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A PEQUENA BAILARINA - M. Luiza de Camargo Malina


A PEQUENA BAILARINA
M. Luiza de Camargo Malina

“Aos quatro anos de idade já gostava de dançar. Seu pai a olhava com graça e dizia que ela mal sabia andar, mas já sabia dançar.
Entrou para a escola de ballet e dançou muitos e muitos anos. Era sua maior alegria sentir-se no palco e esperar pela música. E, quando a música começava ela não se continha, dançava com a alma e era seu status mais autêntico”. [1]

A plateia, sem o pai não existia. Vez ou outra, na ponta dos pés, escapava do grupo. Certificava-se por um vão da cortina, se ele já estava acomodado no lugar combinado. Isto a acalmava.

A cortina se abria. Na leve penumbra o espaço se aclarava. Surgia altiva. As pontas dos pés se conectavam no silêncio dos movimentos, indo juntar-se à trama, na precisão do primeiro toque musical. Misturada aos cisnes cor-de-rosa, amarelos, brancos e pretos, voava livre, sem medo. O pai extasiado observava seguro junto às mãos confiantes da mãe.

Uma lágrima. Ao final do espetáculo em pé é ovacionada. A lágrima é o bálsamo para os pezinhos tão embolhados resultado de tantos treinos. A acomodação dos ossos em formação, em meio à musculatura é dolorosamente amenizada pelos sentimentos a que a música conduz. Provoca uma leveza de alma. Tal como seu andar. Leve e silencioso os surpreendendo no quarto, pedindo para se aconchegar-se em meio ao leito, por um mau presságio que atravessou o sonho de menina bailarina, em pleno desprendimento do sono.

Girava, girava e girava contorcendo os frágeis bracinhos para o alto. Acreditava ser a bailarina da caixinha de música.

A dança a perseguiu e ela perseguiu a vida dançando e dançando.




[1] Texto inicial da autora: Judith Cardoso

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