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O MAR É NOSSO - Oswaldo U. Lopes



O MAR É NOSSO
Oswaldo U. Lopes

         Os romanos foram eminentemente guerreiros, sua organização militar invejável. Foram seus generais e suas hostes que formaram o império. Certo grau de impiedade no comando ajudou.

Ah e a cultura? Importaram dos gregos junto com a linguagem. Dizem que na hora da morte Cesar ao ver Brutus entre os assassinos, cobriu-se com a capa e murmurou:

Ƙαί σύ ζεκνον (kai sü teknon = também tu filho).

E não a forma latina:

Tu quoque Brutus

Que é a expressão que passou a história e adentrou até o linguajar jurídico. O poderio romano era eminentemente militar e dele Roma não abria mão. A Pax Romana era uma politica inteligente sublinhada pelo aparato guerreiro.

Para Roma poder acentuar que o mar é nosso, como chamavam o Mediterrâneo, havia um preço: vigiar, navegar e impor terror aos possíveis piratas.

Coisa curiosa e não muito registrada em livros: em terra a presença de mulheres no exército não era nem cogitada. No mar era diferente. Navegar não era e não é um ato banal, até mesmo com os recursos de satélites. Conjugava conhecimentos náuticos e marítimos. O navio com todos os seus detalhes e o mar e as estrelas que o cercam. Havia lugar para gente experiente, independente de gênero. Nesse ramo o saber passava de pai para filho ou filha e era muito respeitado. Você valia pelo que sabia e fazia e não pela fortuna ou heráldica. Salustiano era um comandante naval notável e sua filha aprendera com ele.

Lucia comandava um barco que circulava ao longo da costa asiática, marcando a presença romana. A embarcação tinha uma linha de remos, velas e uma pequena tripulação, marujos experientes e de total confiança.

            A missão designada não era das mais difíceis. Levar Lucio o novo pro cônsul para Éfeso. Ele viajava com uma pequena escolta e esperava-se que a viagem não tomasse mais do que três dias. Para Lucia e seu barco era mais um detalhe, já navegavam sem folga há um mês.

As ondas, desta vez mais impiedosas, estalavam no casco jogando o barco de um lado para outro, como um brinquedo descontrolado. A pequena tripulação ainda nem tinha se refeito do ultimo temporal, agora este, bem mais assustador. Já temiam pela segurança do grupo, embora ninguém ousasse dizer. Mas, era Lucia quem comandava e era a margem de confiança que tinham. Lucio era muito experiente e medo era um sentimento que jamais fez parte de sua vida.

A função de Lucia era dirigir o barco, conjugar remos e velas e navegar para fora da tempestade.

A função de Lucio, digamos era mais simples, não tremer. Permanecer de pé no convés com seus quatro oficiais, com ar destemido. Tomando no rosto rajadas de vento e água.

A junção de Lucia e Lucio deu um bom resultado. Ela levou o barco para fora da tempestade e ele permaneceu firme junto do mastro maior.

Faziam ambos jus ao que Roma tinha de melhor: o destemor. Como dissera o general Pompeu em 70 A.C. :

Navegar é preciso, viver não é preciso.

Nota: De modo diferente do que os poetas passaram a usar a frase de Pompeu, julgam os especialistas que o preciso usado pelo general romano não tinha o sentido de necessário. Poeticamente a frase atinge uma magnitude espetacular. É preciso navegar, mas não e preciso viver. No sentido que usou os termos Pompeu, famoso cônsul, queria dizer, aos acovardados soldados sob seu comando que a navegação era possível, correta e os levaria a bom termo, mais precisa do que a vida, já que ninguém sabe o dia de amanhã ou sequer o minuto seguinte.


  

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