Desabafo
Christiane Lopes
17.07.07
Nunca mais quero a verdade pairando agressiva sobre
minhas utopias, nunca mais quero o sorriso árduo de encarar os fatos, o
passado, a verdade nua e crua se derretendo sobre meus sonhos, minhas
esperanças, meu amor. Por que é tão difícil encarar o passado e alguns
acontecimentos? Por que não ficamos com o que nos parece e insistimos em despir
os sonhos, vasculhar nos desejos, cutucar na alma do que já fomos? Eu me sinto
como se a verdade tivesse me colocado em um pesadelo, parece que a realidade
abriu as portas e deixou entrar uma atmosfera insólita, quase irreal...Preferia
continuar com a falsidade dos meus sonhos do que encarar a face seca e pesada
dos fatos. Não sei, acho que meu passado me condena...Trás até mim alguns
discursos e idéias que eu não gostaria mais de participar, acho que não sou
mais cúmplice de mim mesma, queria voltar a um tempo onde eu não sabia tanto,
não perguntava tanto, não estava tão aberta aos desafios, as diferenças e as
verdades de cada um. Como é difícil sustentar o que pretendemos ser, como é
sedutor negar o que fomos, dissemos e defendemos e tentar, talvez, se refazer
em alguém mais simples, mais óbvio e menos curioso. Ah! Se eu pudesse voltar
atrás e não ter perguntado e nem investigado e nem me colocado disponível as
verdades; como eu gostaria de dormir o sono tranqüilo de quem desconhece a
verdade, de quem ainda se ilude com a simplicidade da vida. Não, decididamente
a verdade não foi feita para ser dita...a verdade de cada um a cada um pertence
e deveria ser mantida em segredo.
Parece que tudo se transfigurou e de repente o ar
está pesado, os dias estão longos, a solidão e a incomunicabilidade paira entre
as bocas e os olhos acesos.
Quanto tempo eu fiquei sonhando, tentando acreditar
que buscava fantasmas no dia, no entanto, era noite e os fantasmas estavam,
realmente, pairando nas minhas costas.
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