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DOIS AMIGOS - CARLOS CEDANO




DOIS AMIGOS


Carlos Cedano

Sempre foram bons colegas de aventuras, de farras e namoros. E só podiam sê-lo, tinham sido criados juntos desde muito pequenos na mesma favela e os pais eram amigos de muitos anos. Todos eles passaram pelas mesmas dificuldades e sofrimentos!

A medida que cresciam a amizade entre os rapazes se estreitava, um deles era negro, alto e de corpo atlético e era chamado de Tiziu, quando o sol brilhava sua pele parecia emitir tons azulados. O outro amigo não ficava atrás em qualidades físicas, seu cabelo era de uma cor vermelho-laranja e seu apelido era Cenoura e também muito alto.

A amizade deles ficou famosa na favela e eram respeitados quando não temidos, se alguém mexia com um, estava mexendo com os dois! Nunca se soube de desentendimentos entre eles, nem por mulher! Viviam de pequenos golpes, roubos oportunistas e assalto a casa e lojas ou qualquer estabelecimento que estivesse dando sopa, mas sempre fora da favela!

Num dia, Cenoura disse:

            Tem um cara vendendo um revolver, um tresoitão de seis tiros, facilitaria nosso “trabalho” cara, não acha?

            E quanto é a baba? Perguntou Tiziu.

            O cara está pedindo três pilas cash!

            Tá muito caro, um olho da cara, não dá pra aliviar?

Foram falar com o vendedor que “deixou” o berro por duas pilas.

E foi aí que começou o desentendimento dos dois amigos que ficou famoso na favela. Debateu-se de quem seria o revolver, e se iniciou uma pequena discussão que aos poucos virou uma gritaria acalorada que descambou em insultos e fortes agressões verbais.

Cenoura pegou o revolver e sentiu-se dono do mundo todo-poderoso, ficaria com o revolver disse num tom definitivo! Antes que ele desse por conta, Tiziu deu um chute na mão de Cenoura fazendo revolver “voar” longe.

A briga continuou “no braço” e Cenoura começou a levar a pior e desesperado correu pra onde o revolver tinha voado, pegou-o, e fulo da vida o apontou para o velho amigo que ficou estático e sem reação, mas Cenoura não conseguiu atirar e após breves momentos de hesitação, chorando, jogou a arma numa ribanceira e caiu de joelhos.

Tiziu entendeu o que estava acontecendo, ele sentia o mesmo, e se aproximou do amigo também com lágrimas nos olhos e disse-lhe:

Cara! Nós somos ladroes, mas não nascemos pra assassinos, meu irmão!



O silêncio que se seguiu foi a forma mais eloquente pra ambos perceberem que a amizade deles voltaria a ser como antes!

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