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Mentira traiçoeira - José Vicente Jardim de Camargo

 
Mentira Traiçoeira   
José Vicente Jardim de Camargo   


Era um domingo de Sol, céu límpido, sem qualquer vestígio de nuvem, ideal para renovar o bronzeado que já estava precisando após dias de frio e chuva.

Bem dormido e disposto, Rogério só pensava em ir logo à praia,    bater uma bola com o pessoal da rua 6 e, nos intervalos, dar umas surfadas se as ondas estivessem boas e a orla não muito cheia, o que duvidava.

Munido dos apetrechos essenciais, o menos possível, para não esconder o visual sarado que lhe custou tantos sacrifícios de dietas e academias, Rogério caminha pelo calçadão mirando disfarçadamente, com o canto dos olhos, o pessoal estendido na areia a procura de Verinha com quem está a fim de iniciar um novo caso, depois do fora que levou na última paquera.

Com Verinha vai ser diferente. Uma relação daquelas do tipo “deixa rolar para ver o que dá”, na sua opinião, a melhor de todas para sua idade e situação financeira.

Súbito vê Mauricio vindo em sua direção, gesticulando como a dizer  – “saco! Por onde você anda!”:

—  Cara, já te liguei varias vezes, sempre caixa postal. Tu precisa me dar uma mão. A Lucia insiste em saber por que eu não apareço mais no bar do Mané às sextas-feiras. Já falei pra ela que estou fazendo o curso de autoajuda promovido pelo Centro Acadêmico, mas ela não acredita, acha que um cara como eu jamais faria tal coisa, não combina! Só tu sabe o motivo de eu estar fazendo esse sacrifício, enfrentando esse besteirol todo, sem pé nem cabeça!

 É, mas você não me disse ainda o nome dela -  completa Rogério curioso.

 Vou te contar só depois que tiver a pombinha na mão, entregar o santo antes dá azar! - continua Mauricio apressado em ter o ok do amigo e continua:

—  A Lucia está com o pessoal na rua 6, digas a ela que nos dois  fazemos o curso, que está muito interessante, levanta o astral, melhora a performance, invente um blablá, qualquer. Você sabe que é da Lucia que eu gosto, assunto sério, planos de morarmos juntos assim que o negocio dela melhorar. A outra é passa tempo, pura vaidade, não podia deixar passar um mulherão desses sem tentar beliscar, coisa fina... Depois a vontade acalma, o orgulho satisfaz e vira passado...

Rogério, a contra gosto concorda, querendo logo terminar a conversa para curtir a praia e talvez um dia pedir uma retribuição pelo favor prestado.

Suado, cansado do jogo de vôlei bem disputado e pensando em pegar umas ondas mais tarde, procura Lucia na turma e senta ao seu lado puxando logo a conversa combinada:

 Outra coisa olhar a vida satisfeito consigo mesmo, até o jogo rola melhor. Ótima ideia teve o Mauricio de fazermos esse curso do Centro Acadêmico. Me deixa muito Zen. Único senão é ser as sextas a noite, termina tarde, com jogo no sábado cedo, não dá para esticar pra balada, vou direto pra cama.

Lucia o mira com um olhar de surpresa:

— Não sabia que você também participa, Mauricio não me disse  nada. Fico aliviada em saber. Você me tira um peso da consciência. Já pensava em ir ao curso para ver se é verdade. Faria papel de boba e Mauricio poderia até terminar comigo, ele detesta cenas de ciúmes.

 — Mas me diga, do que você mais gosta do curso, quero fazer no próximo ano!
Rogério levanta rápido dizendo:

— Desculpe, estão me chamando para o jogo, depois falamos...

No troca de bolas, Rogério toma a decisão de ir ao curso a procura de alguma apostila sobre o conteúdo do mesmo, caso Lucia insista com a mesma pergunta.

 — Sala 4 do pátio! -  diz o funcionário ao ser perguntado do local do curso de auto-ajuda.

No meio de um burburinho de vozes, risadas, empurra-empurra, ambiente típico de recreio, Rogério procura a sala informada para encontrar Mauricio, lhe contar o sucesso do acordo e a necessidade da apostila.

Súbito estanca, pálido vê encostada ao lado do quiosque, cabeça reclinada sobre os ombros do companheiro, entrelaçados, numa troca de caricias:

Verinha!

A garota que ele está a fim, que há tempos vem tentando paquerar, com desejos e paixões crescendo no peito cada vez que a vê ou imagina a cena dos dois juntos, enamorados...

Balbucia um palavrão! Seu pensamento está confuso, não consegue pensar direito e a ficha cai de vez ao reconhecer, ao lado dela Mauricio...


