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VIDA DE RAINHA - Oswaldo Romano


VIDA DE RAINHA
Oswaldo Romano           
                                                                  
        Piva era o fotógrafo da rainha. Lógico que não ficava clicando o dia todo. Tinha muitos momentos de folga, e em alguns deles sob uma frondosa árvore junto à piscina, dedilhava seu sax. Tinha que dar um tempo, por que exagerando, suas notas aborreciam a rainha de ouvir horas seguidas suas músicas.

        O mesmo não acontecia com o Piva. Quando não fotografava, quando não dedilhava seu sax para os sensíveis ouvidos da rainha, estava junto à cachoeira com sua música disputando sons com o desenrolar das águas.

        O rio formado segue suplantando qualquer que seja o caminho, e vai chegar ao destino de todos. Não desiste. Vai deixando gravetos nas suas curvas, que nelas pousam, movimentando-se como o bicho preguiça, mas movimentando-se.  Com ou sem pressa corre para alcançar o mar.  

        Mesmo com o grosso volume das águas, sua chegada é repudiada pelas ondas teimosas, intermitentes. Nos seus encontros, brigas de mutuas alfinetadas fazem com que os guias turísticos vibrem, envolvendo  seus convidados que enlouquecem com o barulho das pororocas.

        Entre as palmas, um delicado aplauso vinha  da comportada rainha, que deixando seu castelo, acompanhada dos seus súditos paramentados a protegia. Ali chegou trazida acomodada na liteira, pois o mirante era muito alto. Descortinava uma invejável vista. A esquerda mostrava os últimos traços do caudaloso rio que sofria ao ter sua liberdade tolhida pelo mar a sua espera. Com suas forças o rio investia certo de que venceria, assim como venceu até então, bailando morros, curvas e as aguas mortas das lagoas adormecidas.

        O espetáculo trouxe a torcida unânime a favor do rio que parecia frágil diante da imensidão daquele mar. No mirante, desprotegidos dos ventos que sibilavam e eriçavam os cabelos, dando-se por satisfeitos, os turistas levantaram  ancoras.

        As lágrimas que escorriam de alguns, nada mais eram do que as  chamadas de crocodilos. Todas  eram provocadas pelas rajadas dos irritadiços ventos.


        Satisfeita, a rainha retornou para seu castelo e acomodada no seu divã quis ouvir o seu momento de sax tocado pelo excelente Piva.

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