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Encontro no Zoológico - José Vicente J. de Camargo


Encontro no Zoológico      
 José Vicente J. de Camargo

Naquele domingo ensolarado, de primavera, quando o ar flui leve pelo corpo e levanta aquele austral com vontade de se fazer algo gostoso, Francisca resolve, de última hora, sem planejamentos antecipados, como devem ser as iniciativas que terminam em momentos agradáveis, levar Vitor a conhecer o Jardim Zoológico.

Foi um impulso de momento que a tomou sem saber bem o por que, talvez pelo fato que desde criança se interessar por tudo que diga respeito a vida dos animais: seus hábitos, origens, alimentação, até sua leitura preferível de infância eram os livros e brinquedos de bichinhos. Na adolescência estava em dúvida entre estudar veterinária ou enfermagem, escolheu esta última levada pelo ímpeto de sempre querer fazer o bem a terceiros, de se preocupar com o bem estar deles.

Ao passear pelas ruas arborizadas do Zoo, sentiu, pelas reações de Vitor, que sua decisão foi acertada, pois ele observava tudo com muita atenção e não parava de perguntar os porquês disso e daquilo, tal qual ela, quando criança, fazia com seus pais.

Um sentimento de felicidade lhe tomou o corpo e assim se deixou levar pelos caminhos sinuosos que percorriam as diferentes áreas reservadas a bicharada: a dos felinos, dos primatas, dos roedores, das aves desfrutando em cada uma os diferentes odores, gritos, gorjeios misturados com os aromas das flores e dos frutos primaveris.

Sem se dar conta, levada pela atmosfera contagiante do local, segura a mão de Vitor, que a aperta contra a sua num movimento delicado e, trocando olhares, esboçam um sorriso carinhoso refletindo o estado de espírito que ambos sentiam naquele momento.

De repente, um grito quebra o momento aprazível reinante:

-Eduardo!Eduardo! vindo de um homem, vestido com o uniforme do Zoo, correndo em direção a eles, de braços abertos.

-Como estás! Por onde andastes! Abraçando-o efusivamente.

Vitor o mira esboçando surpresa e afastando-o de si.

- Sou eu Alfredo! Seu primo. – Não me reconheces? Replica o estranho mais surpreso ainda.

Francisca intervém, explicando ao desconhecido o acidente, a conseqüente perda da memória, a falta de documentos, a ausência da procura da família por Vitor.
- Não!Contesta Alfredo. – Eduardo é órfão e não tem irmãos. Eu sou seu primo único. Eu e sua noiva Marília estamos muito preocupados com a falta de noticias dele. Pensávamos que ainda estivesse no Tibete fazendo o retiro espiritual, pois é praticante fervoroso do budismo. Quando está lá, é proibido fazer contato com o mundo exterior. Só que desta vez estava demorando a retornar ou a nos contatar. - Vou ligar já para Marília, dando-lhe a boa notícia.

- Diga-lhe que Vitor, ou melhor Eduardo como o chamas, está internado na Santa Casa para onde retornaremos, replica Francisca, mal escondendo a voz embarcada.
Nos dias seguintes Francisca evita ir à ala onde está o seu Vitor, mas fica sabendo pelas demais cuidadoras que ele, com as visitas diárias de Marília e Alfredo, vem recuperando a memória em ritmo acelerado e em pouco tempo deverá ter alta.

Neste dia, recebe a visita de Eduardo, que abraçado a Marília e em companhia de Alfredo, viera lhe agradecer a atenção e o carinho prestado durante sua recuperação, e, em retribuição, a  convidam para madrinha de seu casamento que já estava agendado antes do acidente acontecer.

Francisca aceita, já tendo aquele seu Vitor distante nos sentimentos.

Mas o destino quer ir além, não deixando arestas que possam ferir.

Tendo Alfredo como seu parceiro no casamento, inicia-se entre Francisca e ele uma troca de conhecimentos e experiências comuns sobre o mundo animal que culmina, como as aves, flutuando nas nuvens, só que desta vez, tendo Eduardo e Marília como padrinhos de casamento e os pequenos gêmeos destes carregando as alianças do milagre acontecido.



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