SUSPENSE NA SAÍDA DO CLUBE AP.
OSWALDO
ROMANO
Vários amigos do Clube Alto de
Pinheiros se comprometem com o carteado. Para eles, as quartas a noite são
sagradas. O pôquer toma conta da sala. Fala-se que é para distração, não
adianta, o vício está plantado ali. Costumo falar que o único que se distrai
sou eu, destacado para fazer o fechamento, e nos fins de semana os pagamentos.
Sobrou-me esse trabalho que absorvo fazendo elogios e críticas. É um jogo de habilidade contando com trinta por cento de sorte. Dizem que começou na China na Dinastia Sung. Mas, para nós brasileiros temos o Oeste Americano como o palco das grandes disputas. Chamado o jogo da trapaça, levado pelos franceses para uma terra quase sua, ali fundaram “Nouvelle Orléans”. E era pelo Rio Mississipi o encontro das cartas, e dos desentendimentos resolvidos pelos Smiths & Wessons, todos querendo imitar Bob Munden.
Sobrou-me esse trabalho que absorvo fazendo elogios e críticas. É um jogo de habilidade contando com trinta por cento de sorte. Dizem que começou na China na Dinastia Sung. Mas, para nós brasileiros temos o Oeste Americano como o palco das grandes disputas. Chamado o jogo da trapaça, levado pelos franceses para uma terra quase sua, ali fundaram “Nouvelle Orléans”. E era pelo Rio Mississipi o encontro das cartas, e dos desentendimentos resolvidos pelos Smiths & Wessons, todos querendo imitar Bob Munden.
Na quarta passada, tudo corria normal o
jogo terminou as quatro, saíram, uns sorrindo amarelo, outros respeitando a
perda alheia com seriedade.
Fiquei mais o tempo dos registros e
também sem alegria porque, tinha perdido um pouco. A bruxa estava solta! Sempre
tenho uma desculpa: Essa noite não foi lá essas coisas. Abri nosso armário,
tomei um gole, apanhei o meu capote, a madrugada estava fria, nublosa, garoava.
Com a falta de estacionamento no clube, que com respeito aos sócios já deveria
existir no subsolo, os carros ficam nas ruas. Nosso horário de chegar coincide
com o maior movimento das atividades. Meu carro estava estacionado depois da
quadra, distante uns duzentos trezentos metros.
Grandes árvores, rua escura,
calçada molhada. O jeito era seguir o rumo de onde estava o carro e findar a
noite. Naquela quietude conseguia ouvir o pingar dágua das folhas e sentir o
quanto eram frias no rosto. Uma ofegada respiração, segurei-a para confirmar se
era minha.
Foi quando nesse silêncio vejo na
calçada oposta uma pessoa, ela caminhava no meu ritmo, o mesmo sentido, um
pouco atrasada. Ouvi-a seu pisar macio, mas firme. Estava de capote, encapuzado,
e com frequência olhava para meu lado.
No natural senti o batimento do coração
acelerar. Ativei os ouvidos, pensando o que fazer. Sentia que seria abordado a
qualquer momento. Pensei em voltar, mas, quando sai fecharam o Clube. Correr não, não iria
conseguir, pois a idade não permitia.
Dei uma parada, sei lá como, talvez medo,
indeciso, agi abaixando-me e dobrando a barra da calça. Pensamento inquieto. Estava
enrolado.
Sem mudar seus passos ele continuou
andando. Foi um desafogo, fiquei bem mais leve, aumentava a influência do vento
úmido e frio daquela noite. Estava mais calmo. Fiquei uns quinze passos atrás, vi
mais segurança, encurtava o andar.
Foi por pouco tempo. Ele parou e virando-se
ficou atrás de uma das árvores. E minha respiração? Tenho idade, controlava o
batimento. Idade, mas forte, esportista, não podia demonstrar medo. Apoiava o
pé no tronco, amarrava seu calçado. Eu não via como mudar minha conduta. Enquanto
procurava uma saída, ele de novo caminhou.
Havíamos passado as casas, estávamos junto
aquele medonho muro da esquina. A distância entre nós ficou bem menor. Finalmente
vislumbrei o carro estacionado na travessa, não pude avançar como queria já pensando
apanhar o extintor ou a chave de rodas, coisas que me ocorreram para defesa.
Felizmente o carro estava na guia do meu lado.
Foi quando o cara também cruzou a rua e
tomou minha direção. Passos pesados. Eu apressado para abrir a porta do Jeep,
não dava certo, esqueci que era só apertar um botão. Arrepiei, ele certamente queria
o carro! Sequestro? Era só o que me faltava essa noite.
Abandonei a chave no local e fui pra
frente do capô como que examinando alguma batida, alguma coisa. Nesse momento o
arrepio foi mais forte. Sabe aquela involuntária tremida: “a morte passou por aqui”?
Foi isso que senti.
Distante uns oito metros, enfiou a mão
no casaco, tirou alguma coisa que brilhava. Continuou caminhando, aproximou-se. Levantou a cabeça e acenou um
cumprimento. Abriu seu carro que se achava junto ao meu, deu a partida, uma ré,
e seguiu seu destino.
“Quanto
mais acreditamos nos homens, mais vezes essa fé balança”.
Romano
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