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MILAGRE DE AMOR - Carlos Cacedano

 

MILAGRE DE AMOR
Carlos Cacedano

Após de muitos anos Vitor, com ajuda de Francisca, tinha atingido certa estabilidade física e emocional apesar do profundo vazio que sentia na sua alma. Os muitos médicos que o tinham tratado foram unânimes em dizer-lhe que a recuperação de sua memória, vale dizer de sua historia passada, era difícil de prever. Poderia ser lenta ou de repente voltar em curtíssimo prazo.

Entretanto, essa tristeza era em boa parte compensada pela presença de Francisca que além de cuida-lo, o tratava com especial deferência. Não eram poucos os olhares de ternura entre eles e já tinham sido vistos, muitas vezes, de mãos dadas.

Passaram-se messes e a relação deles foi ficando cada vez mais intensa e Vitor declarou seu amor a Francisca, ela correspondeu com uma explosão de alegria e felicidades que tinha sido contida durante muito tempo.

Após algumas semanas de namoro, o jovem começou a sofrer de alucinações. No início esporadicamente porem aumentando em frequência e intensidade com o decorrer do tempo. Ele conversou com Francisca e confessou que em suas alucinações via uma mulher embora sem poder precisar-lhe sua imagem; também contou para ela que o acidente de carro que causou sua amnesia tinha sido culpa dele, agora podia lembrar que estava dirigindo em enorme estado de tristeza e dor pela noticia da morte de Raquel, sua noiva a quem adorava. Francisca disse-lhe, tenho a impressão que isso não é uma coincidência. Acredito que a emoção de nosso namoro está propiciando um processo de recuperação de sua memória, vamos continuar para ver como ela evoluirá. O rapaz percebeu a tranquilidade de Francisca para lidar com uma situação que normalmente poderia deixar uma mulher insegura.

Alguns dias depois ele contou para Francisca que na noite anterior, tinha tido um sonho no qual sua falecida noiva apareceu-lhe com rosto de profunda tristeza e que aos poucas foi afastando-se até desaparecer. Também contou que a sensação que teve foi a de uma despedida final.

Quero dizer-te meu amado Vítor, que essa fase de nosso relacionamento não foi fácil pra mim. Você não imagina como teu sonho me deixou insegura. A “presença” de um ser amado falecido, sobre tudo quando essa lembrança se reveste de idealizações, que é privilegio dos mortos, é uma das barreiras mais fortes a serem superadas. Temia que você se apaixonasse por um fantasma. Como você conseguiu essa “separação”?

Por incrível que pareça, Raquel deu força pra gente, respondeu ele. De alguma forma  sentiu a solidez de nosso carinho, tenho certeza de que sim.

Foi um milagre de amor meu amado disse Francisca.

Abraçaram-se e se beijaram intensamente.  



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