ACAMPAMENTO DE UM POVO NÔMADE QUALQUER - Maria Luiza de Camargo Malina

 

ACAMPAMENTO DE UM POVO NÔMADE QUALQUER                                                                             
Maria Luiza de Camargo Malina


Um pequeno povoado do leste europeu, fazendo fronteira com a Polônia, é o lugar escolhido para uma das paradas de um grupo nômade. A pequena vila que  se perdia, entre distantes fazendas, em imensos campos cobertos pela neve.

Sabia-se que os que lá estavam acampados viviam de trocas de mercadorias, vendas de artesanato, metais. As mulheres, de longas e coloridas saias envoltas em seus xales, previam o futuro pela leitura das calejadas mãos dos habitantes locais, cuja lavoura principal é a batata. Outras preparavam bebidas quentes e deliciosos guisados, como famoso “goulash” em imensos caldeirões pendurados sobre a fogueira. Os violinistas alegravam os curiosos bem atentos que lá chegavam. Eram dias típicos, que animavam os moradores a saírem de suas casas.

Durante a feira, em que tudo se vendia e tudo se comprava, um fazendeiro chega com quatro cavalos fortes que chamam a atenção dos nômades. Já estavam necessitando de cavalos, pois com o frio excessivo alguns já haviam morrido. De imediato, fazem a negociação, pois teriam que desmontar o acampamento no dia seguinte. Venda realizada.

Durante a noite, ouvem-se seguidos gritos de socorro. Todos se entreolham. Ninguém abre a porta. Estanislav e Mili, que dormiam no sótão, espiavam entre as frestas da janela e percebem no contraste da neve, os Nômades encobertos pelos mantos negros, deixando as marcas das pisadas afundadas na neve, de um lado para o outro. Um deles estava próximo à porta. E os gritos continuavam, como que a se distanciar. Todos ficaram em absoluto silêncio.

Foi uma noite de terror. No dia seguinte, Eva pergunta ao seu marido o que ele havia vendido para os Nômades, pois sabia que aproveitava alguma oportunidade para desfazer-se do que não precisava mais.

- Vendi os cavalos para os nômades.

- Como! Os cavalos estavam velhos, desdentado, quase nem paravam em pé. O que você fez? Pergunta Eva, colocando as mãos na cabeça apavorada.

- Bom, eles é que quiseram comprar. Eu estava lá. O que eu fiz?  Ora Eva! Na cocheira antes de sair, enfiei um copo de aguardente na goela deles para ficaram bem espertos, pareciam cavalos novos. Até eu fiquei impressionado! Gostaram e compraram, aliás, já devem estar a caminho de outra fronteira.

 Eva, balançava a cabeça dizendo:

— Não, não, desta vez foi você quem tapeou os Nômades. Precisamos tomar cuidado.


- Quer saber de uma coisa? diz Estalislav -  O guisado cheirava a muito bom, não comi é claro. Mas, fiquei pensando de onde teria vindo a carne!

A Vingança do Feitiço - José Vicente Jardim de Camargo

 

A Vingança do Feitiço
José Vicente Jardim de Camargo


No apartamento aconchegante aquecido pelo fogo da lareira, Joan, estendida sobre o tapete de lã, escutava o vento forte batendo nas janelas da sala. Nas mãos, as folhas manuscritas de sua tese de doutorado sobre a influência da telepatia na mente humana.

Desde criança sentia o dom de prever coisas que aconteceriam logo ou dias depois através da concentração da mente.

Recorda-se da primeira vez que fez este exercício. Foi exatamente como na história infantil que sua professora contou à classe e que a deixou fascinada. Olhando fixamente para seus pais, pedia a eles o que queria receber de presente no Natal e qual não foi sua alegria ao receber tal presente.

Com o decorrer dos anos foi crescendo suas tentativas e sucessos : pensava numa pessoa e esta lhe telefonava ou a encontrava de pronto; as matérias dos exames da escola eram as que tinha sonhado dias antes ou desejado.

Para completar sua tese faltava o material que procuraria obter na visita que faria ao vidente Ghotoz  que vive numa aldeia da Namíbia e famoso no meio acadêmico por sua extraordinária força telepática e por suas visões e adivinhações do futuro.  

Também estava a fim de saber algo mais sobre o desaparecimento da jornalista do Herald Tribune dias após ter feito uma entrevista com ele há 2 anos. Tanto ela, como o material da entrevista, nunca foram encontrados.

Súbito algo a faz desviar seu olhar para a coleção de estatuetas africanas que Fred vinha colecionando desde quando começaram a fazer as viagens à Namíbia. Conhecera Fred quando ele estudava História da Arte Africana e ela psicologia na Universidade de Cambridge. Foi amor a primeira vista. Casaram-se em seguida. Fred especializara-se na nos mitos, crenças e arte dos povos Kua-Kua que habitam há séculos grande parte do território que hoje é a Namíbia. Sua tese de doutorado rendeu-lhe o cargo de professor assistente na universidade.

Desde então visitam a Namíbia anualmente atrás de documentos e fotos que enriqueçam as aulas de Fred.

