DICAS DA ESCRITA CRIATIVA

ESCREVIVER - BLOG MAIS ANTIGO

MATERIAIS DE TODAS AS AULAS

ROTEIROS PARA TEATRO

O AMOR PERTO DE MIM! - Carlos A. Cedano - CONTO DE FÉRIAS Nº 6




CONTO DE FÉRIAS Nº 6



O AMOR PERTO DE MIM! 
Carlos A. Cedano

Mariana ligou pra saber se eu tinha recebido o convite para a cerimônia de seu casamento.

            — Sim! Respondi. Estarei com vocês minha amiga querida, não poderia faltar nesse dia tão importante pra vocês!

            — Você Elisa é uma das pessoas cuja presença pra mim e Orlando, será de enorme alegria, tanto falei de você pra ele que já te considera como minha irmã.

            — Obrigada Mariana, um carinho pra teus pais e Orlando. Até.

Conhecemo-nos desde nossos dez anos de idade. Frequentamos a mesma escola nos sete anos seguintes. Fazíamos lições juntas, rezávamos juntas quando pernoitávamos na mesma casa, e até namoramos dois irmãos gêmeos! O mais importante na nossa amizade, além do carinho, era a confiança recíproca. Éramos amigas para todas as ocasiões.

Quando tínhamos dezoito anos o pai de Mariana foi transferido para a capital promovido a um alto cargo na empresa. Foi nessa época que Mariana iniciou seus estudos de psicologia.

Visitávamo-nos com frequência. Essas visitas nos deram a convicção duma amizade duradoura! Mas as vicissitudes da vida nos arrastam muitas vezes, a destinos nem sempre imaginados.

Quando me preparava para o vestibular, queria fazer odontologia, uma sucessão de tragédias frustraram meus ideais. O pai nos surpreendeu tristemente. Abandonou o lar fugindo com sua amante!

Minha mãe nunca se recuperou dessa desgraça e entrou numa profunda depressão: não comia, não falava. Foi nessa circunstancia que compreendi que o suicídio nem sempre se reveste de violência súbita. Ele surpreende e se instala sorrateiramente em nós, e aos poucos nos destrói! Dois anos depois ela morreu triste e em silencio!

Como não tinha renda comecei a trabalhar. Os estudos teriam que esperar. Assim se passaram mais três anos quando chegou o convite para o casamento de Mariana.

O mês antes do casamento foi uma correria! Escolher o modelo de meu vestido, comprar o tecido, provas na costureira, sapatos e, à medida que os dias avançavam, era o penteado, os enfeites, a maquiagem e muitas pequenas coisas. Comprei um presente lindo para  ela!

Na véspera do casamento eu e meu namorado, Marcos, viajamos para a capital. Ficamos hospedados num hotel perto da igreja e no dia seguinte fomos cedo pra lá.  
Muita gente, senhoras elegantes e cavalheiros sorridentes e muitas crianças que, em seus lindos vestidos e sem constrangimentos, corriam e se divertiam!  

Subitamente se escutou o retumbar suave, mas contundente dos tambores. Todos olharam para a porta que se abriu lentamente. Elisa chorou ao ver a noiva sorridente entrando ao lado do pai e pensou que ela mesma não teria um pai para entrar com ela na igreja quando se casar.

De repente, suas dores mais profundas emergiram precipitando-se numa torrente de emoções que além da dor, arrastou sentimentos de inveja que culminaram em um ódio que nunca antes tinha experimentado! Pra ela foi difícil aceitar tantas emoções negativas que lhe pareciam exacerbadas pela felicidade dos outros!

            — Marcos, por favor, me tira daqui! Não estou conseguindo respirar e acho que vou desmaiar! - disse Elisa chorando.

            — Acalme-se meu amor, vamos até esse pequeno alpendre atrás da sacristia. Aí você poderá se recompor, disse ele.

Com cuidado e carinho Marcos conduziu Elisa até lá, e aos poucos, sem conhecer os motivos, conseguiu acalma-la. Quando percebeu que ela estava mais tranquila, o que tomou um bom tempo, o casal caminhou até o lugar da recepção, próximo à igreja.
            — Elisa! Onde você estava, disse Mariana que vinha de mãos dadas com Orlando, te procurei em todo quanto foi lugar da igreja e como não te achei pensei que vocês não tinham vindo!

            — Tivemos um inconveniente que atrasou nossa chegada - disse Marcos com calma e convicção - mas já estamos aqui felizmente!

Enquanto Elisa e Mariana se abraçavam e riam, Marcos que conhecia Orlando,  o parabenizava pelo casamento. Aos poucos Elisa, não sem esforço, mostrava felicidade por estar com sua grande amiga. A festa continuou com muita alegria dos noivos que contagiou a todos os presentes. Ao entardecer o salão, aos poucos, foi se esvaziando e as luzes definhando.

