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PARECE QUE FOI ONTEM - Oswaldo Romano



PARECE QUE FOI ONTEM                                
Oswaldo Romano

        Acontecia de sitiantes que vinham à cidade, se perderem no horário da volta. Certamente a noite os pegaria no caminho. Por segurança, ou medo, não da escuridão ou animais, mas sim do próprio homem, recorriam ao meu pai dono do carro de aluguel.

        Sempre pronto, o Seu Evaristo com seu Ford Bigode, capota e janelas de lona, freio de varão, partida na manivela, aceitava a corrida.

        Eu dizendo fazer companhia, vez ou outra, pegava essa carona. Entre tantas, numa dessas, na volta de Capim Fino, atravessando o Rio da Coloninha, a máquina, assim chamavam o carro, morreu.

        Meu pai, tirando os sapatos e arregaçando as calças, foi dar a partida. Em vão. Não pegava. Voltando disse ia esperar secar as velas. Pequenos ou médios rios, poucos tinham ponte. Cansado, se ajeitou no banco, bateu o sono, dormiu. E nós dentro do rio. As águas marcavam aquele ritmo. Ritmo que  derrubou o velho.

        Local plano, de pouca corredeira, tinha numa das margens enorme e velha touceira de Bambu Guaçu, aqueles amarelos.

        No escuro, fora o correr das águas, quebrava o silêncio os coaxares dos sapos. Ouvia de alguns, claros chamados. Falavam meu nome! Wado, Wado, Wado. Eu arrepiava, tanto era a clareza. Eu olhava pro pai, procurando proteção. Acordá-lo, iria me chamar de moleque frouxo.         Começou a ventar, mexeu com os enormes bambus, aqueles gigantes coloridos. Quando a lua saia das nuvens, eu via um batalhão que sobre mim avançava, gemiam, rinchavam, disputavam com os chamados das rãs, dos sapos.

        — Paiiii, paiiiii, acorda! - gritei.

Seu Varisto, nos seus 1 metro e 85 era forte. Fosse fraco teria morrido do coração.


Coincidência, só agora percebi: hoje é dia 13 de setembro. Há anos, neste mesmo dia, o pai nos deixou.


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