DICAS DA ESCRITA CRIATIVA

MARATONA LITERÁRIA - PRODUÇÃO DE CONTOS INFANTIS

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ESTAVA. FUI. VOLTO - Mario Augusto Machado Pinto



ESTAVA. FUI. VOLTO
Mario Augusto Machado Pinto

Como deve ser triste ter que deixar o lugar em que um vive. Aí passa a ser “vivia”. E, mais tarde “viveu”. Ou o contrário,  depende de como e quando você encara o fato, mas que deve ser triste, deve.

Que isso nunca aconteça comigo, era o que pensava frequentemente. Aconteceu, podem crer, aconteceu.  Por que? Porque meu pai com meus irmãos mais velhos foram embora levando as manias dele. Uma delas? É só lembrar os nomes dos filhos: Ptolomeu, Tadeu, Zaquias, Ananias e ainda dizia que mais um houvesse seria Malaquias...O meu? Isaias. Ias aonde? O dele? Bem, Proteu... Não, não era Proteus, era Proteu, mesmo. Por que? Porque queria ficasse claro que quando a alguém fizesse algo “foi PRO TEU bem”. Por aí podem imaginar a figura. Além de tudo mais era um chato, não deixava fazer nada. Fiscalino!  Foi-se, sem martelo, mas com despedida. Anos depois fomos também. Não éramos felizes, ao menos eu não era. Minha mãe? Minha irmã? Nunca soube. Nada comentaram.

Fomos buscar uma Pasárgada. Eu tinha uma onde era amigo do rei. 

É onde estou andando, olhando e vendo, comparando. Comparando o quê com o quê? Aqui não tenho nada pra comparar; justamente por isso. Exercício. Esforçando-me lembro bem da minha infância querida sem preocupações, caçando Rolinha ou deitado na relva debaixo dos laranjais, no dia olhando o céu azulado, à noite, estrelado. O sol no poente iluminando o horizonte qual gema de ovo escorrendo pelas montanhas, o perfume das flores... Que folgar delicioso, ingênua vida em que não tinha as carícias da minha mãe ou os beijos da minha irmã.

Mas viemos pra Pasárgada das aventuras, das palmeiras onde cantam os pássaros, onde sou amigo do rei, disfruto os primores por cá, onde tenho a mulher que eu quero na minha cama, onde me aventuro e monto em burro, percorro pradarias sem fim e quando estou cansado deito-me na relva à beira do rio e peço à mãe d’água  pra me lembrar  das histórias que no tempo do eu jovenzinho Janaina vinha me contar, excitar e amar.   

Penso muito em ir embora, mas não será fácil. Aqui tenho tudo: moçoilas bonitas pra namorar, gente alegre a cantar. Tenho a mulher que desejar. É só chamar.  
Tenho celular grátis! Já pensou... ALL THE PEOPLE IN A YELLOW SUBMARINE SINGING... TO JUD... TO THE WORLD…

Difícil. Concorda? Aqui, não.

Mas, tudo isso não apaga as saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores, aquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras debaixo dos laranjais!


Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá.  


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