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O CONTADOR DE CAUSOS - Oswaldo U. Lopes


O CONTADOR DE CAUSOS
Oswaldo U. Lopes

        Jogar hoje tá tão fácil, em vez de campo tem arena, multiuso os cambaus! Naquele tempo não tinha nada disso. Maracanã era catedral dos ricos, os pobres vou te contar...

        Joguei em Paulo Afonso e precisava parar o jogo para avião pousar, a escada era guardada embaixo do gol. Era uma mistura interessante de campo de aviação e campo de futebol. Naquele tempo eu jogava de goleiro.

        E no Tapajóz! Um dos gols ficava na beira do rio, beira mesmo atrás de mim o riozão. O trato era simples: bola fora buscava quem chutou. Gol era o goleiro que ia.

        Acontece que tinha tanta piranha que jacaré nadava de costa e as dita cuja, quando tinha jogo, marcavam encontro ali mesmo. Nunca joguei tanto na vida, amor a vida faz milagres no gol, mas tomei um! E a corja gritando, vai buscar, é a tua vez, malandro. Fui. Tinha uma bóia grande, na qual, uma boa alma, depois de levar umas mordidas na bunda, tinha costurado um couro no fundo que era pras piranha não passarem por ali.

        O que me salvou foi um jacaré de quem eu tinha ficado amigo e até me acompanhava numas pinga. Ele viu minha aflição e se arriscou, deu uma virada e um tapa na bola que voou na minha direção. Acho que foi a maior defesa, agarrei no ar quando três piranhas já tavam lambendo o couro dela. Voltei pra terra e pro gol. Naquele dia num teve mais bola que entrasse.

        

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