Quando Elisa e Marcos estavam por chegar a sua cidade, ela ainda dormia no carro com sobressaltos de tempo em tempo. Marcos pressentia que seus fantasmas insistiam em atormenta-la! No dia seguinte ele acordou e não a viu. Encontrou-a na sala, e perguntou-lhe:

            — Dormiu bem, meu amor?

            — Não Marcos! Acordei muitas vezes durante a noite e agora estou sem sono desde as quatro da manhã. Mas, preciso te dizer algo.

Contou pra ele os sentimentos que a invadiram  durante casamento e que a fizeram chorar. Ele escutou com atenção em silêncio, e entendeu o drama de sua amada. E lhe disse:

            — Esses sentimentos habitam você há muito tempo! Gostaria que tivéssemos falado deles antes. Precisa confiar em mim!

Elisa sempre teve medo de falar sobre seu mundo interno tão conturbado que nem ela mesma compreendia! Também era o medo que isso afastasse Marcos dela!

Com o passar do tempo e apoio de Marcos, Elisa começou a reconciliar-se com a vida e a cicatrizar suas feridas. Compreendeu que existem momentos difíceis, porem nem tudo é tragédia! A felicidade poderia estar mais perto do que imaginava!

Um dia no campo, Elisa sentada num grande tronco de arvore, observava Marcos na beira do rio lidando desastrosamente com uma vara de pescar.

Contemplou esse cara, alto e magro, de enorme ternura e que sempre esteva a seu lado! Subitamente o rosto de Elisa se iluminou e compreendeu! Levantou-se gritando seu nome várias vezes, correu até ele, se jogou em seus braços e se beijaram intensamente! Nesse momento a vara sinalizava uma fisgada. Elisa perguntou:

            — Que foi meu amor, parece um peixe grande! Um pacu?


            — Não! Fisguei uma sereia! Respondeu ele com um sorriso maroto abraçando-a mais forte ainda.

IL VIAGGIO. - Mario Augusto Machado Pinto - CONTO DE FÉRIAS Nº 6



IL VIAGGIO.
Mario Augusto Machado Pinto

Tocou a campainha da área de serviço do apartamento.  São 2 da tarde. Recebo a correspondência diária conforme rotina da Zeladoria do Condomínio.

Revista dos programas da TV paga, ofertas de lojas, de supermercados e uma carta via aérea com envelope diferente. Coisa rara, de chamar atenção. Examino bem: veio da Itália. E nós com a Itália? Tem nosso nome, o da Famiglia di Biasi, endereço certo. Vai ver é oferta pra concorrer ao totto calcio. Viro. Não é não: tem endereço e remetente de uma pessoa: Ferdinando di Biasi. E, penso eu: É amigo do pai? Sei lá! Veremos, veremos aí pelas sete quando ele chegar com minha mãe e meu irmão.

Bem, a ordem é esperar, afinal não sou a Família, mas sou da Famiglia di Biasi, também me chamo Ferdinando – nome infeliz, lembra do touro?   Mas pela hierarquia, sendo o mais velho di Biasi, pela tradição, costume ou o quê, ele deve abrir o envelope. Depois nos diz do que se trata. Guardei a carta.

Comendo as unhas de curiosidade fui estudar pra sabatina de geometria.

Fiquei tão absorto estudando que só percebi que chegaram quando minha mãe me beijou e perguntou:

- Oi filhote. Tudo certo? Como foi seu dia?

Ela beijava, abraçava, perguntava, mas não esperava a resposta: ia pro chuveiro. É sempre assim, afobada, correndo, correndo, mas também, com dois marmanjos que só pedem coisas pra ela fazer ou encontrar! Eles chegam, vão pros quartos, põem chinelos e voltam pro barzinho pra preparar um levíssimo limoncello gelado. Vida regalada!

AÍ eu falei alô pros dois, abracei papai e dei um beijo (ele faz questão do beijo) e entreguei a carta.

- Pra mim?

- Claro! Pra quem havia de ser? Vai pai, abre logo e diz o que é. Tô curioso demais.

Ele olha e examina cuidadosamente o envelope como se dentro tivesse uma bomba. Lê, relê, vira e desvira e finalmente abre o envelope, desdobra o papel da carta. Lê.  Pousa a carta nas pernas, pega novamente e relê. Faz assim uma três vezes.  Não aguento e grito:

- Vai, conta! Que é?

Meio como que engasgado de emoção, fala:

- É dos nossos parentes da Itália. Nem lembrava mais deles, coitados. Estão dizendo que nós, aquí e eles lá, somos os últimos sobreviventes dos di Biasi.  O Ferdinando, diz que é meu primo, quer conhecer a gente e nos convida pra ir lá. Ele não vem devido a artrose. É pra ficar na casa dele em Monte Vecchio. Explica onde é e pede resposta.