Da coleção de estatuetas africanas, uma sempre lhe chamou mais a atenção pelos seus traços fortes, marcantes, bem torneados, mas ao mesmo tempo de uma graça e leveza que lembra as estátuas femininas gregas. Fred, após pesquisa nas aldeias da Namíbia, de onde teria originado a figura, concluiu que seria a deusa da justiça dado segurar em uma das mãos um facão e na outra um rolo de pergaminho, simbolizando o castigo e a prova do crime cometido.

Seu pensamento é interrompido com o abrir da porta de entrada e a voz de Fred informando que os preparativos para a viagem estavam confirmados: itinerários, passagens, hotéis...

Joan, ansiosa, pergunta se a estadia em Cape Cross Seal Reserve também estava confirmada. Daí partiriam até a aldeia onde vivia Ghotoz, meio perdida no vale do Rio Ugab.

— Bem, responde Fred, até a pousada em Cape Cross, tudo ok. Daí pra frente entra o trecho desconhecido que nunca fizemos. Será uma aventura no escuro...

Joan, sempre que recebe respostas indefinidas como esta, aperta com força o amuleto de osso de leão ornado com sementes raras que ganhou de um curandeiro de uma das aldeias Kua-Kua e que traz desde então pendurado ao pescoço.

— Sempre que sentires uma força negativa, aperte-o com força e invoque a proteção de Watan, deus do bem - disse ele.

Joan, que já tinha comprovado a força do amuleto junto com seus dons telepáticos, sentia no seu íntimo que a visita a Ghotoz seria realizada sem empecilhos...

Já fazia 20 dias que haviam partido da Cidade do Cabo, como sempre ponto de partida para a temporada na Namíbia.

Depois de passarem pelos locais turísticos que não deixavam de visitá-los, dado as suas belezas naturais, aventuras de alta adrenalina e da comida bem temperada, farta e barata, Joan e Fred sonolentos, miravam o passar da paisagem típica da região pela janela do Shongololo Express Namíbia em direção a Cape Cross Seal Reserve.

Passaram a fronteira da África do Sul com Namíbia há 2 horas e, se a avaliação do Fred estava correta, em mais 1 hora chegariam a  cidade mais perto de Cape Cross. Daí, seguiriam em jeep alugado até a reserva e nesta ao “Lodge Cape Cross”, única pousada permitida para turistas no parque.

— Isto, se a locomotiva a vapor inglesa remanescente do período colonial, e a reserva que fiz, não derem problemas - completa Fred, demonstrando ares de dúvida.

Joan, apertando seu amuleto com força, replica:

—  Não creio, tudo vai dar certo...

Cape Cross Seal Reserve é uma reserva parque na costa do Atlântico, descoberta em 1486 pelo navegador português Diogo Cão que lá fincou uma cruz demarcando a descoberta. É uma das maiores reservas mundiais de focas e lobos-marinhos, orcas, baleias, aves e peixes de varias espécies. Verdadeiro santuário para naturalistas e biólogos.

Os nativos desta região vivem em varias aldeias espalhadas desde a costa rochosa até o vale do Rio Ugab. Alimentam-se basicamente da pesca e da caça e são adeptos fervorosos de rituais que evocam as magias negras comandadas pelos feiticeiros, entre eles, Ghotoz, reconhecido como o mais poderoso dado a sua força de adivinhar pensamentos e de prever o futuro e do poder de seu feitiço.

Sem problemas, Fred e Joan estavam acomodados em seu apartamento no “Cape Cross Lodge” saboreando um refresco de frutas diante da vista deslumbrante dos rochedos cobertos de focas e aves marinhas e batidos pelas ondas encrespadas do mar revolto. No ar o cheiro da maresia misturado com o odor acentuado de restos mortais desses animais devorados pelos seus predadores e de seus excrementos.

— Amanhã, a estas horas, já estaremos de volta da visita a Ghotoz” - disse Joan enquanto Fred fotografa a paisagem.

—  E espero com o material necessário para completar sua tese e noticias do paradeiro da jornalista do Herald - responde Fred ajustando o zoom da sua Nikon.
Joan olhando o horizonte, vê em sua mente um quadro confuso de imagens e sombras. Não conseguindo interpretar o significado, aperta com força seu amuleto de ossos e invoca Watan para que a acompanhe amanhã na visita a Ghotoz.

Em sua cabana, mais espaçosa que as demais, em posição de ioga, na penumbra, no meio da neblina proveniente de incensos aromáticos, rodeado de cuias e sacos com sementes, pós de diversas cores, crânios e penas de animais e aves, Ghotoz medita.

