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O REVÓLVER - Oswaldo Romano

 
O REVÓLVER
Oswaldo Romano              
                                    
        Rosana estava mais livre na nova moradia de Paraty. Sem os aborrecimentos de antes, tantos foram os problemas sentimentais acontecidos em sua cidade Natal. Teve dolorida experiência. Seu namoro foi rompido no momento em que mais curtia seu noivado. Naquelas condições, demasiadas exigências, a vida futura lhe seria pesada demais.

        Para seu bem, seus pais resolveram mudar de cidade. Estavam  muito bem de vida, era considerado o rei do pescado, operando entre Santos e Angra dos Reis.  Escolheu Paraty porto pesqueiro que oferecia ótimas oportunidades. Assim mantinha sob seu domínio a maior parte da Costa Verde.

        Rosana amargou um bom tempo às agruras da separação. Tinha um amor profundo pelo noivo, foi muito sofrimento esquecê-lo. Tentava de tudo, viajava, saía com o pai. De lancha visitavam ilhas, praias e seus melhores restaurantes. Queria se distrair, mas só encontrava cenas de casais embevecidos, o que mais a colocava no fundo do poço.

        Seu Custodio, o pai, mudou de tática. Entrou num pool de helicóptero, e sua participação compartilhada, era a maior do grupo. Tinha sua base em Paraty. Presenteou Rosana com uma super câmara Nikon e voando pelo litoral, a seu mando o piloto contornava ilhas, praias e matas. Fazia toda sua vontade. O pai acompanhava, pousavam em bares e curtiam aqueles aperitivos de frutos do mar. Rosana criou maravilhosos álbuns fotográficos, pensando participar de exposições.

        Por força do convívio,  Rinaldo o piloto, era solicitado para colaborar nos cliques da famosa câmera. Sentiu que Rosana se desligava do passado quando voavam só os três. Custódio liberou a filha para vez ou outra, convidar Rinaldo nos aperitivos. Ela já pensava nisso. Só não o fez antes em respeito ao pai.

        O piloto servia também o Custódio nas viagens de negócios, geralmente entre Santos e Rio. Esse contato fazia com que as conversas entrassem por caminhos diferentes dos comerciais. O pai provocava um dialogo cotidiano, mas por detrás escondia uma curiosa pesquisa da sua  personalidade.

        Rinaldo jogava tênis no Condomínio Laranjeiras, esporte que Rosana praticou quando adolescente. Passaram a ir juntos, autorizados pelo velho, e não demorou o pai foi procurado inteirando-se que já rolava um namoro. Pairava no semblante da jovem, um ar de felicidade, voltava a alegria. Rosana queria acompanhar o jogo do Rinaldo. Escolheu a professora Ana, uma profissional aplicada que, com intenso treino a colocou em condições não de igualdade, mas o suficiente para jogarem juntos.

        Seu pai, e sua mãe Dona Adélia, vinham curtindo essa união confiantes, e estavam contentes com o transcorrer dos fatos. Era essa confiança que precisavam para aceitar um breve casamento.
        Foi o que aconteceu.
        Rinaldo, com parcos recursos, tinha sua situação conhecida pelo sogro. Este confiante, nada querendo que faltasse a filha, deu-lhe uma modesta participação na sua holding. A holding abarcava todo seu patrimônio. O menor porcentual que fosse permitia viver uma vida de nababo, sobrando para várias gerações.

        Como piloto de aeronave, era-lhe permitido andar armado, coisa que sempre dispensou, mas agora casados morando numa luxuosa casa e diante da desastrosa segurança reinante, mantinha um carregado revolver cromado na gaveta do seu criado mudo.

        Rosana evoluiu muito bem com as aulas de tênis, e no final da primavera iria dispensar a professora Ana. Até então seu casamento corria na mais perfeita normalidade. Depois se passaram três anos, e a união já não era como antes, aquela maravilha inicial.

        Percebendo que a união balançava, prestes a desabar, reuniram-se a pedido dos pais na mesa redonda onde com cautela firmaram um pacto de tolerância mutua e durável.

        Nessa ocasião, Custódio demonstrando felicidade do resultado que conseguiu, presenteou Rinaldo com um Oldsmóbile, motor elétrico, carro cuja caracterista principal, por não ter explosão é  super silencioso. Dois dias depois seria seu aniversário. Foram convidados todos seus familiares e amigos.

        Rinaldo estava alucinado, com a maravilhosa máquina, objeto dos desejos, o brinquedo dos seus sonhos. No dia da festa, de madrugada, movimentou seu silencioso carro, foi ao encontro do seu secreto amor, ela, a Ana, a dedicada professora. E partiram para bem longe onde teria no mais perfeito sossego suas emocionantes partidas de tênis.

        Rosana ao acordar surpreendeu-se. Um bilhete inesperado estava sobre o travesseiro. Pensou no pior. Mal leu.  Rosana incrédula, possessa de raiva, apanhou o revolver no criado mudo. Acordou seu pai, gritava desesperada: vamos pai, vamos... Eu mato esse verme, vagabundo. O pai estático e incrédulo  ouvia:

—  Vamos Pai, pegue o helicóptero. Vamos alcança-lo. Por favor, pai, me ajude... Vamos pai. Logo. Hoje eu mato esse desgraçado.


        — Sim filha, só que o helicóptero não voa sem o piloto! 

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