Não preciso dizer que foi o assunto de conversa por dias e dias em que só se falava nisso. O que fazer? Vamos todos? Sim? Não? Era um guaio, um abacaxi dos grandes. Pra eles, pra mim não. Não preciso dizer que eu queria ir. Já imaginou eu dizer pros colegas: Vou pra Itália. Na volta: Fui pra Itália. Voei no Jumbão. Minha torcida era enorme.

Bom, afinal chegaram à conclusão de que papai tinha que ficar na distribuidora, meu irmão na oficina e a mamãe tinha que cuidar dos dois bezerrões. Alegremente sobrou pra mim que sei umas poucas palavras de italiano (o Vô Luigi ensinou), dá pra não passar muita vergonha.

Meu pai – tinha que ser – impôs condição:

- Só que tem uma coisa: vai, mas sem perder escola; então passa o fim de ano aqui e vai em janeiro ou fevereiro. Precisa do OK do Ferdinando.

Veio um Ok do tamanho de um bonde.

Estudei muito, mas muito mesmo. Passei por média em tudo, não tive 2ª época, garanti janeiro e fevereiro livres pra ir.

E fui.

Mamãe chorando, papai comovido, irmão gozando – não vai fazer xixi com medo da altura – entrei no avião. Coração a dez mil por hora durante toda viagem. Mal dormi. Cheguei a Roma, me levaram pro trem e lá fui eu pra Monte Vecchio.

Lá chegando, não acreditei no que vi e ouvi: faixa com meu nome, banda tipo “furiosa” tocando, gente apinhada na estação e meu parente, um senhor de idade, segurando um cartaz com o nome Ferdinando e Brasil pintados e engalanados.  Fiquei  envergonhado, mas achei o máximo. Até parecia que eu era jogador de calcio.

Bem, em carreata (três carros com parentes e amigos) fomos pra casa dos Di Biasi. No caminho apontei pra ele e disse: lei, tio Ferdinando, io, Nando. Va bene?  Ele falava e eu não entendia picas do que dizia: ERA EM DIALETO! Aí pedi parla italiano, prego. Riu muito e eu entendi algumas coisas.

Chegamos. Gente pra todo lado. Molto piacere. Mesa posta com tudo abundante. Me ofereciam coisas , comia um pouco. Aí disse, quer dizer, gesticulei que queria dormir. Silêncio.  Me levaram pro quarto, cai na cama e acordei no dia seguinte.

Estavam me esperando pra tomar café. Ofereciam: latte? caldo? burro? Eu ria e me lembrava de cachorro, sopa, burro, mesmo. Eles não entendiam, mas riam assim mesmo. Gente bacana. Depois expliquei. Acharam muita graça.

Com o passar dos dias, aos poucos fomos nos entendendo. Eu fazia confusões: me davam muito carinho – era sempre caro – quando entendia o que diziam falavam bravo – quando gostava de uma comida diferente ou vestia uma roupa bem feita, diziam – squisito. Eu gosto de carne macia e eles diziam que era mórbida, imagina!

Eu me sentia muito contente pelo carinho e afeto que me davam, passei a ser pessoa da família local, dos vizinhos. O padre vinha conversar na casa do tio. Depois de um mês achei que era hora de voltar. O ditado italiano é mais que certo: dopo tre giorni il ospide e como il pesce: puzzanno! Alem de tudo, já me aborrecia o frio e o maestro. Eta vento chato!

Falei que era hora de voltar. Ouvi um rosário de No, mas na verdade estava mais do que na  hora.

Tive que explicar que não podia levar certas coisas. Foram à estação do trem, me abraçaram dizendo pra voltar. Foi uma despedida chorosa e difícil. Senti ter que voltar.

E aqui estou eu em casa disposto a fazer uma gozação enquanto conto coisas da viagem. No meio das palavras coloco algumas em italiano. A reação é de boa surpresa. Aí resolvo fazer o teste final (esnobação da minha parte):

- Ottantasette (87) e eles me ofereceram um copo d´agua: entenderam Ho tanta sete (estou com muita sede).


 Expliquei. Rimos alegremente.  Valeu!

A VIAGEM DO SOL. - Mario Augusto Machado Pinto - CONTO DE FÉRIAS Nº 5


A VIAGEM DO SOL.
Mario Augusto Machado Pinto

O telefonema e a proposta que fez a Vivi  foi estranho e me provocou total surpresa: uma excursão ao Caribe, de navio, com tudo pago inclusive avião pra Miami. Ela e eu. Só nós duas. Na verdade, apesar de velhas amigas nunca havíamos viajado juntas, quero dizer, só nós duas. Participamos de algumas excursões promovidas por agências de viagem, mas foi só. Aliás, nos conhecemos numa delas. Sempre nos demos bem desde então.

