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O AMOR PERTO DE MIM! - Carlos A. Cedano - CONTO DE FÉRIAS Nº 6




CONTO DE FÉRIAS Nº 6



O AMOR PERTO DE MIM! 
Carlos A. Cedano

Mariana ligou pra saber se eu tinha recebido o convite para a cerimônia de seu casamento.

            — Sim! Respondi. Estarei com vocês minha amiga querida, não poderia faltar nesse dia tão importante pra vocês!

            — Você Elisa é uma das pessoas cuja presença pra mim e Orlando, será de enorme alegria, tanto falei de você pra ele que já te considera como minha irmã.

            — Obrigada Mariana, um carinho pra teus pais e Orlando. Até.

Conhecemo-nos desde nossos dez anos de idade. Frequentamos a mesma escola nos sete anos seguintes. Fazíamos lições juntas, rezávamos juntas quando pernoitávamos na mesma casa, e até namoramos dois irmãos gêmeos! O mais importante na nossa amizade, além do carinho, era a confiança recíproca. Éramos amigas para todas as ocasiões.

Quando tínhamos dezoito anos o pai de Mariana foi transferido para a capital promovido a um alto cargo na empresa. Foi nessa época que Mariana iniciou seus estudos de psicologia.

Visitávamo-nos com frequência. Essas visitas nos deram a convicção duma amizade duradoura! Mas as vicissitudes da vida nos arrastam muitas vezes, a destinos nem sempre imaginados.

Quando me preparava para o vestibular, queria fazer odontologia, uma sucessão de tragédias frustraram meus ideais. O pai nos surpreendeu tristemente. Abandonou o lar fugindo com sua amante!

Minha mãe nunca se recuperou dessa desgraça e entrou numa profunda depressão: não comia, não falava. Foi nessa circunstancia que compreendi que o suicídio nem sempre se reveste de violência súbita. Ele surpreende e se instala sorrateiramente em nós, e aos poucos nos destrói! Dois anos depois ela morreu triste e em silencio!

Como não tinha renda comecei a trabalhar. Os estudos teriam que esperar. Assim se passaram mais três anos quando chegou o convite para o casamento de Mariana.

O mês antes do casamento foi uma correria! Escolher o modelo de meu vestido, comprar o tecido, provas na costureira, sapatos e, à medida que os dias avançavam, era o penteado, os enfeites, a maquiagem e muitas pequenas coisas. Comprei um presente lindo para  ela!

Na véspera do casamento eu e meu namorado, Marcos, viajamos para a capital. Ficamos hospedados num hotel perto da igreja e no dia seguinte fomos cedo pra lá.  
Muita gente, senhoras elegantes e cavalheiros sorridentes e muitas crianças que, em seus lindos vestidos e sem constrangimentos, corriam e se divertiam!  

Subitamente se escutou o retumbar suave, mas contundente dos tambores. Todos olharam para a porta que se abriu lentamente. Elisa chorou ao ver a noiva sorridente entrando ao lado do pai e pensou que ela mesma não teria um pai para entrar com ela na igreja quando se casar.

De repente, suas dores mais profundas emergiram precipitando-se numa torrente de emoções que além da dor, arrastou sentimentos de inveja que culminaram em um ódio que nunca antes tinha experimentado! Pra ela foi difícil aceitar tantas emoções negativas que lhe pareciam exacerbadas pela felicidade dos outros!

            — Marcos, por favor, me tira daqui! Não estou conseguindo respirar e acho que vou desmaiar! - disse Elisa chorando.

            — Acalme-se meu amor, vamos até esse pequeno alpendre atrás da sacristia. Aí você poderá se recompor, disse ele.

Com cuidado e carinho Marcos conduziu Elisa até lá, e aos poucos, sem conhecer os motivos, conseguiu acalma-la. Quando percebeu que ela estava mais tranquila, o que tomou um bom tempo, o casal caminhou até o lugar da recepção, próximo à igreja.
            — Elisa! Onde você estava, disse Mariana que vinha de mãos dadas com Orlando, te procurei em todo quanto foi lugar da igreja e como não te achei pensei que vocês não tinham vindo!

            — Tivemos um inconveniente que atrasou nossa chegada - disse Marcos com calma e convicção - mas já estamos aqui felizmente!

Enquanto Elisa e Mariana se abraçavam e riam, Marcos que conhecia Orlando,  o parabenizava pelo casamento. Aos poucos Elisa, não sem esforço, mostrava felicidade por estar com sua grande amiga. A festa continuou com muita alegria dos noivos que contagiou a todos os presentes. Ao entardecer o salão, aos poucos, foi se esvaziando e as luzes definhando.

Quando Elisa e Marcos estavam por chegar a sua cidade, ela ainda dormia no carro com sobressaltos de tempo em tempo. Marcos pressentia que seus fantasmas insistiam em atormenta-la! No dia seguinte ele acordou e não a viu. Encontrou-a na sala, e perguntou-lhe:

            — Dormiu bem, meu amor?

            — Não Marcos! Acordei muitas vezes durante a noite e agora estou sem sono desde as quatro da manhã. Mas, preciso te dizer algo.

Contou pra ele os sentimentos que a invadiram  durante casamento e que a fizeram chorar. Ele escutou com atenção em silêncio, e entendeu o drama de sua amada. E lhe disse:

            — Esses sentimentos habitam você há muito tempo! Gostaria que tivéssemos falado deles antes. Precisa confiar em mim!

Elisa sempre teve medo de falar sobre seu mundo interno tão conturbado que nem ela mesma compreendia! Também era o medo que isso afastasse Marcos dela!

Com o passar do tempo e apoio de Marcos, Elisa começou a reconciliar-se com a vida e a cicatrizar suas feridas. Compreendeu que existem momentos difíceis, porem nem tudo é tragédia! A felicidade poderia estar mais perto do que imaginava!

Um dia no campo, Elisa sentada num grande tronco de arvore, observava Marcos na beira do rio lidando desastrosamente com uma vara de pescar.

Contemplou esse cara, alto e magro, de enorme ternura e que sempre esteva a seu lado! Subitamente o rosto de Elisa se iluminou e compreendeu! Levantou-se gritando seu nome várias vezes, correu até ele, se jogou em seus braços e se beijaram intensamente! Nesse momento a vara sinalizava uma fisgada. Elisa perguntou:

            — Que foi meu amor, parece um peixe grande! Um pacu?


            — Não! Fisguei uma sereia! Respondeu ele com um sorriso maroto abraçando-a mais forte ainda.

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