(Imagem trazida do site: www.linkes.com.br)
O ESPELHO
Mario Augusto M. Pinto
FALAR COM A SUA IMAGEM REFLETIDA EM UM
ESPELHO.
É dificultoso falar com sua própria imagem
refletida em um espelho; ao mesmo tempo em que é bom: ajuda buscar e a
encontrar soluções para uma enormidade
de problemas e situações simples ou complicadas, pessoais ou de outros, de
ajuda ou desaprovação de terceiros.
Faço isso – ás vezes – pela manhã ao me
barbear enquanto escuto músicas, aquelas ouvidas nos consultórios de médicos e
dentistas. Minha mulher já me viu em algumas dessas falas e sempre me faz o
sinal de maluco com os dedos. É o preço que pago por esse hábito.
Outro dia estava no Rio e só consegui
passagem de volta a São Paulo pela Ponte Aérea das 4hrs da tarde. Aproveitei
para ir almoçar e no caminho encontrei-me com o Alarico, meu colega de colégio.
Foi uma alegria só! Falamos sobre nossa
vida no colégio, sobre nós mesmos e outras coisas. Foi muito bom recordar
aqueles anos. Notei que durante toda nossa conversa ele aparentava estar
constrangido. Após o cafezinho, enquanto esperávamos a conta tomei coragem e
perguntei se havia acontecido alguma coisa desagradável. Para meu espanto respondeu sem titubear:
-É que minha mulher teve um caso com um
nosso amigo de muitos anos.
Vamos nos separar e estamos buscando uma
solução, sendo que a ultima é o divorcio por causa dos filhos e netos. Na
verdade não sabemos o que fazer.
Não sabia o que dizer e fui salvo pela
chegada da conta que fiz questão de pagar. O Alarico imediatamente agradeceu,
disse ter ficado contente com o encontro e se despediu apressadamente. Fiquei
aborrecido.
Quando cheguei em casa contei para a Irene
e ela disse:
-Deixa pra lá, é problema dele. Esquece e
vem pra cama.
Custei para pegar no sono e acordei com as
palavras do Alarico ecoando nos meus ouvidos. Mesmo ao me barbear ouvia as
palavras dele. Olhando o reflexo do meu
rosto no espelho perguntei:
- Depois de passado tanto tempo será que
posso ajudar o Alarico?
- Claro que não. Não há intimidade para
isso. Não se meta. Mas, disse minha imagem, o que Você faria se fosse o seu
caso?
Isso foi como um soco na boca do estomago.
Fiquei sem fala. Aí me lembrei da pergunta que fez um colega de trabalho numa
roda de perguntas e respostas: o que é que faríamos ao saber que nossa mulher tinha um caso.
- Acabo com a raça do cara, foi a minha
resposta.
-Machão! Aí todo mundo vai ficar sabendo,
falou minha imagem. Você passa a tocar corneta, seus filhos vão sofrer em casa
e na escola, sua mulher vai embora, Você vai preso, é processado, condenado,
vai pro xilindró e se tiver sorte pode
não virar noiva de algum “colégua” de cela. .Além da separação, a partilha dos
bens, alimentos mensais, honorários de advogado, custas processuais e “otras
cositas más”. Isso certamente acontecerá.
É o que Você quer?
- Puxa vida, disse para minha imagem, nunca
pensei em nada disso.
-Pois então pensa, escolhe a solução bem
pensada e uma alternativa. Não diz nada pra ninguém. É prevenção. Se puder,
trata da vida de leve... Pensa no que ela faria descobrindo que Você tem ou
teve um caso.
Acontece que desde então fico com um pé
atrás preocupado com o assunto e desenvolvi um ciúme louco da Irene. Não posso
ver a Irene falar com algum homem que lá vem perguntas:
-Quem é esse cara? Será que é com ele? Se
for, o que faço? Vou lá e me meto na conversa?
Até hoje acho ruim e não gostei de ter
encontrado o Alarico.
Mario Augusto Machado Pinto. Fev. 2.013.
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