De repente balbucia:

— Se despertares a ira dos meus espíritos, terás o mesmo fim que a outra! -  e, se estremecendo todo, lembra da tentação ardente que lhe tomou o corpo ao ver e falar com a estrangeira que o visitara tempos atrás e que quanto mais dele perguntava, mais seu desejo crescia. Ao despedir-se dele e contar que iria encontrar o noivo nos rochedos da praia, o espírito da luxuria o penetrou e seguiu-se o ritual do sacrifício entre gritos, chamas, fumaças e raios. Da cabana um clarão eleva-se ao céu.

No mesmo instante, do Rochedo da Cruz, um corpo de homem despenca ao mar...
Do lado de fora, passadas e murmúrios quebram o silêncio.

— Entre a moça loira de mochila, homem alto ruivo com câmara não! -  comanda a voz de dentro.

Joan, com passos vacilantes aproxima-se, já se dando conta do poder de adivinhação do visitado, uma vez que ele, não os conhecendo e de olhos fechados, não poderia saber de detalhes pessoais de ambos nem o que traziam consigo.

— Tudo que queres saber de mim, já o disse a outra! - escuta Joan e, ao tentar argumentar que desconhecia o paradeiro da outra, os olhos de Ghotoz se abrem e miram, com um brilho penetrante como um raio, seu amuleto de ossos que no mesmo instante arde como brasa. Um solavanco a derruba ao solo. Quer gritar por Fred, mas tem sua voz tapada por algo invisível.

Nisto, uma luz brilhante surge no teto da choupana e uma figura de mulher de semblante raivoso envolta em neblina e com um facão nas mãos, desce rapidamente e com violência esfaqueia Ghotoz que, com fisionomia de pânico, gestos de terror e uivos, cai sem vida ao chão. A figura, agora com semblante gracioso, mira Joan e desaparece...

Esta, recuperada das forças, corre para fora a procura de Fred e o encontrando, abraça-o e com um olhar de satisfação murmura:

— Tenho tudo que precisava. Voltemos para casa.

Ao entrarem no hall do prédio, vindos do aeroporto, o porteiro dando-lhes as boas vindas, informa:

— Ontem, uma jovem deixou comigo esta pasta para entregar a miss Joan quando voltasse de viagem. Disse que são documentos importantes.

Joan agradeceu e como já desconfiando do que se tratava, subiu no  elevador ansiosa para confirmar sua suspeita.

No beiral da porta, Fred assustado grita:

— Alguém entrou em casa, pois a minha estatueta da Deusa da Vingança desapareceu!”.










OS MISTÉRIOS DE CAPE CROSS - Oswaldo Romano



OS MISTÉRIOS DE CAPE CROSS
Oswaldo Romano 
                                                                                     
            O Express Shongololo  que levava o casal Fred e Joan, cruzava o deserto e mostrava a impressionante paisagem que em viagens anteriores já admiraram.

            Os mesmos cenários surreais deixava-nos deslumbrados. Suas dunas, a cor da areia, e a vegetação desse que é o maior parque que abriga a grande reserva animal da África.
            Uma viagem proveitos que unia o turismo ao principal objetivo há tempos programado, encontrar o misterioso telepático do além, o vidente Ghotoz.

            Joan pretendia terminar sua tese, carregava esse objetivo, uma ideia fixa que não conseguiu abandona-la. Agora estavam em viagem. Essa obsessão por vezes a cegava. Escapavam-lhe tantas outras novidades dessa misteriosa Terra.

            Chegaram à província, quando pela primeira vez perguntaram pelo vidente. O namibiano sorrindo disse:

            — Pelo nosso Deus,  profetas! Aqui tem tantos Ghotoz, tanto quanto temos de focas! Muitos em Karas, Hardap, Caprivi, Karango. Joan Tomou um banho frio! Mas, não desistiu. Queria saber da jornalista desaparecida. Ignoravam. Mas, como em toda parte, tinha os que profetizavam. Sempre questionados  sobre o fato, insinuavam recompensa.

            Desaparecimentos de pessoas serviam para levantar pensamentos místicos na região. As autoridades escondiam, mas os guias nabianos deixavam escapar que desavisados turistas, ávidos para conhecerem melhor a cratera de Messum, levados por ruídos mântricos das profundezas, tomados de magia e ocultismo, desapareciam lá.

            Joan quis conhecê-la e com essas informações, ganhou uma misteriosa iconolatria que devaneia sua personalidade, levando-a a um regozijo sobrenatural, convencida que foi ter sido esse modo como desapareceu a jornalista.

            Dando por encerrada a busca, resolveu terminar sua tese no regresso, desviando o tema. Desta maneira conseguiu um premiado trabalho revelando para o mundo outras informações também sonegadas por autoridades da Namíbia. Foi durante a viagem de volta quando o casal conheceu de perto o Okavango, rio caudaloso que não alcança o mar como a maioria, pois sua foz dissolve-se no deserto. Resolveram dar um stop no paraíso das focas, onde um milhão ou mais, ali acariciando-se mostravam o espetáculo.
            