- Olha, Vivi, depende de quanto e quando. Pago minhas despesas se der, vou, do contrário não vou. Você me conhece.

- Deixa de ser orgulhosa e boba. Tio Fran deu as passagens pagas com tudo incluso pra mim e pro Troy. Como acabei o caso com o Troy falei pra ele cancelar, mas já estava dado e pronto! – retorquiu. Que arranjasse outra companhia e fizesse boa viagem.

Não é pra perder essa boca. O que você acha?

- Bem, não sei e não posso resolver agora...

- Tá “avec”?

- Claro, sua tonta. Depois falamos.

Esse telefonema atrapalhou meu romancinho. Só pensava no balanço do navio...Demorei. Ciro foi embora chateado, mas coitado, a viagem era pra já e ele sempre estaria disponível. Não dava pra ele competir.

Telefonemas pra cá e pra lá. Acertamos tudo. Eu aceitei ir de graça mesmo.

A data estava próxima. Foi uma trabalheira pra escolher e comprar roupa e “otras cositas mas” para quinze dias. Meu dinheiro não era tanto...Bem fui me arranjando. Vivi comprava uma coisa ou outra.

- Só isso? - Eu comentava e lá vinha a resposta:

- É viagem de navio, biquínis, shorts bem curtinho pra mostrar a curva do bumbum, saídas da piscina, mostrar o material,  ser comida com os olhos. Eu gosto. Você não?

Não era bem isso. É que ela tinha de tudo. Guarda roupa lotado e, junto, dinheiro. Eu, tudo de menos. Tinha que selecionar e combinar. Teve o vestido pro jantar com o Comandante que custou uma nota. Nesse, caprichei. Ela até comentou:

- Vai arrasar. 

O motorista dela nos levou ao aeroporto. Aí começou.

Minha bagagem era uma mala com rodinhas e frasqueira, além de uma bolsa a tiracolo.

A bagagem da Vivi? Espetacular! Começava com ela à frente, a própria generala seguida do ajudante de ordens puxando três malas, frasqueira e bolsa. Chamava atenção. Era o que queria.

Check in feito pela internet, fomos direto para a recepção da aérea. O motorista fez o despacho. Tudo em ordem, lá fomos nós.



Chegamos à noite em Miami. Revista minuciosa. Ficamos no hotel do aeroporto.

Pela manhã, agência, documentos, passagens, ônibus, cais, subida pro navio, recepção pelo nome, pulseiras, colares, cabine: saleta, bar, terraço, quarto enorme e... Cama de casal! Por essa não esperava.

Vivi, na hora, percebeu meu espanto e desconforto. Telefonou para a secretaria e pediu troca da cama por duas de solteiro. Não era possível, informaram: a cama é fixada no piso da cabine e não dava pra trocar. Ficou um clima de índio aguardando pajé e ela, gozadora como sempre, riu-se e falou:

-Bem, vamos fazer um charutinho e colocar no meio da cama. Proibido pular a cerca. OK?

- OK. Não tem outro jeito...

- Tem sim: não põe o charutinho. - e riu às gargalhadas dizendo:

  Só queria ver... E continuava rindo.

- Bem, chega né Vi? Que coisa mais sem graça!

A vida a bordo era toda programada: o dia todo e a noite também. Mal dava tempo de tomar banho e trocar de roupa.

Vivi era centro de muitos rapapés e bajulação.
Comentei.
Falou:

- Também, com o preço pago! Sabia que estamos na cabine do armador? O comandante falou que o armador viaja de vez em quando. A cabine fica vaga a maior parte do tempo, é raro ser ocupada.

Qual lagartixa, Vi ficava ao sol. Passava óleo com beterraba, queria ficar morenérrima!

Entrei num torneio daquele tênis com peteca, “badminton”, formando dupla com um mexicano que jogava muito bem, eu mais assistia do que jogava. Estávamos disputando a semifinal quando pulei para dar um smash. Ao pisar na quadra torci o tornozelo e, claro, fiquei de fora e fomos desclassificados. Pedi desculpas mil, mas não adiantou, ficou muito chato e o parceiro magoado.

Fui levada à nossa cabine pela enfermeira do navio já com remédios para aplicar. Vivi dispensou os dois: ela e eles.  Tenho mais e melhores, comentou. 

Tirou meus tênis, me ajudou a tirar o uniforme, colocou gelo do barzinho no tornozelo.

- Posso aproveitar e fazer uma massagem relaxante. Que tal?

- Olha Vi, aceito qualquer coisa, estou tão chateada. Que bruta falta de sorte!

