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Cesta de Três Pontos - José Vicente J. de Camargo



Cesta de Três Pontos
José Vicente J. de Camargo


Algo me dizia para não sair de casa essa noite, ficar vendo o jogo de basquete, classificação pro mundial ─ raio de telefone! ─ só serve pra tirar o sossego, dar despesas e aborrecimentos ─ além, lógico, das reclamações sem respostas ─ aperte um para isso, dois para aquilo e vem a  musiquinha sem fim, solução que é bom, nada! ─ nenhuma consideração, devia ter dado uma desculpa, dor de cabeça, de barriga, toda hora correndo pro banheiro, em lugar público, cheio de gente não dá ─ marcaríamos outro dia, ela iria compreender, mas o raio é que eu não consigo esquecer aquela noite, faltou pouco, justo na hora, me entra a irmã, de surpresa, estragou tudo, só ficou o tesão de uma próxima vez... e agora tô eu aqui no meio dessa gente toda, barulhão desgraçado, música cafona, som fanhoso, como vou encontrá-la, ainda por cima ainda é baixinha – o negócio é ir empurrando, abrir alas, pelo menos chegar até o bar pedir uma bem gelada, tô seco ─ sai do caminho che ─ esse empurra-empurra já está me enchendo o saco, me deixando nervoso, “uma bem gelada com colarinho nada melhor” puxa, até que enfim cheguei...daqui tenho uma boa visão, mulherada a beça, olha aquela de calça colada, não sei como entra na dita cuja ainda mais com esse traseiro de rainha de bateria ─ tem celulite ou músculos? ─ depois reclama que é agarrada, estuprada, quem manda...o negocio hoje tá bom pra sair pra caça, mais certeza, menos problemas, como eu gosto... ─ esse fdp já é o décimo que me pisa no pé! falta ar aqui,  esse lugar já tá me tirando do sério, ela bem poderia ter escolhido outro ─ ah! lá está ela, pulando feito uma cabrita no cio ─ mas puta vida, olha quem tá com ela, essa não! trouxe a irmã, que saco ─ já já levo um banho de cerveja! sai pra lá – o próximo que me empurrar vai levar um no focinho, o melhor é me mandar daqui antes que começo uma briga ─ ela não me viu mesmo e além do mais essa irmã já me aprontou uma vez, quem disse que não vai repetir ─ vou desligar o celular antes que me ligue, amanhã dou uma desculpa e se quiser mesmo me encontrar, vai ter de ser no apê, sozinha, sem papo furado, no vapt-vupt, saio de fininho antes que ela me veja e no caminho esbarro na bunduda, tá com cara que topa ir para outra banda, o bar do Mané seria ótimo, nada dessa galera suada, pegajosa ─ sai pra lá diabo, parece seco ─ pronto, é agora ou nunca! ─ o sorriso é mais bonito de perto, os olhos lembram os da Verinha ─ tantos anos e não consigo esquecer ─ e foi casar justo com aquele sujeitinho pernóstico, na certa deve estar arrependida, será que ainda pensa em mim? o perfume dá pra encarar ─ o que tem de mais nas coxas, tem de menos nos peitos! mas também o que você quer, se fosse perfeita, não taria aqui dando sopa, há muito já estaria no colo de outro...com esse barulho todo o melhor é ir de mímica, levanta o copo, cerveja quente, bar do Mané ao lado, mostra o dedo,  será que entendeu?, repete, sinaliza ─  fisguei − a mirada e o sorriso não me enganam, tá no papo... eh! como diz o ditado ─ há males que vêm para bem! ─ a baixinha até que me rendeu a noite. Agora só falta o meu time de basquete se classificar, também se não der, a minha cesta eu já fiz − e tá prometendo ser uma de três pontos...

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