        Coisa maravilhosa só no período turístico. Fora dessa época, acontece o da matança. Consta noventa mil o número de focas abatidas anualmente. Usam clavas providas de um grande prego na ponta, atingindo suas cabeças. Com conhecimento o governo participa do lucro oriundo da venda dos seus couros. Porretadas dadas por homens atletas, urram na hora,  como no kung-fu, provocam uma demorada sangria até a morte, encharcando de sangue a areia da praia.

            Depois da carnificina o governo usa tratores equipados com laminas para enterrar o crime. Apresenta assim aos turistas, uma praia limpa com focas sadias que vendo os homens, uivam, uivam, ficando o mistério se o fazem de alegria, ou é um choro pela perda dos seus filhotes, dos seus semelhantes.


            Joan navegando nas doloridas palavras que escreveu, depois de apresenta-la, resolveu em definitivo, arquivar  sua triste tese.


Hoax - Vera Lambiasi



                                                                                                                                                 foto © Thiago Duran


                                 Hoax

O embuste da semana foi a declaração do playboy Chiquinho Scarpa, que iria enterrar o seu automóvel Bentley, de um milhão e meio de reais, no jardim de sua mansão. Como faziam os faraós do Egito, com suas preciosidades.

Anunciado o improvável, Chiquinho virou chacota nas redes sociais.

Chamou a atenção da mídia para o momento fúnebre, convocando jornalistas para o enterro.

Na hora H, cova rasa prontinha, o conde anunciou que não era biruta de soterrar um bem tão caro.

        E assim são os órgãos do nosso corpo, depois que morremos.
E emendou :

        Absurdo é enterrar algo mais valioso do que um Bentley : seus órgãos.

Slogan pronto, numa ação de marketing impressionante, Chiquinho Scarpa e a Leo Burnett enganaram a todos, chamando a atenção da população para uma importante propaganda institucional a favor da doação de órgãos.

Mas o mais engraçado desta história  foi um sujeito que mandou-o enfiar o Bentley. E ele respondeu que não caberia.

O nobre, perguntado por um jornalista, sobre a cascata, e se alguma coisa nessa ação de marketing havia o incomodado, respondeu que ficou um pouco chocado com as reações no facebook.

Em suas palavras :

        Houve quem me mandasse enfiar o Bentley no cu. Haja cu, né ?

E respondeu o jornalista :

        É ! Haja !





FESTA ARAPUCADA - M. Luiza Camargo Malina



FESTA ARAPUCADA
M. Luiza Camargo Malina

 Tanta dor
Tanto fel
Tanto amor
Numa folha de papel.
Tanta história de coronel
Na literatura de cordel
Boi Bumbá, Maracatu
A festa já se foi
No sertão só ficou
A chuva forte do tutu
A seca e o mandacaru.
Mais um retirante
Que no grito do berrante
Se calou.
Da irrigação nada se falou
No meu coração tudo se amargou
O meu boi
de bumbá se fantasiou
E o cerrado se encantou.



ANTOLOGIA DO ESCREVIVER - em breve!



Aguardem!

Em breve estes autores vão transformar em livro os contos criados em sala.

Trata-se de uma variedade de textos, nos gêneros poesia e conto, que foram inventados pelos participantes da Oficina EscreViver.

A primeira obra oriunda da Oficina.

Aguardem!

Poirot - Uma nobre missão - Oswaldo Romano


POIROT – UMA NOBRE MISSÃO

OSWALDO ROMANO                                                           
                          UMA FICÇÃO COM MUITAS VERDADES

A empresa R.G.Dun, localizada em São Paulo, orgulhava-se de ocupar parte do Prédio Martinelli, o primeiro edifício e concorrido ponto turístico da cidade. Uma das suas curiosidades, a mais simples, tinha a calçada feita com tijolos de vidro, mostrando movimentos do seu sub-solo avançado por baixo do passeio.

 Do seu interior vendo os que passavam por cima via-se a imagem distorcida. Na calçada, alguns alçapões para recebimento de mercadorias! Mármores Carrara, o pinho de Riga da Estônia, trazido por naves portuguesas, vidros e espelhos Belga, sanitários ingleses, elevadores Suíços. Instalou-se no prédio com pompas, jornais, sindicatos, clubes como o Palestra e a Portuguesa. Quando em 1.931 Marconi visitou o Brasil, quis conhece-lo. Na viagem do Zeppelin à São Paulo, este deu uma volta em torno do prédio mostrando aos seus passageiros o mais luxuoso e alto da América do Sul.

A R.G.Dun, empresa de investigação, no seu quadro mantinha só agentes categorizados, responsáveis, apresentáveis, de cuja visão nada escapava.