- Esqueça isso. Toma uma rápida chuveirada quente, e deita na cama. Vou pegar meus cremes.

Depois me colocou de bruços na cama e, pelos pés, iniciou massagem relaxante com cremes, óleos e técnica tailandesa explicada. Vai até o pescoço, avisou.  Que não fosse por outra coisa, o perfume já compensava.

- Delícia das delícias! - exclamei satisfeita. É muito bom!

- Você ainda não viu nada. Espera só, foi a resposta.

Na verdade era uma sensação muito boa. Via o ambiente mais iluminado, assim, de cor amarelada brilhante. Fechei os olhos.  Vivi massageava minhas costas ordenadamente controlando a pressão dos dedos e das mãos. Pelo corpo subia uma dormência... Gostosura! Falei pra Vi. Continuou mais um pouco e me mandou desvirar, ficar deitada de costas.

- Mas Vi, assim também não! Põe uma toalha!

- Escuta: o que você tem eu tenho. Não é novidade nenhuma pra nós duas. Então relaxa e deixa de frescurite! Já vi coisa melhor! Vai, vira, sua magrela!

Foram nove dias em que percorri e acompanhei no meu corpo o caminho do sol: nascendo, chegando ao zênite tendo explosões e o ocaso tranquilo. Experiências deslumbrantes, de todo inesquecíveis. E são.

Até hoje lembramos e comentamos essa viagem; guardamos tudo na memória. Gostamos tanto que passamos a chama-la A VIAGEM DO SOL.

OBA! 2015 chegou!


ESCREVER:


O ANO VAI COMEÇAR!

A OFICINA EscreViver COMEÇA DIA 03 DE FEVEREIRO

Vamos voltar para nossos encontros literários?
Na próxima terça feira nos veremos.
Alguns mandaram contos de férias. 
Que bom, porque esse exercício só vai trazer melhoria na escrita.
Ainda dá tempo de enviar a sua história.

 A PRIMEIRA AULA DO ANO

A Vera sugeriu um tema para nossa primeira aula. 
Obrigada pela contribuição.

Vamos falar de Anacoluto. 
Anacoluto - Parece nome de doença, não é mesmo?
Mas, não é. 
Trata-se de uma das tantas Figuras de Linguagem que podemos utilizar para melhor expressar nossas ideias. 

FOTOGRAFIAS DAS FÉRIAS

Que tal enviar algumas fotos de férias para o blog?
Mande também um breve relato dos acontecimentos para que seus colegas se emocionem com você.

SUGESTÕES

Se você deseja que tratemos de algum tema específico em nosso encontro, exponha-o. Vamos nos esforçar para trazê-lo para o grupo. 

Até mais ver, galera!




CONTOS DE ARCANA - Carlos A. Cedano - CONTO DE FÉRIAS Nº 5




CONTO DE FÉRIAS Nº 5

CONTOS DE ARCANA
Carlos A. Cedano

Ariana chegou ao local da exposição de sua editora quando ia começar a palestra de abertura do evento. Muitas pessoas queriam cumprimentá-la. Logo ocupou um lugar na fila das cadeiras reservadas.

— Xi, agora será mais difícil! - Pensou Renata.

Ela tinha a missão de entrevista-la e não seria fácil consegui-lo, muita gente atrás dela e muitos obstáculos para chegar perto. Era a oportunidade que Renata tinha procurado para desenvolver um trabalho jornalístico consagrador. Não podia perde-la!

Deixei correr o tempo. Esperaria o fim da palestra. Discretamente levantei e fui ao banheiro! Para minha grande surpresa, quem estava também lá? Sim, era a própria Ariana Dias. Sorte encontrar sozinha a pessoa mais procurada do evento!
        — Como você se chama? Perguntou-me logo que me viu.

        — Renata -  disse simplesmente.

        — Renata, preciso de sua ajuda! A palestra esta demorando mais tempo do que imaginei e com esse calor, olha! Minha maquiagem já era! Preciso retoca-la.  Esqueci minha “caixinha de milagres” em casa, conto com você?

        — Certamente Ariana, respondi. Abri minha bolsa sempre generosamente provida de “produtos de primeira necessidade” para mulheres.

Ajudei-a discretamente a refazer a maquiagem, ela refez as sobrancelhas, recolocou os cílios etc. Pediu palpite sobre o batom e escolhi um tom mais forte de vermelho.

Quando terminou Ariana se olhou no espelho detidamente e disse:

—Renata! Você me ajudou a ficar mais bonita! Agradeço muito.

Antes de sair me perguntou:

        — Renata, que faz você na vida?

        — Sou jornalista e vim aqui pra tratar de conseguir uma exclusiva com você. Mas vejo que você esta muito solicitada e...

