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Anita - Jeremias Moreira





  ANITA
   Jeremias Moreira
Irmãos de alma, Tota e Giba saíram aquele ano de Taquaritinga. Giba para cursar medicina em Campinas e Tota, um cursinho preparatório à faculdade de arquitetura, em São Paulo. Ele pretendia entrar na FAU e rachava de estudar feito um monge. Nessa vida há três meses, sentia-se cansado. Por isso, quando recebeu o convite do Giba para passar o final de semana em Campinas, aceitou na hora. Precisava dar uma espairecida.

Giba morava com mais quatro estudantes num apartamento, numa espécie de república. Nos fins de semana, o pessoal viajava para suas cidades e sobrava acomodação. Naquele sábado específico, haveria a Festa da Cerveja no Tênis Clube. Tota já ouvira falar sobre as festas anteriores e não queria perder essa. Por isso, enquanto caminhava da rodoviária para o apartamento de Tiago, sua cabeça estava povoada de expectativa. Chegou ao endereço, encontrou Giba na companhia de duas garotas no hall de entrada do prédio. Uma delas era a Silvinha, que morava no mesmo prédio. A outra, Soraya, amiga e colega de classe da Silvinha. As duas estavam no terceiro colegial. Tota abraçou Giba efusivamente e depois foi apresentado às garotas. Sentiu o olhar insinuante de Soraya. Animou-se. Mal chegara e já pintava um clima. Pelo jeito o fim de semana ia bombar. 

As meninas estavam incumbidas de conseguir os convites para a festa, mas encontravam dificuldades. A Festa da Cerveja do Tênis Clube era muito concorrida. Como último recurso Soraya apelou para a mãe, que era colunista social do Diário de Campinas, um influente jornal da cidade. E, foi assim, a pedido da filha, que Anita Amaral entrou no circuito e consegui com facilidade os convites para os rapazes.

Como previam, o baile estava animadíssimo. Depois de tomar alguns chopes  Tota e Soraya foram dançar. Em determinado momento, Soraya avistou seus pais numa mesa. Pegou Tota pela mão e foi ao encontro deles. Queria apresenta-lo à mãe, a benfeitora que conseguiu os convites. Antes não tivesse feito. Quando se viu diante de Anita Amaral, uma onda de calor percorreu o corpo de Tota.

Anita era um monumento. Uma exaltação à beleza. Sensual como a Sharon Stone.

Tota entrou num estado de insanidade e desejou trocar a filha pela mãe.
O pai de Soraya conversava com alguém da mesa ao lado e deu pouca atenção ao jovem que acompanhava a filha. Mas, Anita foi calorosa e Tota agradeceu pelos convites.

Em seguida, Soraya o puxou para a pista de dança, mas ele já estava fisgado. Não parava de pensar na mãe da menina. Aos poucos, durante a noite, esfriou com Soraya e começou a perambular pelo clube. Lá pelas tantas, avistou Anita sozinha na mesa. Ele não era do tipo arrojado, mas estava tomado por um ímpeto que ele próprio desconhecia. O momento era aquele. Foi até ela e a convidou para dançar.

Surpresa, Anita aceitou. A orquestra tocava uma música lenta e eles dançaram com certa proximidade. Ela perguntou por Soraya e porque não estavam juntos. E foi aí que a loucura se externou: Tota disse tudo o que sentia. Que, assim que a viu, percebeu que não poderia ter nada com a Soraya, pois se apaixonara pela mãe dela.

Anita não esperava tanta ousadia e mostrou-se surpresa:
— Você é louco?

Tota respondeu que ela que o enlouquecera e que assim que a vira desejou ardentemente ser seu amante. Com certa  indignação, Anita afastou-se. Seguiu-se um silêncio constrangedor. Para Tota pareceu uma eternidade. Deu-se conta da loucura que acabara de fazer. Mas, agora não tinha mais volta. O que fora feito, fora feito.

De repente, Anita se aproximou novamente. Colou seu corpo ao dele e com a mão acariciou sua nuca. Foi tudo muito rápido. Apenas o tempo de dizer com voz suave e sensual, bem próximo ao seu ouvido:

—Então, precisamos ser extremamente cautelosos.

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