CATANDO
MOEDAS
Oswaldo
Romano
Passear
na Europa é uma experiência deliciosa. Um desejo que nasce, e antes da viagem o
vivemos intensamente. Compartilhamos com amigos, familiares, com agencias, com
locadoras. Criamos na imaginação um filme e nos colocando como o artista
principal, vivenciamos todo instante, os
dias que precedem a partida.
Lá
chegando, rodamos nosso fantasioso filme, sempre procurando encaixar a
realidade. Entramos na Itália, descendo em Roma. Conto a visita que fizemos à
Praça da Espanha e sua famosa Fontana
Della Barcaccia. Estávamos na rua que fica em baixo, ao lado da scalinata. Subimos e ao vê-la, ficamos embriagados
com tanta beleza. Confirmava a recomendação do meu amigo, um italiano que viveu
em Roma. Ele a enaltecia a moda italiana, levantando as mãos pro céu dizia:“Una piazze piu belle, piu belle”
Lembrando-nos
da história, Roma tem centenas de fontes, a maior parte oriundas do primitivo abastecimento
de aguas, obras primas dos Romanos, para transporta-las pelos seus incríveis aquedutos.
Os princípios dessa engenharia ganharam dos Etruscos que no passado habitaram
grande parte da península.
Logo
nos acercamos da fonte, apreciando toda sua arte e efeito. Imaginamos o estado
do artista desiludido quando as aguas rasas não permitiram que sua barca
flutuasse. Por fim esse resultado ficou melhor do que o esperado. Pouco
interesse teria a torre de Piza, não estivesse tão caída.
Barcaccia,
esquadrinhando todos seus detalhes, apreciávamos as moedas luzindo nas águas da
fonte, milhares de secretos pedidos foram feitos ali, sempre com apelos à Santi Trinità dei Monti a protetora dessa
praça.
A Cí,
minha mulher, não deixaria passar essa oportunidade.
Tirou
da bolsa uma moeda, eu olhei era dólar, não precisava tanto... Enfim... Num
gesto azafamado, cheia de vontade e pedidos, fez o arremesso. Na mesma mão segurava
entre os dedos seu valioso óculos Viton. Ele foi junto! Foi cômico, mas
lastimoso. E agora? Falei já procurando o
jeito de resgatá-lo.
— Fique aqui – disse - não saia. Vou ver o que consigo.
Cuidado com as ciganas! Justificava a recomendação porque a praça estava
infestada delas, ladras por profissão.
Procurava
alguém, mas quando dei por mim já estava numa rua secundaria, cheia de pequenas
lojas vendendo suvenires, e havia também uma de material de limpeza. Vi muitas
latas, baldes, vassouras e... Pronto! Um vassourão, cabo longo, vermelha,
dessas de limpar teia de aranha no teto. Apressado, comprei a vassoura, eu
estava bem vestido, o dono da loja não disse nada, mas virava a cabeça, parecia
um papagaio me olhando. Sai da loja, a praça estava mais distante do que
imaginava. Coloquei a vassoura no ombro, na vertical para não atingir os que vinham
atrás.
Fazia
tempo que eu não era tão admirado! Como me olhavam!
Chegando,
minha mulher caiu numa contínua e alta gargalhada. Eu que vinha com o humor
balançando, perdi a fúria, acompanhei-a. Bem, cessados os ânimos, olhei em
volta ninguém olhava pra nada, só para nós dois! Dei aquela risada amarela, ajeitei o boné e
com aquele cabo comprido fui puxando óculos, as moedas vinham junto, escapavam
de lado, eu a vassourava de novo, insistia.
Dos presentes, que eram muitos, os que sabiam torciam pelo meu sucesso, os que
chegaram depois, pensavam: O que esse pazzo (louco) está fazendo? Rapina (rouba) as moedas?
Finalmente,
salvei o super óculos Viton. Uns... Puxaram palmas. Minha mulher perguntou:
— E agora, o que você vai fazer com essa vara?
— Só
olhei para ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário