou três, citaram o tal Romano, dono das lojas de construção. Esse era famoso!

       Assim que chegava em casa, sua mulher vinha ansiosa perguntava se tinha alguma notícia e ficava desanimada, desapontada, com a resposta negativa.

      Após seis meses já estavam desanimados, perdendo toda a esperança de encontrar os protagonistas daquela carta. Nunca comentaram com alguém a respeito do conteúdo da missiva, pois era algo grave, embora nada sugerisse, que precisassem leva-la à polícia. Dois anos após, sem qualquer resultado, sua mulher pegou a carta, abriu-a e disse:

         — Não tenho coragem de lê-la novamente.

E jogou-a no fogo da lareira.

        — Eu, Zé Osvaldo, fui o único confidente deste casal, que pediram sigilo absoluto de minha parte, se possível!

        — Assim sendo, quero terminar este texto, contando rapidamente o que continha a enigmática carta com conteúdo surpreendente, marcante, doloroso e pessoal.

Mas... Mas...Pensando melhor...

       — É realmente muito grave a matéria, desesperante, perturbadora, incongruente e por que não dizer, demoníaca, satânica, cramunhônica e com a certeza, nenhum de vocês aqui presentes, teria a coragem suficiente para ouvi-la.

      — Esqueçamos ...  Vamos em frente!

      — Boa tarde! Zé Osvaldo.


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