Como nem tudo eram só flores, a crise que começou em 29 atingiu Martinelli levando-o a vender o imóvel em 34, para uma empresa patrícia, financiado pelo governo italiano. Logo mais, aproveitando-se das normas de guerra o governo brasileiro confiscou o edifício, cujo proprietário fazia parte da união chamada eixo. O escritor Oswald de Andrade, intitulou-o de – o bolo da noiva, - pelo destaque entre tantas construções baixas. A R.G.Dun e demais ocupantes, na deca de 50, sentindo o  abandono do edifício, transferiu-se para outro endereço e com ela seus agentes deixaram um rastro de nostalgia no  depredado, mas conhecido arranha céu.

Tristemente, seu abandono pelo governo, o transformou num enorme cortiço, coisa comum no nosso iludido Brasil.

Como iria acontecer, a degradação do prédio abriu passagem para a total invasão de bandidos, ladrões e campeou a mais desprezível prostituição. Da construção invejável, nada mais funcionava. Abriu-se uma fenda propícia a crimes de toda natureza. O mais sentido foi a morte do menino Davison, encontrado no fundo do poço do elevador, todo marcado, seviciado.

Poirot, o melhor detetive da G.Dun, sensibilizado assume a investigação. Por segurança não podia permanecer trabalhando a noite no prédio todos os dias. Sua presença assustaria ainda mais os dopados moradores já apavorados com a existência dos temíveis fantasmas. Flashes de câmera, nem pensar. Surgiam tantas almas penadas que lhes fora dado até nomes. O mais conhecido era o fantasmagórico Erik que quando descrito tinha semelhanças com o detetive Poirot. 

Poirot se reservava, gostava de ficar atrás de uma das pilastras de mármore da Toscana. Com sua câmera Nikon 5100, acoplada a super lente DX200 noturna, procurava gravar os zungus mais suspeitos. Havia horário da noite que nas escadas ou caminhando pelos corredores Poirot tinha que pular corpos, alguns em orgia, seminus. Os sóbrios, quando alguém anunciava “fantassssmaaa” na corrida se atropelavam, vestidos, ou nus.

Naturalmente desde o início Poirot anotava na sua agenda qualquer fato relevante, para desvendar o culpado do tão horrível crime.         Numa das noites, atrevendo-se um pouco mais, enveredou por um tétrico corredor procurando encontrar alguma coisa que pudesse ajuda-lo na busca. De luz, usava apenas seus fósforos. Não só iluminava como também, o cheiro exalado do enxofre disfarçava a fedentina existente. No fim do corredor ao acender um dos fósforos, escapa-lhe a caixa e querendo apanhá-la ainda no ar, bateu com uma das mãos, tirando-a do possível lugar da queda. No ímpeto abaixa-se para tentar apanhá-la, mas procurando no tacto, não a encontra.

Nesse momento, algo lhe toca a cabeça. Sente aquele conhecido arrepio na espinha.

Poirot, mesmo com toda sua vivência entre crimes, é humano, assusta-se, fica estático, se encolhe, só meche os olhos, tenta descobrir o que foi.

Vê um lençol branco em formato de homem com capuz, seguir pelo corredor. Vê também avoaçar esse pano, e em seguida sente o mesmo vento passar por ele. Um vento dos demônios. Frio, obriga-o fechar os olhos, instante que aquela visão terrível, desaparece na escuridão. Respira fundo, lentamente recompõem-se. Olha para cima, o preto da noite ficou mais preto. Levanta-se.

Treinado, nessa hora convenceu-se. Foi isso. Foi isso que levou o menino Davison cair no poço. Fugia no escuro da alma penada. Não foi jogado porque, reinava ali brutalidades vãs, um estupro era divertimento, tamanha promiscuidade não tinha peso sentimental para esses insignificantes fatos.

O detetive Poirot convencido deixou o Martinelli, mas levava consigo um sentimento, um vazio.


Usou seu prestígio, voltou à luta, movimentou políticos. Sensibilizou autoridades e convenceu o prefeito da cidade a tomar providências. Este, um dos bons, seu nome iniciava com a letra O. O de obsessão, de responsabilidade. Desapropriou da União o prédio, e restaurou o primeiro símbolo de São Paulo. *


Louvação a uma nação - Oswaldo Romano


LOUVAÇÃO A UMA NAÇÃO
Oswaldo Romano                                     

Tudo quando muito grande,
Uma enorme área pra educar
É o caso do Brasil, um gigante,
Faltam cabeças pra governar.

Quis-lhe fazer uma homenagem,
Enrosquei em tudo que pensei.
Nos políticos? Só vagabundagem
No povão? Tudo vazio, nada encontrei.

Fui pra religião, escutei bispos por todo canto.
Uns tomados,  gritavam, provocavam a mente
Nessa igreja foi um espanto
O dizimo era levado no palco por muito crente.

Aquele paspalhão pedia e só falava tolice,
Vocês tem que dar, ou serão punidos.
Vai ter doenças, vão sofrer na velhice.
Como um cão usava Deus, expelia só grunhidos.

