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A DIFÍCIL ESCOLHA - O ALEMÃO BRASILEIRO - Sergio Dalla Vecchia


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A DIFÍCIL ESCOLHA
SÉRGIO DALLA VECCHIA

Era uma moça típica representante da raça brasileira, estatura média, moreninha dos cabelos encaracolados. Uma belezinha!

Trabalhava no telemarketing e o salário era pouco.

Era apaixonada pelo namorado, mulato alto e forte, um belo tipo de homem, que trabalhava duro como pedreiro.

Encontravam-se diariamente, e com a energia da juventude transavam calorosamente. Não era sempre que usavam preservativos, a paixão era tão intensa que a volúpia vencia a coerência.

Ela engravidou!

A surpresa foi demais, eram gêmeos, constatou o médico do SUS após o resultado do ultrassom.

Lá se foram sete meses de uma penosa gravidez e dela nasceram dois meninos prematuros. Eram tão pequeninos que cabiam na palma das mãos e precisavam de cuidados especiais até que se fortalecessem.

A pequena renda do casal cobriria com muito esforço as despesas com o aluguel de um cômodo, compra de um berço e mantimentos. Mas como arcar com os custos de remédios, roupas para dois bebês ?

“Certamente que não daremos conta” ponderou o casal. Não tinham parentes ou amigos que pudessem ajuda-los financeiramente. Bem que tentaram, mas em vão!
Após muito analisarem a triste situação, optaram por oferecer para adoção um dos bebês. Não eram univitelinos, mas bem parecidos e o escolhido para ficar foi o primogênito.

Por sorte, não demorou muito e um casal de alemães levou o outro gêmeo para morar em Berlim na Alemanha.

Roseane adorava o seu filho Cledson, cuidou muito bem dele com muito amor. Entretanto toda vez que o abraçava vinha logo a imagem do irmão e as lágrimas eram inevitáveis.

Por vezes ela foi indagada: — Mãe, por que está chorando? E ela sempre disfarçava, mas Cledson pressentia no abraço algo estranho. Parecia que nele havia uma terceira pessoa e sua mãe sussurrava algumas palavras inaudíveis.

Com o tempo o pai foi promovido para mestre, e sempre que podia, o pai o levava para conhecer a obra que estivesse em andamento.

O filho se interessava tanto que o pai conseguiu que ele fosse contratado pela Construtora na função de apontador.

As obras terminavam, outras surgiam e assim foi adquirindo experiência. Com força de vontade conseguiu estudar no período noturno e durante o dia aprendia a prática com o pai.

Era uma vida sacrificada, mas valeu apena. Cledson formou-se em engenharia civil com louvor.

Foi escolhido como orador da turma e no discurso enfatizou as dificuldades que um jovem encontra para conseguir se formar aqui no Brasil. Usou ele próprio como exemplo e terminou aplaudido de pé! 

Com o tempo a Construtora reconhecendo seus méritos o promoveu a gerente de contratos e assim ele foi gerindo obras cada vez mais complexas até se tornar um excelente profissional.

Cledson casou-se com uma colega de trabalho, após uma disputa acirrada com um rival, que quase lhe prejudicou a carreira. Saíram nos tapas! O caso foi parar na diretoria. Uma advertência para cada um e a pretendida em seus braços!

Certo dia, enquanto trabalhava levou um baita susto com a entrada de sua secretaria na sala aflitíssima:

—Engenheiro Cledson, o CEO está chamando você urgente na diretoria!

 —Que seria! - Pensou o engenheiro. - Ele nunca o havia chamado antes. Essa foi a primeira vez!

 Já na sala do CEO, ansioso pensou até que seria demitido ou que tivesse feito algo muito errado e sua imaginação continuava a criar pessimismos até que ouviu:

— Preciso que você vá amanhã participar de uma reunião com um engenheiro enviado pela Matriz da Audi Alemã em Curitiba. A pauta é sobre uma possível ampliação da planta da fábrica, em São Jose dos Pinhais na grande Curitiba. Fomos convidados à participar dos estudos preliminares e é ai que entra você. Estude a fundo o projeto com o engenheiro alemão de nome Gunter e boa sorte!
Cledson transpirava nas mãos, nas axilas e fazia força para que seu ego não saísse do corpo de tanta felicidade!

No dia seguinte partiu para a maior missão da sua vida!





O ALEMÃO BRASILEIRO
Sergio Dalla Vecchia

Guten morgen! - Disse o alemão sorridente para a responsável pela liberação da criança escolhida para adoção. 

A documentação foi entregue e o casal alemão exalando alegria saiu com o bebê nos braços.  

A rota era São Paulo – Berlim pela Lufthansa, aeroporto de Tegel. 

Berlim estava ensolarada e mais bonita do que nunca, era assim que o casal a enxergava, naquele momento feliz da chegada exibindo o tão desejado filho.

Foram para casa em um bairro de classe média alta, onde o bebê já tinha o quarto preparado, prontinho para acomoda-lo com grande conforto. 

Assim o tempo foi passando e Guinter foi crescendo, passando pelos níveis das excelentes escolas alemãs até chegar a Universidade Técnica de Berlim. 

Os pais o adoravam e ele agradecia com o comportamento típico alemão, muita disciplina e dedicação em tudo que fazia.   

Aproveitava as folgas para conhecer Berlim, os monumentos históricos como o Portão de Brandemburgo, Palácio de Reichstag (Parlamento) e tantos outros que fazem Berlim a terceira cidade mais visitada no mundo. Cidade que voltou a ser a capital da República Federal da Alemanha em 1990, após a derrubada do muro e a unificação das Alemanhas oriental e ocidental.  

Gunter também viajava bastante com os pais pelas modernas autobans com velocidade livre conhecendo várias cidades como Munique, Colônia e tantas outras. 

Formou- se em engenharia mecânica e por ser um dos melhores alunos foi convidado pela Audi para trabalhar no setor de produção. Onde se deu muito bem e logo alcançou um bom cargo de gerente. Casou-se com Ângela, ex-colega da faculdade e foram morar em um apartamento na cidade de Ingolstadt, sede da montadora Audi localizada entre Munique e Nuremberg. 

O tempo foi passando e Gunter foi mandado para o Brasil estudar a viabilidade econômica para aumentar a planta da fábrica em São Jose dos Pinhais no Paraná.

Quando foi contar a novidade aos pais, percebeu a expressão de espanto nos rostos de cada um.

— Para o Brasil! A Audi tem tantos projetos pelo mundo afora e vai te mandar justo para o Brasil! – Disse a mãe nervosa.

Guinter não entendeu tal atitude e de pronto respondeu:

 —Mãe, porque esse espanto? Não gosta do Brasil, pelo que sei você e o papai já estiveram por lá. Tiveram alguma decepção?

—Não, não filho foi tudo bem quando lá estivemos.

—Então sem preocupação liebe mutter, já decidi que vou. Essa é uma oportunidade única que a fábrica está oferecendo, serei promovido e também sempre quis conhecer o Brasil.

Sem mais, abraçou os pais e saiu.

No dia seguinte, despediu-se da esposa Ângela e pegou o voo para a cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. 

Já em trânsito começou a imaginar como seria Curitiba, a fábrica e o povo. Sua mente estava ávida de conhecimentos e curiosamente também surgia o rosto atônito da mãe preocupada com viagem! “Mas por que?”  Pensava Guinter.

Assim, sorvendo um gole de espumante riesling da Alsacia, viajava orgulhoso, só pensando no futuro promissor.


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