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NOIVOS TROCAM PRESENTES - Oswaldo Romano




NOIVOS TROCAM PRESENTES

Oswaldo Romano                                           

        Alcançou a meia idade conhecendo Ivete, uma morena linda que causava muita admiração. Sérgio vivia feliz cuidando-se para que nada lhe acontecesse, pois chegou ate aqui sem problemas. Muitos foram os momentos de apreensão passados no correr da sua vida e agora recebia tamanha felicidade.

        O maior orgulho da Ivete era seus longos cabelos. Admirado por muitos, Sérgio o via como responsável pela força dos seus inigualáveis atos. A bondade de Ivete era tão grande quanto à beleza dos seus cabelos. Suas qualidades sobrepunham-se aos desejos de Sérgio.

        Sérgio questionava-se porque foi merecedor do seu amor. Era cordato, honesto, mas seu ganho dava somente para os gastos do dia a dia. Esforçava-se para agrada-la, a levava aos cinemas, por vezes num jantar mais elegante oferecia um bom  vinho.

        Ivete compreendia perfeitamente sua situação uma vez que ela também estava numa situação de sustento. Igualavam-se. Via no Sérgio um excelente companheiro, confiável, Deus não lhe deu tanta beleza visível, mas seu interior era invejável.
        Orgulhoso usava o relógio da época ganho do pai, que consistia na chamada pataca de bolso. Dizia ser um Vacheron Constantin herdado pelo seu pai do seu avô, talentoso artesão relojoeiro. Tinha adoração e o máximo cuidado com essa sua rara joia. Faltava-lhe aquela indispensável corrente de ouro. Teria sido negociada anteriormente.

        Estava chegando seu dia do noivado.

         Queria presenteá-la com algo que marcasse a data. Pensou no valioso relógio. Valioso, mas masculino. Impróprio para ela. Procurou uma casa de joias, inicialmente foi recebido com reservas, mas,  ao apresentar o Vacheron a atendente chamou o gerente. Antes que duvidassem da sua origem, mostrou fotos do avô e do pai ao seu lado, exibindo a valiosa peça.

        Esclarecido o motivo, foi-lhe dito que tinham o que ele desejava: Uma tiara cravejada de alguns brilhantes.

        —  Sr. Sergio, agora identificamos como negociar. O Senhor Paga ou recebe a diferença. Como deseja?

        — Mostre o que o senhor tem, mais ou menos equivalente. Por favor... Eu não conheço, não duvido da sua honestidade, mas vai permitir que posteriormente eu peça avaliação.

        — Tudo bem. Confie em nós. Temos quarenta anos de mercado.
Satisfeito com a negociação, levou para casa aquela que seria o merecido presente para sua noiva.
        Chegou o grande dia. Foi recebido pela belíssima Ivete vestida de longo,  um lindo turbante cobria suas orelhas lhe dando ares de princesa. Sérgio não se conteve. Pediu que fechasse os olhos,  queria lhe surpreender com  merecido presente.
        Ivete emocionada apanhou sobre a mesa ao lado, uma caixinha envolta com uma linda fita azul e disse:

        — Primeiro eu.  Veja o que comprei para você.

        — Sergio ao abri-la viu uma corrente de ouro para seu relógio. Ficou pasmado, sem fala, agora desnecessária, mas não demonstrando, trocaram  um longo abraço.

        — Ivete abrindo o estojo surpreendeu-se com aquela rica joia que prenderia seus invejáveis cabelos. Fixando os olhos em Sergio, escondendo mágoa, lentamente retirava o turbante.

        Sérgio mal se continha. Presenciava o sucesso, o  último momento da sua tão preocupada e difícil escolha.

        No rosto angelical de Ivete rolaram lágrimas, e tremula completou lentamente a retirada daquilo que lhe escondia  a cabeça.

        Repentino espanto, tomou conta do Sérgio:

        — NÃO! Meu Deus seus cabelos? Você cortou? Onde estão seus cabelos?
A mãe que a tudo assistia, disse:

        — Virou ouro. Está no grande amor de vocês.


Na conduta de ambos, não poderia haver um abraço tão emocionado como aquele que se seguiu.

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