Match
Point
Vera Lambiasi
O jogo de tênis do torneio feminino de
duplas havia sido marcado naquela segunda-feira invocada.
Tudo ali estava inadvertidamente esquisito,
marcando as pisadas no saibro úmido.
A bola se recusava a atravessar a rede.
Quando partia, passava dos limites da fita.
Kátia, parceira constante, perguntava-me a
certa altura :
–
O que
está acontecendo ?
–
A
bruxa está solta, minha amiga !
Respondia eu.
O lusco-fusco cegava-nos.
Bichinhos voadores ameaçava-nos
assustadoramente.
Íamos perdendo o game imprevisivelmente. E
depois o set, e vários deles.
Os saques repentinamente deixaram de
entrar. As devoluções bruscamente dirigiam-se ao fundo da quadra, sem êxito.
O terror tomou conta de nossos backhands.
Era um aparvalhamento sem precedentes.
E no vazio de um clube ermo saímos
derrotadas, inesperadamente.
Ofereci-lhe uma água de coco. Em vão, a
lanchonete já estava fechada.
Não havia viv’alma nos arredores. As
adversarias já tinham tomado o rumo de suas casas. Vangloriavam-se com a
vitória presenteada.
Desanimadas fomos nos dirigindo para nossos
carros.
Katia achou o seu, despediu-se e partiu na
noite marrenta.
Agora eu estava só, triste na escuridão.
Um uivo de cachorro bravo ao fundo. Uma
sirene disparada, gritos na esquina.
Isso não estava me cheirando bem. E meu
carro que não aparecia entre tantos outros.
Já não bastava aquele jogo infernal. O que
mais tinha para acontecer nessa noite, meu Deus ?
E foi nesse estupor de emoções que morcegos
descomunais começaram a dar rasantes na rua escura.
Estaria sonhando, murmurava com meus
botões, essa moda de vampiros pode ter me influenciado. Podem ser apenas
corujinhas protegendo o ninho.
E veio mais um, veloz como um boing 747,
aterrissando em minha direção.
Abaixei-me para salvar minha pele e poder
observar melhor.
Morceguinhos nos chapéus de sol da praia
são tão dóceis.
Esses gigantes estavam me apavorando.
Passou pela minha cabeça todos os filmes de vampiros, George Hamilton em Love
at First Bite, toda a série Crepúsculo, Os Pássaros de Hitchcock.
Me enfiei dentro da raqueteira, deitada na
calçada, para me salvar.
A cena era ridícula demais e de assustada
passei para um riso esganiçado.
A noite toda foi uma coletânea de erros
para acabar assim nessas gargalhadas.
Rastejando desajeitadamente até a esquina,
avistei meu veículo. Era aquele com o alarme disparado. O time de futebol em
peso rindo em volta dele.
E um morcegão gigantesco de controle remoto
estatelado no parabrisa!
Ô brincadeira mais besta!
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