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SIMPLESMENTE PARADO NUMA VITRINE - Oswaldo Romano


SIMPLESMENTE PARADO NUMA VITRINE
Oswaldo Romano   
                                                                          
        Carlos e Alcides, acompanhados de suas mulheres, combinaram naquele sábado assistirem a luta de boxe entre John e Clinton.

        O espetáculo, é uma delicia para os homens, mas um sacrilégio para as mulheres. Aquela brutalidade mostrava um atraso, uma profanação à moderna raça humana.

        Felizmente terminou logo, ou infelizmente para o Clinton, atleta que levou o soco da misericórdia. 

        Elas, completamente indignadas saíram antes. Célia, a mulher de Carlos levava um lenço alojado entre os seios, ensopado, tantas foram as vezes que usou. Cida não se continha. Lamentava do estampido dos socos, ora para direita, ora para a esquerda e quando contínuo, esmurrava como uma metralhadora disparada do seu interior. 

        Convidadas para jantar depois da luta, no restaurante os homens riam e repetiam o filme do que assistiram, enquanto que, as mulheres sem a menor vontade de provarem seus pratos, educadamente enganavam.

        Quando Carlos cortou seu bombom de mignon, escorreu um vermelho sangue, como aquele que Célia presenciou escorrer da boca do Clinton no momento do nocaute.  Cutucou Cida, trocaram olhares, e sem nada falarem a não ser um espremido pedido de licença, foram para o toalete.

        — Pior que isso só vi nas touradas de Palma de Majorca na Espanha. Queixou-se Célia com cara de enjoo.

        — Tenho que me segurar. Que coisa mais cruel...Cruel, desumano.

Regressando aparentemente refeitas, foram zombadas pelos homens, mas antes que o shopping fechasse quiseram garimpar lojas.

        Na vitrine da Louis Vuiton um cidadão bem vestido, ereto e de sorriso interpretável, desdenhava com a risada solta que Célia dava. Olhava fixo e mostrava-se muito interessado nela.

        Carlos que no jantar havia tomado umas e outras exercitava na memória, os violentos socos da luta. Nada esperou. Avançou no cidadão, e virando-o no jeito de lhe aplicar com a técnica aprendida, toda sua força de direita, soltou o braço, derrubando o atrevido homem. Gritos e gritos soaram, rebombaram pelos corredores.

        Uma mulher sai apavorada da loja, na hora provava um vestido, se interpondo entre os dois, indignada, falando em desespero, apelava:
        — Pare homem, pare homem, não vê? Meu marido é cego!

        Para o cego aturdido, se refazendo, tudo foi um inesperado mistério.

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