Desisti, não procurei mais nada.
Recolhi meus pensamentos,
Preservei a minha empreitada
Que besteira eu, atrás desses nojentos.

A culpa é do Brasil,
Que deitado em berço esplêndido
Vê o povo, apoiando um  governo frágil.
É zombado, nunca ouvido, enganado e coagido.

Ainda insistindo, mantendo muita calma,
Entrei numa igreja católica, no convento.
Um silêncio profundo enchia-me a alma
Entre Todos os Santos,  acalmei meu sentimento.

Pedi, rezei , invoquei  muitos, muitos santos.
Supliquei ao Papa, pedi proteção ao Brasil.
Ele é a esperança, percorre todos os cantos,
Pena ser Portenho,  paciência, é um herói, é varonil.



Por una cabeza - Vera Lambiasi


Por Una Cabeza
Vera Lambiasi

Cesar, de Buenos Aires, grande comedor de empanadas, detetive particular.
Foi contratado por um dançarino de tango para investigar sua esposa, e parceira de tablado.

Manuela, voluptuosa portenha, encanta a todos com sua ensaiada cadência.

O marido, enlaçado por suas longilíneas pernas, desconfia de seu envolvimento com outro membro da Esquina de Gardel.

Cesar, recrutado para observá-la, posta-se atrás da coluna, e a vê chegar em seu vestido vermelho, cintas ligas pretas e uma rosa artificial no cabelo desgrenhado.

Em perseguição, Corrientes, 348, vem o suposto amante.

Tem que ser rápido, pois o casal já está correndo.

Não sabe se observa pelo binóculo ou saca a máquina fotográfica.

Aparvalhado com a situação, Cesar derrapa no chão escorregadio, derruba binóculo e câmera, e é desmascarado pelos dois fujões.

Fim do primeiro dia de emprego para Cesar, como espião.

Manuela rompeu com o marido e foi se apresentar com o novo partner no Faena, em Puerto Madero.

Muito melhor a gorjeta.
Muito melhor o amante.                  

Muito melhor o tango!

A FESTA DE SANTO ANTÔNIO - Oswaldo Romano



A FESTA DE SANTO ANTÔNIO
Oswaldo Romano
                                                                          
Na compra da fazenda não contava com o Saci.


         Na fazenda dei continuidade aos seus costumes. Foi preparada a festa de Santo Antônio para a noite de treze de junho. Começamos montando no topo do mastro a figura do santo casamenteiro. Fios com muitas bandeirolas foram esticados. Contratamos o sanfoneiro e sua mulher cantante. Pau de sebo, palhetas, cadeia, fogueira. Tudo preparado.

         Quando Casimiro, o sanfoneiro, abriu o fole da sua poderosa oito baixos e a Maria abiu a goela, foi o início da festança. Já rolava o quentão, o pessoal já se balançava.

No transcorrer da festa tínhamos combinado:

         Eu e meus filhos vestidos a caráter, reluzentes esporas de prata, a certa altura da alegria chegaríamos cavalgando, usando todos os apetrechos condizentes como quem volta vencedores de uma cavalhada. Os animais muito bem paramentados estavam com muitas correias, galões, fivelas, botões. O Pedro, nosso administrador foi quem preparou os cavalos na cocheira. No horário marcado fomos pra lá, local pouco iluminado, mas sempre luzes fracas ligadas com o propósito de espantar os morcegos da espécie hematófaga.

Com os cavalos em marcha cadenciada chegamos com galhardia, recebidos com foguetes e o chorado som da sanfona.

Um ou outro animal rinchava, mas todos se movimentavam com batidas do casco, estalando os pedregulhos que revestiam o chão.

         Acontece a grande surpresa! A Marta, escolhida delegada da festa, minha mulher, espantada perguntou:

         — Porque trançaram os rabos dos animais?

         Todos procuravam olhar o seu rabo. Todos os animais tinham tranças embaraçadas.

         — Vingança! Deus me livre... Falou o Pedro

         — Vingança de quem? Perguntei.

         — De quem não foi convidado.

         — Sim, mas quem?

         — Do Saci-Pererê. O pequeno moleque negrinho de uma perna só, com seu cachimbo e a magia do seu barrete vermelho, aparece, salta e arma essas ciladas. Ele tem comigo. Preciso acalmá-lo. Amanhã deixo na cocheira sua cachaça preferida.

         — Ele bebe, pai? Pergunta a minha menor.

         —Não filha...

         — Mas leva para sua mata, com ela cura seus ferimentos provocados pelos coices, completou o Pedro.

         — Pai disse o filho que a tudo assistia, fazendo-se de desentendido: Vamos tomar um quentão? Tá fraquinho, pai.

         — Muito bom! Vamos antes do Saci.