Antes de eu terminar ela me interrompeu e disse:

        — Esta semana estou sim, mas na próxima tenho vaga na  agenda. Você não quer marcar com minha secretária Cora? Disse, entregando-me seu cartão.

Enquanto saía disse-lhe:  

        — Você fez feliz meu dia, Ariana!

Sorriu e foi embora.

Foi uma semana de fortes emoções, tremia enquanto refazia o questionário. Agora tinha que caprichar nas perguntas. Falei com o redator-chefe, Mauricio, que leu o borrador da entrevista e me disse:

        — Renata, o questionário está “supimpa” à altura da entrevistada! A única coisa que você tem que lembrar é que Ariana Dias é uma das melhores escritoras de contos infantis do país, escreve com o pseudônimo de Arcana.

Segunda feira quase ao meio dia liguei para Cora. Ariana já tinha lhe falado de mim e lhe pediu para reservar duas horas na quarta-feira. A reunião seria às dezesseis horas.

Cora me disse:

        — Renata, você poderia mandar copia do questionário da entrevista? Ah! Você pode trazer seu fotografo. Ok?

        — Hoje mesmo o enviarei e irei com o fotógrafo da revista. Bye, até quarta.

Se eu estava temerosa, Ariana com sua simplicidade em poucos minutos me deixou a vontade, me tratou como a uma velha conhecida. Brincou comigo e me fez perguntas sobre minha pessoa o que aumentou meu conforto emocional. As duas horas passaram rápido e até avançamos um pouco mais. Tiramos as fotos e nos despedimos com o sentimento recíproco de uma amizade duradoura!

Passei uma semana redigindo o texto da entrevista. Pedi outra vez ajuda a Mauricio que fez algumas adequações no texto e na ordem das perguntas. Concluída a redação final ele me disse que seria a matéria principal da revista no próximo número. Mostrou-me a foto de capa: um close-up de Ariana com um enorme e belo sorriso.

Um mês depois a revista já estava circulando e com excelente repercussão. Recebi muitas felicitações dos colegas e da diretoria. Também chamei atenção de outros editores.

Mas, a ligação mais importante que esperava era a de Ariana. Quando ligou, foi uma alegria de parte a parte. Ela achou a reportagem uma delicia, me disse que as adequações dos textos tinham enriquecido a entrevista. Estava feliz e me parabenizava sinceramente.

Quase no final de nossa conversa me perguntou:

—Renata, você tem condições de tomar duas semanas de férias?

        — Tenho sim, aqui na revista me “devem” duas férias. Por que pergunta você Ariana?

        — Estou cansada e preciso relaxar para recarregar minhas “baterias”, estou sem inspiração e preciso estimula-la. Gostaria te convidar a viajar comigo e aproveitar pra gente se conhecer melhor. Tenho  certeza que você é uma “caixinha de surpresas”. Você toparia?

        — Posso te responder amanhã?  Por minha parte está topado, mas preciso falar com meu chefe. Acredito que não haverá problema, te ligo amanhã Ok?

        — Ok! Até amanhã então.

Uma semana depois as duas amigas estavam embarcando para Gramado. Renata levava uma mala apenas, além da mala de mão, Ariana levava três malas além da mala de mão. Foi uma confusão no aeroporto mais com muito bom humor Ariana resolveu esse inconveniente. Ela era assim, sempre segura de si, alegre e sem nunca deixar a peteca cair. Mais viagens foram acontecendo, a amizade entre elas se estreitava e as confidencias se aprofundavam!

Numa das viagens Renata perguntou para Ariana:

— Ariana, como você constrói esses lindos contos para crianças? Ela me olhou e respondeu:

        —Na nossa volta te levarei em casa, e você conhecerá meu segredo, vai gostar conhece-lo!

Uns dias após da volta Ariana me ligou e disse:

        — Renata, você está livre sexta feira à noite?

        — Estou sim Ariana.

        — Então te espero para jantar. As vinte e trinta, está bem?

        — Estarei aí. Um beijo  amiga.

Jantaram frugalmente com um bom vinho e quando acabaram a anfitriã lhe disse:

        — Vem comigo!

Renata seguiu-a até o fim de um corredor onde havia uma porta mais larga que as outras. Quando ela se abriu as prateleiras iluminadas mostraram uma enorme constelação de miniaturas de personagens vindas de diversas culturas, de lugares exóticos e muitas delas feitas por artistas do fantástico! Ariana as tinha trazido, aos poucos, nas suas numerosas viagens.

O ambiente era discretamente preenchido de aromas exóticos. Tudo parecia misterioso! Sentamo-nos e quando começou a música de fundo Ariana contemplou por um bom tempo as diferentes miniaturas de seu mundo lúdico. Deixou sua mente viajar e foi gerando fantasias onde os diversos personagens dialogavam e revelavam situações inéditas.

De tempo em tempo, Ariana fazia anotações em seu caderno e continuou por mais de uma hora em silêncio dando a impressão, em certos momentos, de estar em pleno êxtase!

A música acabou as luzes foram apagadas e Ariana disse:

        —Acho que consegui material para escrever dois contos.

No momento da despedida Renata disse:

        — Foi uma noite muito especial pra mim, me senti tão perto de você Ariana!

        — Pra mim também. Acho que esta noite mudou muita coisa dentro de nós! Você é a única que conhece meu segredo! Que sabe como me inspiro!


As duas amigas se abraçaram intensamente  durante um bom tempo. Não se sabe o que mudou! Talvez algum dia, num outro conto, Arcana possa dizê-lo!  

DESVENDANDO VENÂNCIO - Carlos A. Cedano - CONTO DE FÉRIAS Nº 4




CONTO DE FÉRIAS Nº 4

DESVENDANDO VENÂNCIO
Carlos A. Cedano

Com seis messes de casada Marlene ainda estava botando ordem no apartamento. Era a vez dos livros, e as prateleiras disponíveis, com certeza, não seriam suficientes. Nesse momento chegou o marido, Gregório Benites: 

        — Gregório! Estamos com um problema!

        — Qual é Marlene?

        — Nossos livros! Não há espaço para todos. Que sugere você?

        — Faz uma coisa, seleciona os seus  livros mais importantes, e doa os outros. Deixa para mim o espaço que sobrar. Tá bem assim? Disse o marido em tom autoritário!

        — Certo! Farei assim.

Separando os livros encontrou um que estava embrulhado e lembrou! Era o presente que Venâncio tinha lhe dado por seu aniversario um ano antes. Nem sequer o tinha aberto!

O achado lhe trouxe tristes lembranças. Ele foi encontrado morto na frente da faculdade e até agora o caso não tinha sido desvendado. Tinham se conhecido numa festa da Universidade, ficaram muito amigos e eram vistos juntos com frequência. 

Marlene folheou o livro, era um catalogo com letras de música brasileira. Ficou ainda mais surpresa quando descobriu que havia páginas com muitas pistas de que ele estava sendo perseguido e seria morto! O livro estava cheio de palavras, frases assinaladas, post it coloridos aqui e ali!

Um forte sentimento de culpa a invadiu! Pensou nisso por muito tempo até que decidiu decifrar a mensagem do amigo.

Através da leitura soube coisas de Venâncio que desconhecia. Ele fazia tratamento psiquiátrico e nunca tinha me  contado! Embora não estivesse explícito, pela descrição de algumas situações, achou que Venâncio estava apaixonado por ela!

Marlene conseguiu cópia do inquérito policial de Venâncio. O resultado de sua autopsia não era conclusivo. Podia ter sido, segundo o legista, assassinato por envenenamento ou mesmo suicídio. E mais nada. Não havia relatórios de exames toxicológicos nem laudos complementares. Marlene estranhou isso!

No caso de ser assassinato- pensou ela - o motivo com certeza não seria roubo, sua carteira tinha um bom dinheiro, estava usando com um relógio de marca e um celular novo. O motivo seria outro! Qual?

Para decifrar as mensagens e os post it do catalogo pediu ajuda de Mauro, advogado e perito em investigações criminais e colega de trabalho. Ele a escutou atentamente e ao longo da narrativa foi ficando mais interessado no caso. Ele disse:

        — Marlene! Preciso ler detidamente o material que trouxe, me parece muito rico em pistas e possibilidades. Posso ficar uma semana com ele?

        — Com certeza Mauro, estarei ansiosa por seu telefonema!

No prazo, Mauro ligou e marcaram conversa num lugar discreto.

        — Você estava certa Marlene. Venâncio suspeitava de que seria assassinado e procurou um meio de contar pra você suas suspeitas sem colocá-la em perigo. Alguém poderia ler o catálogo e por isso usou um recurso engenhoso como você poderá verificar.

Primeiro identifiquei os personagens envolvidos no inquérito. Além de numerosos colegas e parentes interrogados, rapidamente descartados como suspeitos, também apareciam referências a um psiquiatra, mas o nome do profissional não aparecia no livro. Outro personagem é seu rival político e ideológico!  Dele Venâncio disse: Após a vitória de Rafael fiz as pazes com ele! Descartei-o como suspeito.

 Venâncio faz muitas referencias à impertinência de seu psiquiatra com perguntas como: Como vai a relação com sua namorada? Vai casar com ela? Parece que sua admirada ficou noiva, né! Esta tomando os remédios que lhe dou para a depressão? Em todas as sessões as mesmas indagações Doutor!