         Passaram-se uns dois meses, o filho mais velho o Thiago, tinha na cabeça a história do Saci-Pererê. Uma noite, começo da madrugada, Thiago já quando todos dormiam, perdeu o sono com os problemas da faculdade e resolveu tirar a limpo a existência do tal Saci que frequentava a cocheira.

         Aproximou-se com muito cuidado, escondendo-se quando percebido, atento na conduta dos cavalos. Mais atento e medo no possível encontro de dar de cara com o negrinho de uma perna só. Os animais estavam impacientes, nessa hora não queria nem pensar em encontrar o tal Saci.

         Era homem, e se o propósito era esse encheu-se de brio e com um pouco mais de coragem entrou vasculhando os arredores. Acariciou o seu cavalo, este rinchando de alegre, deu motivo aos outros rincharem várias vezes, enquanto as éguas bufavam. Com pouca luz, escuro mesmo, esforçava-se na procura do negrinho.

         Enquanto isso, lá na casa do capataz, Pedro que dormia ligado na fazenda, ouviu apreensivo o alarde dos animais. Apanhou sua dois canos, meteu os cartuchos, encapotou-se, e disse a  mulher: Vou fazer uma diligência. Os animais estão fora do normal, perturbados.

         — Pedro cuidado, será que o saci voltou?

         — Acho que sim.

Nada de lanterna, esta poderia denunciá-lo.

         Escuro como estava e não querendo ser visto chegou cautelosamente e postou-se atrás da coluna de sustentação. Ao movimento dos cavalos viu uma silhueta, só poderia ser ele, o Saci. Hoje podia provar sua existência. Logo pensou em mandar-lhe bala. Aparecia de lampejo e sumia entre os animais, tão fraca era a luz, e a visão muito prejudicada pela poeira levantada, quase uma neblina.

         Cônscio da responsabilidade do cargo ponderou que se atirasse poderia ferir algum cavalo. Mesmo assim decidiu, apontou o trabuco, mirando a cabeça do perneta. Sentia segurança, ia atirar. Repensando iria arrumar uma encrenca dos diabos na hora, e depois, caso matasse o molequinho. E a mão de obra e alvoroço que ia dar? Admitiu orgulhoso, até ficaria famoso. Depois seria odiado pelas crianças, talvez por todos. Agora comprovava sua existência, a não ser estar delirando e vendo fantasma. Estava convicto ser ele, o Saci em carne e osso. Os animais continuavam inquietos. Tudo que se ouvia era esparsamente o pio agoureiro do corujão aninhado por ali.

Falam que o saci é muito misterioso! Quem iria acreditar? E o estampido do tiro? Esse calibre doze acordaria todos os peões da fazenda. E daí? Cumpria sua obrigação. De novo a cabeça do neguinho ficou na mira! Ia atirar. Nesse momento um animal iniciou aquele longo rincho, intermitente, chorado. Pedro aceitou como um aviso. Sofreria depois o peso da culpa. Abaixou sua arma, voltando indeciso para casa.

         O Thiago há tempos na cocheira, mantendo o maior silêncio, já descrente, acabou regressando, escondendo o fato do pai, que não permitia saírem a noite.

         À noitinha depois do jantar, os homens juntavam-se e entre outras coisas, queimavam conversa fiada. O capataz estava ansioso pra contar o acontecido.

Muito entusiasmado começou falando da sua aventura. Citava toda hora o Saci, e sua figura vagueando entre os animais.

         — Puxa! O senhor teve muita coragem, - e conta prá nois, como ele é?

         — Bem... Pula, muito arisco, mas vi, ele gosta dos cavalos!. Do pasto vinha neblina  e se misturava com o pó, prejudicava a vista.

         — Escuro, várias vezes levantei a espingarda, apontei, alisei, pensei... pensei como seria depois.
Acho que tive juízo, não atirei! Poderia ferir algum animal e faria essa besteira só pra mostrar pro seis um montinho de gente, uma coisa, sei lá...

         — Você não ia ver nada, Pedro, - eu disse. Certamente um animal sairia ferido. Ele não, ele é uma lenda, uma ilusão criada para divertir o povo, as crianças. Para você entender...  Um rolo de fumaça!

         — Dotor, e as crinas e rabos trançados no dia da festa?

         — É verdade, disse um peão. Inté eu já fiquei de zóio. Vamo ficá quieto num fala nada, prás muié não arvoroçá.

         — Acreditem na minha fala. A coisa foi muito séria, até arrepio senti, confirmou.

— Então perguntei: — Ele falava alguma coisa, Pedro?

         — Não doto. Um silêncio absoluto, muitas vezes um respiro mais forte de cavalo quebrava aquele sossego.

         O Pedro sentiu-se molestado porque não queriam acreditar. Devia ter metido bala. Estava magoado, mas era um chefe, não se injuriou, ofereceu a saideira da pinga, quando o Zé brincando disse:

— Saúde gente! Deus me livre do Saci do cumpadre Pedro.

             Esta água-benta vai me benze!