        — Marlene ficou surpresa! Era outra coisa que ela ignorava de Venâncio. Então ele estava apaixonado por outra! E como conseguiu estabelecer a relação entre essas frases? Perguntou Marlene para Mauro.

As frases do psiquiatra estão sublinhadas em vermelho e na pagina de cada uma delas há um post it cor de rosa que as relaciona a través de um número e a data. Precisamos identificar esse psiquiatra com urgência! Concluiu Mauro.

Podemos procurar na relação dos colegas interrogados. Provavelmente conheço alguns deles. Disse Marlene.

— Essa relação está nos depoimentos que é arquivada com os documentos do inquérito. Da pra arrumar disse Mauro.

Dois dias depois Mauro estava com a lista dos depoentes. Marlene reconheceu alguns nomes e foi conversar com eles, e conseguiu o nome do psiquiatra era João de Deus Mansur vinculado a uma instituição de Saúde Pública do Estado, e também prestava serviços como legista. O restante, endereço, telefone e outros dados foram facilmente obtidos por Mauro.

        — Já liguei para o Psiquiatra Mansur, no começo relutou para atender-me. Após insistir muito marcamos para daqui a três dias. Você não ira Marlene, quero ter uma conversa num ambiente de confidencialidade. Em minha opinião, esta conversa será decisiva! Concorda minha amiga?

Tá certo, disse Marlene, te desejo sorte!

No consultório do Doutor Mansur:

        — Em que posso ajuda-lo Doutor Mauro?

        —Venâncio Rodrigues era seu paciente?

        — Sim, respondeu o psiquiatra secamente.

        — Doutor Mansur, o senhor foi o legista na morte do Venâncio e no seu relatório afirma que o resultado da autopsia de Venâncio não foi conclusivo. Pode ter sido assassinado por envenenamento ou suicídio.

        — Pela minha experiência Doutor Mauro, isso era evidente e não eram necessárias maiores indagações! Respondeu o médico.

Pela sua experiência Doutor? O senhor tinha a obrigação legal de realizar os respectivos exames toxicológicos para saber a verdadeira causa, o senhor se omitiu de seu dever!

Enquanto Mauro falava não deixou de perceber o forte tremor nas mãos de psiquiatra ao mesmo tempo em que seu rosto se empalidecia!

        — Algo mais doutor, disse Mauro, identificamos doze casos nos últimos dez anos, onze dos quais foram assinados pelo senhor ou o outro legista. Nenhum deles apresenta laudos toxicológicos. Vocês infringiram tantas vezes a lei!

O psiquiatra desabou na cadeira, chorando histericamente. Após acalmar-se foi levado à delegacia onde foi sometido a forte e intenso interrogatório. Acabou confessando tudo.

Quase no fim, o Doutor Mauro ainda perguntou ao psiquiatra:

        — Evidentemente o senhor conhece seu colega legista Doutor Gregório Matos que assina a metade dos laudos, né?

        — Sim, tínhamos cumplicidade e “cobrávamos caro” pelos laudos! Respondeu Mansur. Ele arrumava os interessados nos nossos “serviços”.

        — Mas no caso do Venâncio o motivo foi outro, né Doutor?

        — Sim, foi passional! O Gregório tinha ciúmes violentos de Venâncio e sabia que Marlene tinha uma forte queda por ele. Faria qualquer coisa para não perdê-la. Até matar se necessário!

        — E qual foi o meio usado? Perguntou firmemente Mauro.

        — Foi um preparado feito a partir de uma receita do Gregório. Eu o transcrevia no meu receituário e enviava para a farmácia de manipulação. Foi só dar uma pílula para Venâncio. Veneno de efeito lento, porem fatal e indolor, não deixa rasto. Guardei o bilhete que Gregório me deu!

Mauro saiu da delegacia e foi para a vara de justiça criminal onde se encontraria com Marlene. O que lhe diria? Como abordar a questão? Quando Marlene o viu entrar na sua sala correu até ele e perguntou ansiosa:

        — E aí, Mauro?

        — Mansur confessou e já está detido. Amanhã prenderemos o maior culpado: o mandante. Foi crime passional! Venâncio já suspeitava dele quando o viu conversando com Mansur.

        — Pelo amor de Deus Mauro! Quem é ele? Será que é quem eu imagino? Pergunto Marlene desesperada!

        — Sim! Foi o Doutor Gregório Benites, seu marido! As pistas estão no livro em post it e as frases sublinhadas em preto: ele parece odiar-me. Outra diz: sorte que o namorado de minha amada não me viu! A terceira diz: há... Ele também é legista! Sim, ela tinha me falado!


Ouviu-se um grito desgarrado vindo do mais fundo de sua alma seguido por um choro convulsivo que parecia querer acompanhar a própria eternidade!